A Psicologia do amor
Como sempre digo o domingo é dia para jogar conversa fora e escrever amenidades, pois ninguém usufruindo do ócio gosta de leitura rebuscada e de um texto para raciocinar. Hoje, estou pensando: como o tempo voa pois num piscar de olhos a longa estrada da vida vai encurtando, e a estação da parada final do trem da existência chegando ao fim. No último dia 19 de dezembro minha mulher e eu comemoramos 53 anos de casados, sendo que de quando em quando lembramos alguns episódios que nunca esquecemos, das peraltice de nossos dois filhos na idade própria de suas adolescências, dos parentes e amigos que nos são caros e muitos que apenas vivem em nossas lembranças. Minha sogra (viúva) só permitia o casamento depois que minha noiva terminasse o Curso Normal do Magistério, do Colégio Sagrado Coração de Jesus. Meus sogros levavam as duas filhas desde que elas eram pequenas apenas para o Balneário Camboriú, uma praia de pouco agito e que era frequentada apenas nos meses de janeiro e julho, quando as famílias aproveitavam das férias escolares, para os períodos de lazer. Não eram muitos curitibanos que frequentavam aquela praia, localizada no vizinho estado de Santa Catarina, muito mais distante do que as nossas praias e uma estrada muito ruim, de macadame e conchinhas. E quando chovia era muito barro e alagamentos com alguns rios transbordando sobre o leito da rodovia. O único hotel da cidade era o “Fischer” e nele meu sogro hospedava a sua família o mês todo. Ele faleceu dias depois de minha namorada (na época) ter completado quinze anos, um namorico da moda antiga. E casamos aconteceu no dia 19 de dezembro de 1.970, dias depois da minha garota concluir a graduação de professora. Eu era Promotor de Justiça da Comarca de Jaguapitã, localizada no região norte, entre as cidades de Rolândia e Porecatú. A Rodovia do Café (Rodovia Ney Braga) estava sendo asfaltada, mas para Jaguapitã não tinha asfalto e sim macadame, com muito pó nos dias de sol e lama quando chovia (havendo necessidade de colocar corrente nos quatro pneus do carro para não deslizar fora da estrada). Minha mulher não conhecia nenhum cidade muito longe de Curitiba e nem sabia que casa eu tinha alugado para nós morarmos e como ela estava mobiliada. Noivado das antigas. Jaguapitã era uma cidade que economicamente empobreceu com a liquidação extrajudicial do Banco da Lavoura, uma instituição fundada por empreendedores do local, embora tivesse grandes fazendas de café no município. E casa para alugar era um artigo de luxo. Felizmente consegui uma, cujo locador era um português Sr. Manuel que residia na casa do lado, também era dono de uma Araponga, um pássaro de grito estridente e irritante. A casa alugada tinha uma grande vantagem, pois era de material, com uma pintura interna e externa sofrível, mal dividida, com cômodos pequenos, localizada numa rua de pó ou areia, com a vantagem que tinha um quintal enorme repleto de árvores frutíferas. A garagem para o automóvel ficava nos fundos e para chegar até ela tinha que passar sob um imenso parreiral de uvas pretas. Acomodei os móveis como deu, tudo muito improvisado aguardando s chegada da dona da casa. É claro que suei frio antes da minha esposa conhecer a nossa casa porque não sabia qual seria a sua reação, pois eu tirara ela da casa da mãe com todo o conforto, para morar numa casa desajeitada numa pequena cidade do interior. E depois da viagem de lua de mel chegou o momento de viajarmos para Jaguapitã. Eu tinha um Volkswagen, sedan, semi-novo, que estava entupido de bagagens e com muita fé e amor nós dois enfrentamos a estrada para chegarmos num mundo novo. No trajeto fui pensando como fazer para minha mulher não se decepcionar com a nossa casa, eu tinha que usar de psicologia. E foi o que eu fiz.
Quando chegamos na cidade parei na frente de uma casa de madeira, sem pintura, apenas com uma porta na frente e uma janela, que estavam fechadas, e disse:
-Meu bem, esta é a nossa casa!
Ela olhou meio espantada, deu uma sorriso de leve, olhou para mim e para o barraco e respondeu:
-É, chegamos…
Foi neste momento que a janela da casa abriu e nela apareceu uma senhora com uma criança nos braços, por certo curiosa por ter ouvido o motor do meu carro, parado na frente da sua casa.
Foi quando então falei:
-Estou brincando, não é não a nossa casa!
Daí, dirigi por umas três quadras e parei na frente da casa que eu tinha alugado:
-Essa é a nossa morada!
Minha mulher então deu um sorriso e achou a casa mais bonita de toda Jaguapitã.
E foi assim que nossa vida em comum começou, com muita psicologia, muita mesmo…
“Penso quantos de minha geração casaram com moças de família bem constituída, que moravam com todo o conforto, para depois de casadas enfrentarem uma vida bem diferente. Seja na mesma cidade ou não era, uma aventura e tanto. Hoje não são executivas, médicas, advogadas ou universitárias, mas , sim, donas de casa. Eis um título nobre para mulheres vencedoras e com fibras de aço.”