A Festa Continuou.
Ontem, 05 de março, domingo.
É bom demais quando o livro é bom e nos transporta para o mundo do conhecimento. Terminei de ler "Paris A Festa Continuou", de Alan Riding, Editora Companhia das Letras, um relato da vida cultural francesa no período da ocupação nazista dos anos 1.940 A 1.944.
O autor descreve com detalhes e nomina os grandes artistas e escritores que viveram na França ocupada no período da 2a Guerra Mundial, com os alemães adotando a política de dar espetáculos ao povo para tornar menos conflituoso o domínio sobre a França.
Época em que Paris era o polo convergente dos grandes artistas como Matisse, Picasso, Rodin, Camus, Rochelle e tantos outros escritores, filósofos, pintores, produtores de cinema, escultores, poetas, atores, cantores e de casas de espetáculos que faziam a efervescência cultural da Europa. São neste cenário de criação humana que o livro descreve o cotidiano da ocupação, as implicações geradas pela censura imposta àqueles que resistiram à invasão e a licenciosidade com que tratavam os colaboracionistas.
Nos quatro anos de ocupação nazista a capital francesa teve mais produções artísticas e as companhias cinematográficas produziram mais filmes do que em outros tempos. Os teatros funcionavam todas as noites com lotação total. Paris estava em permanente festa, parecia que a guerra estava em outro mundo. A perseguição aos artistas e ao povo judeu foi pouco comentada.
E com a libertação da França vieram os julgamentos dos Tribunais Judiciais e dos Tribunais Políticos penalizando os colaboracionistas, foi o período de caça às bruxas. No livro estão relacionados os nomes de todos os artistas que foram Julgados pelas suas atuações no período da ocupação e suas respectivas sanções. Valeu a pena ler e saber como os alemães influenciaram a vida dos franceses e dos artistas que faziam de Paris o palco de suas vidas e tema para suas inspirações.
Para quem gosta de História é um prato cheio. Para não perder o sabor do livro vou lembrar apenas um pequeno trecho que o autor conta e que envolveu o grande Picasso. Como é sabido, Picasso era espanhol e vivia em Paris porque tinha fugido da Espanha, porque na revolução espanhola ele tinha lutado contra o Franco que acabou ganhando a guerra.
O seu atelier em Paris era nas proximidades do Rio Sena e de quando em quando recebia Oficiais do Exército Alemão que lhe procuravam para adquirir suas pinturas. Picasso era um artista consagrado na época.
Em uma dessas visitas um Marechal de Campo do Exército de Ocupação deparou com o famoso quadro do pintor, que ele acabara de pintar e tinha denominado de "Guernica" onde retrata um ataque aéreo de pilotos alemães contra um grupo de resistentes contra o General Franco, na Revolução Espanhola que contou com a ajuda explicita do Governo Alemão.
O quadro mostrava o massacre pela desproporção de armas. O Marechal olhou o quadro e disse para Picasso:
- Você fez isso?
E o artista sem titubear respondeu:
- Eu não! Foi você quem fez!
O quadro atualmente está exposto no Museu do Prado, em Madri. O curti diálogo foi uma passagem antológica dentre outras dezenas delas retratadas no livro.
Sei que cada pessoa tem gosto diferente para leitura, mas vale a pena ler o livro em comento. Espero que esta crônica tenha ao menos despertado o interesse para uma boa leitura.
Afinal, se não for para adquirir a obra pelo menos espero que esta leitura despretensiosa tenha se prestado para tornar mais agradável o seu domingo. Até amanhã.