A Lembrança da Neve!
E quanto mais o natal se aproxima aparecem as tradicionais figuras do Papai Noel e do seu trenó cheio de presentes, puxado pelas suas renas domesticadas, num cenário de muita neve.
Como moramos num país tropical é claro que a cena foi retratada no Natal dos outros, não do nosso, pois aqui faltam poucos dias para a chegada do verão com suas altas temperaturas. Evidente que o “bom velhinho” não suportaria usar sua pesada indumentária sob um sol a pino, pois com certeza teria que ser internado em um hospital acometido de insolação.
Mesmo assim a imagem dele na neve é a que levamos conosco por toda nossa vida. Cabem aqui uns parênteses: não parece meio estranho nestes últimos dias certo friozinho na despedida da nossa primavera, principalmente na noite curitibana? Pois, é. E foi ligando uma coisa com a outra que me veio à lembrança da neve em nossa cidade -, um espetáculo da natureza que empolgou e ficou marcado na nossa história apesar da nossa Capital ser a mais fria do país, porém sem os flocos brancos e úmidos da neve “lá de fora”.
E pensar que foi há quarenta e quatro anos atrás, precisamente na manhã de dezessete de julho de mil novecentos e setenta e cinco, que a neve começou a cair e modificar a vida de nossa população, extasiada com o fenômeno que assistia e que não acreditava que pudesse acontecer depois de tanto tempo. Lembro que era o mês das férias forenses, que na época era coletiva, e eu estava com minha mulher e nosso único filho Luiz Gustavo, hospedados na casa de minha saudosa sogra, na Avenida Iguaçú quase esquina com a Rua Brigadeiro Franco.
E na medida em que os flocos brancos se multiplicavam a primeira preocupação foi ter às mãos a máquina fotográfica. Sim, era necessário registrar o fato para a posteridade, pois sabe Deus quando a cena poderia se repetir. E a iniciativa foi minha de colocar o filme de trinta e seis poses na máquina fotográfica e depois entregar à minha mulher, por ser a mesma melhor fotógrafa do que eu, que logo começou a tirar fotos de tudo que via para o nosso álbum de família.
No jardim da residência foram inúmeros instantâneos, inclusive com meu filho super agasalhado, pois sempre estava sujeito às crises de bronquite. Mas como não deixar de registrar o nosso guri na neve? Em poucos minutos chegou minha cunhada com a família para compartilhar daquele momento inusitado, com meu concunhado carregando sua máquina fotográfica nas mãos.
E como minha mulher estava empolgada em fotografar, ele tirou poucas fotos, pois me comprometi mandar revelar as fotografias de minha máquina em duplicidade, para lhe presentear. Ele concordou e guardou sua máquina fotográfica. E quanto mais a neve caia mais minha mulher fotografava, ora a família, ora o jardim, a casa, ao longo da Avenida Iguaçú, a vizinhança em festa, o ônibus que passava, as árvores e a própria neve caindo. Foram momentos mágicos e quase perfeitos. Sim, quase perfeitos porque as únicas fotografias da família cercada de neve de todos os lados foram àquelas poucas tiradas pela câmera fotográfica do meu concunhado Gilson Gomy de Ribeiro.
Pois na correria e nervosismo de retratar aquelas cenas inusitadas da neve em Curitiba entreguei a câmera para minha esposa, mas esqueci de tirar a tampa de plástico que protegia o visor das lentes, portanto, quando o filme foi revelado só apareceu a “neve” preta...
“Flocos de cristais gelados caindo na nossa Curitiba como um cenário de contos de Natal; a população foi envolvida pela alegria do acontecido. Foi a neve da nossa cidade. As fotografias registraram o fenômeno e o fato é comentado até hoje. Lembrei daquele episódio porque no finalzinho de nossa primavera tem soprado um vento frio no adentrar da noite. Será que vamos ter um Natal de verdade? Sim, com neve?”
Edson Vidal Pinto