A Realidade é Bem Pior!
Pouca gente lembra, mas domingo era o dia de almoçar na casa da mãe ou da sogra. A família se reunia ao redor da mesa, entre muitas conversas e rusgas passadas, tudo num ambiente alegre e descontraído. Não faltava refresco de capilé para as crianças e cerveja feita em casa.
A comida era elaborada com carinho de mãe e de avó. O chefe de família era sempre o pai, temido e amado ao mesmo tempo, mas a mãe é que dava o suporte indispensável para a unidade de todos. Não tinha televisão e o rádio só era lembrado nos outros dias da semana, para ouvir notícias, músicas e novelas.
E na medida em que a noite ia chegando a conversava passava às narrativas do ouvir dizer.
- Sabe o Otávio, o filho do Leonidas, dono da padaria?
- Sei o que aconteceu com ele?
- Perdeu um dos dedos da mão direita.
- Como?
- Foi soltar um foguete e este estourou na sua mão!
- Coitado.
- Pior mesmo aconteceu com o Boni, um rapaz que trabalha comigo...
- O que foi?
- Caiu da bicicleta e quebrou três costelas.
- Ora, isto não é nada; o pior é perder um dedo...
- Só se ele precisar tocar violão!
E assim a conversava perdurava por um bom tempo. Ah! Não faltava nunca um “causo” de arrepiar. Era o momento em que as crianças se aproximavam para ouvir:
- O Alexandre morreu e aconteceu uma coisa sinistra.
- O que, tio? - quis saber o José, de dez anos de idade.
- Menino - repreendia a ame. - Vá brincar com seus primos, não fique ouvindo conversas dos mais velhos!
Mas não adiantavam, as crianças se afastavam um pouco, mas logo voltavam para ouvir:
- O Alexandre morreu de febre amarela, coitado, sem assistência médica.
- Por quê?
- Ele morava em Contenda, povoado próximo da Lapa, não tinha médico e morreu.
- Coitado!
- Coitada coisa nenhuma, ela depois de enterrado apareceu à noite em sua casa e puxou o pé da sua mulher, quando ela dormia!
A criançada que ouvia de olhos arregalados procura segurar as mãos dos adultos que estavam mais próximos, em busca de proteção. A conversa nunca mais era esquecida.
E pior, sempre lembrada na hora de deitar na cama para dormir. Hoje, a família dificilmente se reúne, salvo em casamento onde a música não deixa ninguém falar e nem ouvir.
Nos enterros a conversa é mais social e não faltam ótimas piadas. Terror mesmo só na TV: noticiários, novelas e filmes do gênero. As crianças já nem ligam para o pior, os fantasmas sumiram do imaginário e das conversas entre os adultos. O além e o desconhecido sobrenatural não passam de contos da Carochinha.
Medo mesmo só dos vivos, bem vivos, que povoam as ruas das cidades, os Parlamentos e entre os dirigentes públicos. Todos estes metem medo em qualquer um: os bandidos, os políticos e os governantes. Duvido que quem assista os pronunciamentos dos candidatos nos horários políticos, durmam tranquilos.
Ouvir um Haddad, Requião, Gleisi, Lula, Ciro e Boulos são dose para mamute, insônia e intranquilidade na certa. São pesadelos reais. Ah! Como era bom ouvir, escondido, as histórias contadas pelos mais velhos, no meu tempo de guri. A realidade de hoje é muito mais fantasmagórica e causa medo de arrepiar até a alma. E olha, que nem falei do Lula...
“Os fantasmas de ontem ficavam no imaginário das crianças; e os de hoje, são de carne e ossos, e atormentam a própria alma. E o pior: são os verdadeiros Cavaleiros do Apocalipse!”
Edson Vidal Pinto