A Tragédia da Fome e do Descaso.
Eu recebi do meu amigo e conceituado médico pneumologista Prof. Rodney Frare Silva via WhatsApp, o depoimento do Sr. João Rodante Rosa de Oliveira membro da Sociedade de Divulgação Espírita Anela de Souza prestado perante a Comissão de Relações Exteriores e Direitos Humanos do Senado Federal, sugerindo que eu ouvisse atentamente porque poderia servir de mote para uma de minhas crônicas.
Pois bem, ouvi com atenção a declaração prestada e resolvi tentar escrever alguma coisa que ela contém, por ser uma mensagem que nos faz pensar sobre o ódio gerado pela ideologia castradora que mata quem se atrever a contrariar os interesses de seus embrutecidos líderes.
No início o declarante esclareceu que estava acompanhado de um Padre Católico, um Pastor Evangélico e de um Mórmon, porém como só ele estava inscrito para falar tentará descrever o que todos eles juntos presenciaram e sentiram num palco de horrores chamado Boa Vista, Capital do Estado de Roraima.
O episódio aconteceu no período de carnaval quando membros da Sociedade Espírita se deslocaram para aquela capital, a fim de distribuírem três mil livros espíritas para tentar consolar os imigrantes venezuelanos que estão vivendo à míngua, porque pela leitura seria possível consolar e confortar pelo desamparo em que vivem.
Porém a situação encontrada exigia outro tipo de atendimento, pois a fome era premente e tinham pessoas em estado de inanição.
E como no grupo tinham vários médicos estes logo se puseram a atender os doentes juntamente com oficiais-médicos do exército que lá estão prestando serviços. E os demais integrantes da comitiva passaram a trabalhar irmanados com membros de outras religiões que ali desenvolvem trabalhos humanitários. Lá a palavra vida é chamada de “sopa”! Este é o alimento básico e necessário.
E assim se juntaram às pessoas que preparavam caldeirões do precioso nutriente, contudo, a quantidade é insuficiente. Pelo levantamento oficial são cento e sessenta mil pessoas fugidas porque foram perseguidas pelos soldados do ditador venezuelano.
O depoente disse que o total não chega a trinta mil, sem poder estimar ao certo o número aproximado. Porém uma coisa tinha certeza: o desespero da fome entre estas pessoas é muito grande. E citou três fatos acontecidos para demonstrar o que estava afirmando. Em uma tarde entrou em uma favela onde os imigrantes vivem agrupados, para entregar os livros que estavam fechados dentro de caixas de papelões, e viu que as pessoas não estavam se importando em receber as obras espíritas, pois não tiravam os olhos dos grossos papelões.
Depois ficou sabendo o porquê: muitos dormiam no chão e os papelões serviriam para melhor poderem deitar. Eles eram verdadeiras preciosidades para servir de conforto. Contou que em um barraco tinha uma mulher de setenta anos, que cuidava de dezesseis crianças órfãs e estava sem comer a uma semana.
Chamou os soldados que a levaram para um hospital improvisado e ela entrou em óbito. Disse o declarante que chorou e teve que ser consolado pelos militares e por seus irmãos de fé. Também encontrou um indígena venezuelano juntamente com outros integrantes da tribo e notou que o mesmo era culto e educado. Conversando este contou que era advogado em um grande escritório de Caracas e que sendo ameaçado de morte fugiu com a família para o Brasil.
E que entre os índios, as crianças e mulheres têm preferência na hora de tomarem a sopa e que muitos adultos ficam com fome. Pois não tem comida suficiente para todos. E terminou seu depoimento emocionado narrando que os ajudantes tinham terminado de servir a sopa e que não sobrara mais nada, quando viu se aproximar um rapaz, tímido e com aspecto assustado.
E como não tinha comida para servir adiantou-se e falou:
- Meu irmão desculpe-nos, mas não temos mais nada para te oferecer.
Ele no seu idioma nacional respondeu:
- Só vim para agradecer vocês pelos abraços que nos deram, era o gesto de maior solidariedade que estava faltando!
Pois é, este foi o depoimento contando um fato que está ocorrendo dentro do Brasil e a maioria do povo ainda não se condoeu com a fome e a situação destes imigrantes; não só deles, mas da fome de muitos brasileiros que vivem excluídos e de outros tantos que perambulam por nossas ruas, na frente de nossas casas. E pensar que no caso de nossa gente existem culpados com nomes e sobrenomes, uns presos e outros tentando subverter a ordem para escaparem da prisão.
Mesmo assim os mais fanáticos militantes querem que o país não saia do lugar, outros são do “contra” entumecidos por falsos ideólogos e os mais incultos se sujeitam por ignorância a servirem de massas de manobra.
O povo trabalhador, justo, cumpridor das leis e da ordem, tem que acordar e lutar o bom combate para que o governo legitimamente eleito dê certo, sem perdoar seus deslizes e nem se sujeitar ao culto de personalidade de quem quer que seja...
“Sem solidariedade não existe sociedade e nem democracia. Claro que temos nossos graves problemas para resolver; porém não podemos mais olvidar que vivemos em um mundo globalizado. Se os seres humanos não tivessem nacionalidade, idiomas diferentes, diferença de cor, credo e se não existissem divisões geográficas entre os países, talvez a fome fosse problema de todos e não apenas de alguns!”
Edson Vidal Pinto