A Rainha do Mundo
Não sou monarquista mas avalio o quão importante para os povos de tradição monárquica são as famílias de sangue-azul que representam no contexto mundial parcelas de suas soberanias. Entre Reis e Rainhas comprimidos numa sociedade de poucos soberanos e rigidez protocolar, cada um deles submetidos às conjunturas de um mundo cada dia mais informal e anárquico, continuam se equilibrando numa linha tênue para manter a tradição e o parcial comando estatal.
São bem poucos os que detém o poder absolutista pois na maioria impera a forma de governo parlamentarista, onde o soberano reina e o primeiro ministro governa. E dentre estes aristocratas ninguém é mais lembrado do que a Rainha Elizabeth II da Inglaterra, não apenas pela longevidade mas principalmente por ter contribuído diplomaticamente para mudar a geopolítica mundial quando permitiu que seu antigo império fosse fraccionado sem perder o trono. Mulher, mãe, avó e bisavó enfrentou adversidades, traições, escândalos, guerras, guerrilhas sem nunca perder a dignidade de seu cargo e nem o lustro de sua coroa.
Na II Guerra Mundial apenas como sucessora de um trono ameaçado serviu seu exército como mecânica de veículos, ombreando-se com operários para contribuir com o esforço de guerra. Na flor da idade e inexperiente assumiu o reino inglês e nele amadureceu como uma verdadeira soberana que jamais olvidou de suas obrigações com Império, amargou crises internas e familiares sem deixar transparecer algum tipo de emoção que pudesse denotar fraqueza. Nos países que percorreu granjeou admiração e respeito e nunca deu motivo para especulações que pudessem macular sua vida privada. Bem diferente de muitos de sua família.
Visitou o Brasil uma única vez em 1.968 quando participou das inaugurações do Museu de Arte de São Paulo e da Ponte Rio - Niterói, no Rio de Janeiro. No episódio em que foi protagonista sua ex-nora a princesa Diane, experimentou momentos de turbulência quando ocorreu a separação e depois a morte, quando a popularidade foi abalada pela sua postura de aparente frieza. A princesa ganhou a preferência dos súditos que sonhavam em tê-la um dia como sua Rainha, um sonho de contos de fadas que acabou quando os ponteiros do Big-Bem marcaram meia-noite. Mas a Rainha superou aqueles momentos com aparições em publico e por um pronunciamento que fez pela televisão lamentando a morte da princesa.
E não foi apenas nesta ocasião que o império esteve por um fio, pois ocorreram ao longo de seu reinado insurreições e crises políticas internas, principalmente de ordem econômica e a praga do desemprego, que abalaram os alicerces da monarquia mas não comprometeram sua sustentação. E agora a notícia de sua morte, aos 96 anos idade, dois dias após ter recebido formalmente Liz Truss, Primeira Ministra recentemente eleita pelo Parlamento. É claro que Elizabeth II deixará um grande legado para a História do Mundo por suas performances e por ser um exemplo de mulher e soberana que reinou para todos, não só para os britânicos mas também àqueles que sonham com heróis e heroínas montados em cavalo branco, num mundo de aventuras, brasões, armaduras, tambores e estandartes…
“A Rainha Elizabeth II foi uma estadista de escol, exemplo de mulher com fibra de um gigante. O mundo perdeu sua figura mais destacada e lembrada, reverenciada e amada. Claro que foi também uma dama de ferro e contestada. Mas seu legado histórico supera, e muito, qualquer outro desabono.”
Édson Vidal Pinto