A hora de repensar o que vender
Em tempo de pandemia não existe quem não esteja preocupado com o próprio futuro. Tantas notícias ruins que é difícil não pensar no emprego, no modo de ganhar o pão de cada dia, para poder sobreviver e manter a família. A economia está em frangalhos, a bolsa de valores, a moeda virtual e o valor do dinheiro de um modo geral parecem uma bomba de efeito retardado que ninguém sabe quando irá explodir.
Mas a principal dúvida continua sendo o emprego; não importa que seja funcionário público, empregado com ou sem carteira assinada, nem profissional liberal, porque todos estão no mesmo balaio. Absorto e pensativo fiquei imaginando qual ou quais as melhores profissões neste cenário de crise. Foi quando tocou a campainha da porta da frente e eu fui atender:
- Boa tarde.
- Boa tarde. Pois não?
- Sou vendedor da “Porta do Céu” ...
- ?
- É uma empresa que vende desde terreno em cemitério até caixões de defunto, a vista ou a prazo até 36 vezes. O Senhor está interessado?
Eu rapidamente pensei com meus botões: “Taí um emprego supimpa para o cenário do Covid 19”. O de vendedor.
- Alguém indicou meu nome? - perguntei curioso, antes de responder.
- Foi um amigo seu de nome Aldo, um sujeito bem mais velho do que o senhor, ele disse que o negócio lhe interessaria por causa do vírus ...
Claro que não quis ouvir mais nada e sem muitas mesuras fechei a porta e deixei o vendedor do lado de fora. E logo pensei, o vendedor não foi habilidoso para entabular a venda, mas os produtos ofertados são bem próprios para o momento. Sem dúvida muito bons para serem vendidos. Interrompi meus pensamentos com o som da campainha tocando:
- Pois não?
- Boa tarde. O senhor não quer comprar um lote de terreno em Marte?
- Marte? No planeta?
- Sim!! Temos ótimas ofertas a preços bem acessíveis; e o principal: bem longe do coronavírus!
Putz, respondi que não tinha vontade de comprar nada e muito menos em um lugar tão longe. Vi que o rapaz ficou murcho com a minha resposta, mas mesmo assim arriscou dizer uma última frase:
- Mas a NASA vai inaugurar a linha do ônibus espacial em 2.026, por favor não perca a oportunidade ...
Com a porta fechada passei a refletir: eis ótimos produtos para vede na o crise. Morar em outro planeta longe da poluição, do PT, da mamona assassina, do Imposto de Renda, da OMS e da TV Globo até que não é um mau negócio. Tudo dependerá de um marketing bem feito e um vendedor mais traqueado. Trim, trim, trim. E novamente a campainha da porta da frente tocou. Fui atender e era uma moça loira, olhos azuis, voluptuosa, transpirando jovialidade:
- Muito boa tarde.
- Muito boa tarde...
- Sou revendedora “Jequiti”, vendo perfumes ...
- Ótimo. - respondi. - Por favor pode entrar.
Ela passou deixando para trás um rastro de péssimos pensamentos, diria pior até que o catastrófico vírus chinês. Ela sentou no sofá, abriu a sacola e mostrou vidros e vidros de perfumes de todas as formas e nomes. Foi quando então lhe perguntei:
- Já pensou em vender caixão de defunto?
Ela me olhou espantada, e eu prossegui:
- E lote de terreno no planeta Marte?
A moça arregalou os olhos, assustada e atônita com minhas perguntas.
- Não, calma, não estranhe minhas perguntas. É que perfume não é o melhor produto a ser vendido em plena fase aguda do coronavírus.
- É mesmo. - Para minha surpresa ela concordou.- A venda tem sido sofrível ...
- Porque o momento é outro, você está entendendo?
- Sim, mas como posso ser contratada por essas empresas?
- Deixe comigo, tenho uma ótima oferta para lhe fazer...
- Qual?
Pensei, pensei, pensei e daí tive uma ideia modestamente “genial”. 0lhei nós olhos da moça e perguntei:
- Não quer vender “burca” unissex para proteger as pessoas do vírus?
- O senhor é alfaiate?
- Não...
- Estilista?
- Também não, mas conheço umas costureiras que pode fazer esse modelo de roupa, para você vender.
- Eu? O senhor acha?
- É claro; com sua beleza e jeito de uma vendedora sensual vender “burca” sem dúvida será uma mina de ouro, pois ninguém vai recusar sua oferta!
E foi assim que iniciei meu novo negócio. Você poderá fazer o mesmo para sair do sufoco financeiro. Basta usar a credibilidade e dispor de uma ou várias vendedoras esbeltas, de nariz e tudo mais perfeitos para oferecer os produtos de casa em casa.
Só não adiantará nada se sua mulher for ciumenta e proibir você de contratar revendedoras sem charme e nem “estampa”. Ou você acha que meu negócio estaria dando certo se eu tivesse contratado a Marina ou a Maria Louca para sair vendendo “burcas” de casa em casa?...
“No momento de crise é importante usar a criatividade. Quando não dá para ser empregado a saída que resta é ser dono do negócio. Nesta última hipótese saber contratar “bons” vendedores é a fórmula do sucesso. Pois os olhos do freguês são sempre os melhores compradores. Principalmente se o seu negócio é vender “burcas”!”
Edson Vidal Pinto