A Entrevista
Escrevo no mesmo instante em que estou assistindo o Juiz Sérgio Moro, sendo entrevistado no programa “Mesa Redonda” da Televisão Cultura. Como se esperava está sendo uma entrevista insossa, com respostas evasivas e de pouco conteúdo elucidativo. Pudera, ele tem que se policiar para não se tornar suspeito em atuar no processo da Lava Jato.
Qualquer deslize pode comprometê-lo na presidência dos processos em que está vinculado. Acho que foi inoportuna a sua exposição na TV, bem no momento conturbado em que o Lula faz sua propaganda como candidato à Presidência da República ao arrepio da Legislação Eleitoral, percorrendo de maneira demagógica a região sul do país, e no hiato das sessões do STF, sem que o HC preventivo do ex-presidente tenha sido julgado.
Emitir opiniões de futurologia e de esperança em um novo Brasil, poderia ser reservado nas folhas de suas sentenças, como fundamentos válidos e de alerta aos jurisdicionados. Dias atrás o Corregedor Nacional da Justiça, Ministro Noronha, instaurou procedimento objetivando punir uma desembargadora do Rio de Janeiro, por ter emitido sua opinião sobre uma ativista do PSOL, assassinada naquela cidade. E se quer tanto aparecer, por que não impediu a entrevista do Moro? Não discuto o papel deste no comando dos processos da Lava Jato, pois está cumprindo o seu dever ditado pela Constituição Federal.
Quanto às homenagens de corpo presente que lhe prestam, não entro no mérito porque não são dele as iniciativas e entregas de prêmios. É na sua atuação extrajudicial que ouso colocar o dedo, para alerta-lo.
O Juiz não pode e nem deve assumir um papel que não seja o de Juiz, perante seus jurisdicionados. Nem se deve levar pela opinião pública como se fosse um paladino da Justiça e o salvador da Pátria. Longe disso: o magistrado deve sempre se pautar pela discrição, evitando afagos e exposições desnecessárias. A maré não está nada boa.
É possível que coloquem a pique a nau da Lava Jato, pelo menos este é o desenho que se está traçando nos bastidores do STF. E Dai? Saindo vencedora a turma da corrupção e da propinagem, poderosas forças sabidamente raivosas do Poder, elas vão sacrificar quem? O Juiz Federal de Roraima ou do Amazonas? A sobriedade neste momento deve servir de norte, a prudência impõe regras que só os bem experientes sabem usufruir para não ser vítima dos afagos gratuitos. Juízes mais calejados e que sempre cumpriram com rigor e zelo suas tarefas de julgar, sabem muito bem sopesar o ônus da responsabilidade, com o bônus do bom senso.
O momento para o Juiz Moro é muito difícil e espinhoso, às vezes ao invés de se expor na mídia e publicamente, mais valeria ficar dentro de casa com a consciência tranquila do dever cumprido. É o que sempre se espera de um Juiz. Nada mais!
“A missão do Juiz é julgar. Não lhe cabe emitir opinião fora dos processos. Prudência, serenidade, bom senso e discrição são as virtudes exigidas para se vestir a Toga”.
Edson Vidal Pinto