A Verdade Nunca Revelada
Na crônica de ontem rememorei um assalto ocorrido há 34 aos atrás, na agência do Banco do Brasil da cidade de Goioerê, tendo como enfoque principal os dois bandidos que fizeram vários reféns mas acabaram sendo cercados pela polícia quando estavam dentro do banco.
Na época como diretor-geral da Secretaria de Segurança Pública fui encarregado de fazer as negociações para colocar fim no impasse criado. Como já passou muito tempo acho que agora posso contar um pouco mais sobre o que aconteceu nos bastidores e porquê os assaltantes não foram mortos quando ainda estavam dentro da agência bancária.
Como disse anteriormente fui de Curitiba para Cascavel num avião “Seneca” do governo do estado, para em seguida de Cascavel até Goioerê seguir num carro da polícia que estava descaracterizado. A intenção era evitar que a Imprensa que estava cobrindo para todo o país o assalto, não interferisse no meu trabalho.
Pois, bem, no avião além dos dois tripulantes da aeronave foram comigo o Comandante do Policiamento do Interior (PMPr.) e dois atiradores de elite, sendo um deles de um país estrangeiro que vou omitir a nacionalidade por motivos óbvios. É claro que no primeiro e segundo dia, enquanto eu mantinha conversação telefônica com os assaltantes, estes dois atiradores planejavam e estudavam a possibilidade de poder abater os dois bandidos e libertar os reféns.
E para conseguir acertar os alvos que se protegiam atrás da porta de aço do cofre forte do banco, que ficava aberta e servia de escudo, os atiradores ensaiavam a exaustão a forma correta de agir quando autorizados. Só que a ordem de autorização não veio de Curitiba.
Por quê? Porquê no mesmo dia em que cheguei em Goioerê chegou em Curitiba num jatinho do Banco do Brasil o Sr. Francelino Pereira, Vice-Presidente do banco, que veio pedir ao então governador Álvaro Dias que não queria de jeito nenhum que a polícia paranaense agisse para não colocar em risco a vida do gerente e dos funcionários da agência bancária. Primeiro porque existia contrato de seguro para o caso do dinheiro ser levado pelos assaltantes; e segundo porque o Sindicato dos Bancários havia advertido a diretoria do Banco do Brasil de que se existisse ação policial e algum funcionário da agência saísse ferido ou morto seria deflagrado na mesma hora greve nacional dos bancários como represália e censura pelo desatino.
É claro que o governador temendo pelo pior não autorizou as ações dos atiradores. Eu então quando soube da decisão governamental dispensei os dois policiais que deixaram a cidade. E por não terem os assaltantes sido mortos no interior da agência toda a imprensa criticou a omissão da polícia paranaense. Ninguém sabia o que estava ocorrendo nos corredores do Palácio Iguaçú. Mas agora todos sabem.
E o vice-Presidente do Banco do Brasil só deixou Curitiba quando tudo foi solucionado. Outro ponto paralelo que nunca foi trazido à tona. Enquanto eu coordenava a operação e mantinha conversações com os assaltantes, contei com a irrestrita colaboração de dois operosos Promotores de Justiça de Goioerê, ambos meus colegas do Ministério Publico que desde minha chegada se colocaram a minha inteira disposição. Foram eles que conseguiram que toda a operação policial fosse centralizada numa residência familiar, um lugar nunca descoberto pelos jornalistas.
Foi por isto que brotou ciumeira da Juiza de Direito da Comarca que se sentiu desprestigiada mas ao saber que o Prefeito Municipal cedera, a pedido dos assaltantes, seu próprio avião particular para possibilitar a fuga dos bandidos após troca dos reféns pelo pároco e uma freira, determinou que o piloto desligasse o rastreador da aeronave. O que foi feito e impediu a localização e a pronta perseguição aos assaltantes. Foi um atrapalho e tanto pois se o rastreador estivesse ligado, após o avião aterrisar para deixar os assaltantes, uma outra aeronave estava pronta para decolar com policiais a bordo e iniciar a perseguição dos bandidos.
E finalmente de todo o episódio vale referir a participação de uma freira que prestava serviços num educandário de menores daquela cidade, ela usava hábito religioso, mas de fato era uma embusteira. E o único assaltante que sobreviveu após tiroteio mantido com a polícia paraguaia, mas que ficou paraplégico e teve que cumprir pena na Penitenciária do Ahú, recebia de quando em quando a visita da freira que lhe levava “santinhos” e rezava para torná-lo um bom cidadão.
Parece típico exemplo da Síndrome de Estocolmo. Ah, não foi apenas neste episódio que o Álvaro Dias preferiu se omitir para não assumir nenhum risco, pois existiu um outro em que eu próprio protagonizei, mas que contarei em qualquer outro dia …
“Em todo episódio acontecido no cotidiano existe um lado aparente e atrás dele os bastidores. O primeiro permite ao indivíduo visualizar e tirar suas próprias conclusões; contudo é nos bastidores que estão todas as verdades. Daí, notícia açodada nem sempre traz a verdade.”
Édson Vidal Pinto