A Entrevista.
Um amigo meu que não vou dizer o nome em razão do sigilo profissional por ser minha fonte confidencial das melhores informações, perguntou se eu gostaria de ouvir uma entrevista exclusiva com uma pessoa famosa para escrever minha crônica diária.
É verdade que não ando com muito assunto e arrisquei:
- Depende, quem é o entrevistado?
- O Luiz, o Luiz Ignacio!
Quando soube quem era topei na hora, não porque o entrevistado merecesse alguma consideração, mas por se tratar de um sujeito diferenciado: pois é o homem mais honesto do mundo. Logo pensei em tirar proveito e escrever algo que possa agradar os leitores.
Então minha fonte sigilosa me passou uma fita gravada que eu guardei em meu bolso. Daí nos despedimos.
Quando cheguei a meu apartamento me dirigi ao escritório, coloquei a fita no videocassete, sentei na minha poltrona preferida liguei o aparelho e ouvi:
- “Companheiro, sou um sofrido e injustiçado preso político, nordestino de nascimento que nunca comprou duplex, nem sítio, nunca fiz trambicagem com empreiteira, não tenho dinheiro algum, nem meus filhos, nem minha finada mulher e nem a mulher que estou namorando. Sou limpo de corpo e alma.
Talvez meu único pecado seja ser corintiano roxo, que os palmeirenses odeiam. Minha vida é um livro aberto: sofri acidente de trabalho, perdi um pedaço de meu dedo e fui aposentado; fui sindicalista; ajudei muito o governo militar; sou petista militante; só tenho amigos honestos: Dilma, Dirceu, Requião, Mercadante, Gleisi, Gilmar, Benedita,Sarney, FHC; sou ateu convicto e semi-analfabeto, pois gosto de falar e não leio nem gibi. Fui excelente Presidente do Brasil pois instituí o PAC, o PRAMIM, PROSMEUS, PROSFILHOS, PROTOFOLLI, PROSCOMPANHEIROS e PAQUEMQUISESSE. Para o Obama eu fui “o cara!”
Sou mais conhecido que DEUS e coroinha de Francisco. No governo só não fui Chefe da Casa Civil em razão de “forças ocultas”. Institui a bolsa para os pobres e a bolsa “Victor Hugo” para minha finada. Juro que nunca menti na minha vida, nem quando jogava “truco”. Jamais usufrui do Poder porque saí pobre do Alvorada, por isto levei na mudança uns pequenos “mimos” como lembrança de minha estadia.
Coloquei no meu lugar uma companheira séria, culta e bem intencionada. Só não sabia que ela gostava de dar “bicicletadas” no orçamento, se eu soubesse diria a ela para antes pedir um habeas corpus para o Levandoski e daí passar com a bicicleta sobre o dito cujo. Coitada perdeu o cargo.
E agora me acusam de todos os males do governo do PT, só que minha companheira está esquecida. Tudo eu, tudo eu, tudo eu! Culpa do Moro que encarnou sua ira contra mim. E pelo jeito devo ficar algum tempo onde estou. Já pedi para o Juiz de Execução Penal que me conceda a graça ao menos de uma cama de casal.
Meu casamento está próximo embora minha noiva esteva longe: lá em Foz do Iguaçu. Repito: sou um septuagenário inocente, inocente e nada mais do que inocente. Tenho dito.”
E acabou a fita. Só então me dei conta que não era uma entrevista mas a gravação de um monólogo. Senti-me usado pelo meu informante que com certeza fez uma brincadeira comigo. Escrever uma crônica sobre o quê? Tirei a fita do videocassete e joguei a mesma no cesto de lixo.
E sem nada para escrever resolvi parar por aqui. Fico devendo coisa melhor. Estou é com sono depois de ouvir uma gravação sem graça. Acho que vou dormir. Boa noite!
“Com tanta coisa acontecendo diariamente no país e no mundo, só mesmo por brincadeira ouvir um monólogo falado pelo Lula. E escrever sobre o seu conteúdo é pura perda de tempo. Será que tem alguém que queira ler? Tenho sérias dúvidas. Você, não?”
Edson Vidal Pinto