A Era do Rádio
Para quem vivia no interior do estado no tempo que não existia televisão o rádio era o companheiro de todas as horas e a única forma de distração. E se o rádio ligado em tomada elétrica era difícil de ter uma boa recepção imagine um pequeno rádio de pilha, portátil, com uma antena diminuta que servia mais para enfeite porque sua utilidade era mínima.
Nas andanças pelas diversas comarcas, nas décadas de sessenta e setenta do século passado, o meu pequeno rádio portátil da marca Nacional que comportava quatro pequenas pilhas “Everedy” só funcionava mesmo no período noturno, na faixa AM, quando era possível sintonizar as Rádios Tupi, Globo, Nacional e Mairink Veiga do Rio de Janeiro e Rádios Tupi e Bandeirantes de São Paulo porque eram emissoras de longo alcance com uma programação variada de notícias, música e futebol.
Era muito bom ouvir “O Programa do Colli Filho” com um repertório de músicas da jovem guarda, bossa nova, música popular brasileira, boleros, tangos e grandes sucessos americanos. Uma seleção de bom gosto e apresentação impecável. Contudo no período do dia o rádio portátil só servia de enfeite porque a emissora local (onde existia) era intragável e só tocava música caipira.
Tal qual os dias de hoje. Quando acadêmico de direito eu trabalhei na Consultoria Geral do Estado (atual Procuradoria Geral do Estado) e por um ano acumulei meu serviço como locutor da Rádio Colégio Estadual do Paraná (hoje Rádio Educativa do Paraná) e apresentava os programas “Nós e a Tarde” (aos sábados) e “Festival Phillips” ( no início da noite ) onde também trabalhavam os saudosos Luiz Ernesto e o Cavalcanti.
Logo depois desisti do rádio para voltar toda a minha atenção ao Curso de Direito. Mas nunca esqueci do tempo em que as emissoras ofertavam o que havia de melhor para entreter as pessoas, como as inesquecíveis novelas “O Direito de Nascer”, “Zingara” e outras, o programa do Arthur de Souza “ Revista Matinal”, ao meio dia era levado ao ar “ Jóias Musicais” com Leal de Souza e no domingo de manhã o programa preferido era “Relembrando” com Sérgio Fraga, todos da seleta programação da Rádio Clube Paranaense a famosa PRB2 ; era muito bem ouvido o programa “Cacharolete - O Clube do Rock” apresentado pelo inesquecível William Sade e “A Baiúca do Xiló” com Paulo César, ambos na Rádio Independência; o programa “Ponta de Safira” com Haroldo Lopes e Jamur Júnior era apresentado na Rádio Cultura; os comentários diários “A Vista do Meu Ponto” de José Wanderley Dias, o programa de auditório de Mário Vendramel e “O Jornal da Meia Noite” na voz inconfundível de Ivan Curi faziam parte da programação da Rádio Guairacá (“A voz nativa da terra dos pinheirais”); na rádio Cruzeiro do Sul o âncora da programação matinal ficava na voz empostada e inconfundível de João José de Arruda Neto (o J.J.); e na Rádio Colombo tinha um programa imperdível chamado “Varig é a Dona da Noite”.
Foram estas as reminiscências pinçadas de minha memória se é que não fui traído por algum equívoco, mas com certeza declinei nomes que fizeram história na radiofonia paranaense quando o radio reinava absoluto num mundo em que a moderna tecnologia ainda estava distante.
Num tempo em que o programa “A Voz do Brasil” retransmitido todos os dias úteis as 20:00 horas era sintonia obrigatória dos marujos em alto mar e pilotos da aviação, para obterem orientações sobre o tempo e sinalização exata de seus rumos. Tal a importância do radio para os ouvintes e empresas que veiculavam propagandas de seus produtos para alcançarem um maior número de cientes.
Enfim foi o ícone de uma época que ainda teima em sobrevir apesar da falta de bom gosto de seus atuais proprietários e de uma programação feita sem nenhuma criatividade e capricho …
“O radio apesar do cinema e da televisão tem sobrevivido apesar de muito mal aproveitado. Com exceção do futebol e do noticiário as programações são lastimáveis. É muita ladainha e música várzeana. Falta direção e criatividade. É pena porque o melhor ficou para trás.”
Édson Vidal Pinto