A Lapa do Meu Tempo de Guri
Sendo filho de mãe lapeana, avós maternos e tios, além de ter residido naquela cidade e ter sido seu Promotor de Justiça, é claro que guardo mil recordações desde meu tempo de guri e depois adulto e casado. Meu falecido pai Bernardo Vidal Pinto foi tesoureiro do Sanatório de São Sebastião, localizado logo após a serrinha do distrito de Mariental, tendo residido com a família em uma das casas construídas na entrada do terreno do nosocômio, estabelecimento reservado para a cura de doentes tuberculosos. Depois que mudamos para Curitiba viajar até a Lapa era passeio obrigatório, principalmente nas festas de São Benedito, onde eu vestido com uma opa da congregação participava do cortejo religioso para pagar promessa que minha mãe sempre fazia. Embora o patrono da cidade seja Santo Antônio o santo devoto dos habitantes é São Benedito, o negrinho milagroso que teve uma vida de humildade e protetor dos menos favorecidos. Ele também é meu santo de coração e predileção. Naquela época dos festejos meus pais, eu e minha irmã ficávamos hospedados no Hotel Zappa (cujo proprietário era o genitor do des. Sidney Zappa que foi Presidente do Tribunal de Justiça) localizado do lado direito da Rua das Tropas, onde a RVPSC tinha montado uma plataforma rotatória móvel que fazia a Maria Fumaça e seu pequeno vagão de lenha virarem de direção, vez que a linha férrea terminava naquele ponto, há poucos metros de distância da estação de trem. O curioso era que a população desde então queria mudar a estação férrea para bem distante do centro, segundo os entendidos para expandir
a cidade. Ledo engano. Hoje a estação férrea está fora do perímetro urbano e a Lapa não conseguiu “chegar” até ela. Na fase adulta morei pela segunda vez na Lapa em 1.968 quando era Promotor Substituto da Comarca, na casa do Sr. Odorico Prestes e da d. Leocadia onde também funcionava a Coletoria Estadual de Rendas, um casario situado na frente da porta do antigo fórum. La cheguei meses antes da eleição municipal quando foi eleito prefeito o sr. Sérgio Leoni, colecionador de carros antigos, filho do médico dr. Pedrito e da d. Alice, esta senhora anos depois que retornei à Lapa foi uma amiga querida de minha mulher. Nesta ocasião foi a terceira vez que morei na cidade como Promotor de Justiça, com mulher e um filho mais velho, em uma pequena casa de material localizado na rua Cel. Eduardo Corrêa , fundos da Igreja Matriz de Santo Antônio. Para distrair e compartilhar da alegria de nosso filho primogênito nos finais de semana íamos até o Monge, uma pedra que atraia turistas porque tem um piscina natural, bloco de granitos em forma de caverna onde morou o eremita místico João Maria, e um descampado onde numa raia havia corrida de cavalos. Outra diversão era passear num Jeep que corria sobre a linha férrea, dirigido pelo engenheiro Cassou, Chefe da trecho ferroviário, percorrendo longos trechos e aproveitando o panorama da região. É claro, não faltava, passear de carro até o Sanatório, para ver as criações de galinhas, cabras e leitões que divertia e empolgava nosso rebento. No fórum tradicional (antigo) fiz muitos júris e um deles que não esqueço foi de um noivo que matou a noiva com uma facada no almoço do casamento, na presença de familiares e amigos. Nenhum advogado da cidade quis defender o réu, por isso, a Seccional da OAB-Paraná, designou os advogados Dalio Zippin Filho e Lúcio Di Pino Neto, ambos de Curitiba, para atuarem como defensores. No primeiro e no segundo júri eu fui o Promotor e o acusado foi condenado a 27 anos e três meses de reclusão. Anos depois em Curitiba, todas as vezes que eu encontrava o saudoso Dalio ele fazia questão de lembrar daquele júri por ter sido um crime inusitado, sem chances para qualquer advogado de defesa. Quando deixei a comarca da lapa para assumir Siqueira Campos eu e minha mulher recebemos a melhor homenagem de seus habitantes, quando fomos agraciados com um jantar de despedida no Clube Lapeano, com as presenças de autoridades e dezenas de casais. No evento falou em nome dos presentes o advogado David Wiedmer Neto, notório escritor e literato. Lá deixei queridos amigos e carrego comigo muitas lembranças e saudades de membros das famílias Weinhardt, scandelari, Montenegro, Leoni, Prestes, Luís Lacerda, Braga, Kalled e Assad, gente que honra o nome que tem e quando dá a palavra em algum compromisso de negócio nem precisa assinar nenhum documento…
“O lapeano não é extrovertido, fala o necessário, tem modos comedidos, trata todos com urbanidade, mas é muito bom de briga. Honra seus compromissos e zela pelo nome de família. É um amigo para toda a vida, mas um inimigo, também.”