A Viagem do Corvo
Como o Luiz Ignácio será mesmo candidato vencedor (de acordo com a DataFolha) resolvi tomar providências radicais, pois quando a coisa está preta o recurso mesmo é apelar para tudo, qualquer coisa ate as últimas consequências.
Planejei uma viagem cuidadosa para falar com a única pessoa capaz de impedir a tragédia anunciada para o Brasil. Decidido fui até a Casa Feres da Praça Tiradentes (aquela que é pequena por fora mas grande por dentro) a fim de comprar apetrechos necessários para minha jornada: uma roupa de mergulho, bexigas, GPS, barbante, lancheira, lanterna, capacete de ciclista, binóculo, óculos de plástico, joelheiras, um alfinete e uma imagem da Nossa Senhora da Luz dos Pinhais.
Depois passei na zona de ponta de estoques da Rua Tefé onde comprei uma botina forrada com retalhos de pelúcia e fui para casa. Já contei da minha poltrona preferida onde sento para escrever minhas crônicas, não é mesmo? Claro que sim.
Pois arrastei a mesma até a calçada onde me esperava um senhor que eu contratara para encher as bexigas com gás Helio, depois amarrei mais de duzentas delas na poltrona e quando senti que ela estava subindo sentei, todo apetrechado com o que eu tinha comprado, e antes que pessoas curiosas aparecerem subi em direção ao céu.
Acho que já vi uma cena desta mas não lembro aonde. No início o vento estava ameno, a temperatura suportável e aos poucos vi Curitiba desaparecendo porque tinha penetrado nas primeiras nuvens, como estava com roupa apropriada não senti frio. De repente perdi a terra de vista. Pelo GPS não dava para saber onde estava e nem para onde estava indo.
A única certeza é que eu continuava subindo. Não me preocupei pois deixei a vida me levar. As nuvens sob meus pés parecia montes de neve, às vezes tinha aspecto de algodão doce e de tão branca parecia miolo de rabanete. Logo me deu fome, muita fome. Tirei da lancheira um sanduíche de presunto e queijo e comi.
E eu continuava subindo. Olhei bem para o alto e vi uma nuvem que estava bem acima das outras nuvens e o vento me conduziu em sua direção. E quando me aproximei avistei com quem eu queria falar: São Pedro, o segundo na ordem hierárquica do Céu.
Ele me viu sentado na minha poltrona e ficou assustado:
- Meu filho, que loucura você está fazendo ? Sabe que é muito perigoso andar pendurado com balões por estas bandas ? - disse com voz macia e gentil.
- Eu sei, eu sei - respondi meio sem jeito - Mas eu precisava lhe pedir um grande favor…
- Ah, já sei você veio me pedir o que um outro tentou me dizer mas não conseguiu porque caiu no mar…
- ?
- Pobrezinho do Padre, mas eu não pude ajudar
pois o vento assoprou as bexigas para lá ao invés de assoprar para cá.
Mas o que você deseja, meu filho ?
As palavras eram pronunciadas de maneira tão carinhosa que por alguns segundos tive muito medo de pedir. Mas não resisti e arrisquei:
- São Pedro amado, o Senhor pode impedir o Luiz Ignácio de voltar à Presidência do País ?
A sugestão soou como um raio e São Pedro mudando o tom de voz respondeu de pronto:
- Nunca ! Ele vai voltar ao Poder !!!
- Por quê São Pedro, por quê?
- Porquê o povo brasileiro não sabe votar, só pensa em sacanagem, mulher e carnaval!
- Negativo ! - retruquei sem titubear. - O povo quer trabalho, educação e segurança !!!
- Mentira. - replicou São Pedro - Pois o último político que morreu para entrar no Céu fez uma delação premiada e acusou os brasileiros de bolsonaristas, racistas, facistas …
- Ele mentiu, São Pedro, ele mentiu ! - tentei argumentar quase chorando.
- Blasfêmia! Ele era um petista muito bom e antes de ser enviado para o
Céu me presenteou com alguns charutos cubanos e me disse que quando o Luiz Ignácio assumir ele me nomeará diretor-geral da Itaipu. Disse que o salário é em dólares !!
Eu fiquei atônito com o que acabara de ouvir da boca de São Pedro. Cheguei a conclusão que tudo está dominado.
Zeus, até onde chegou a corrupção. Se o fiel escudeiro do Senhor está iludido pelo canto da sereia, a sina do povo brasileiro é padecer no paraíso terreno.
Entumecido e indignado peguei o alfinete e fui furando as bexigas uma por uma e assim procurei me afastar daquela nuvem e descer de retorno até o local em que havia partido. Meu sonho desmoronou.
E quando senti que minha poltrona pousou na calçada da frente de casa, tirei meu óculos de plástico, peguei o binóculo e com ele olhei para aquela nuvem corrompida e vi a bandeira do PT hasteado num mastro. Levantei da poltrona e instintivamente peguei a imagem da Nossa Senhora da Luz dos Pinhais , Padroeira de Curitiba, e rezei com toda a fé deste mundo.
E agora? Pensei com meus botões, foi quando ouvi a voz de minha consciência:
- Pois mude-se para Anchorage, vá enquanto da tempo!
Entrei em casa para apanhar meu esqui, touca de lã, minha mulher e minhas renas atreladas no trenó e partimos para o Alasca.
Longe do Luiz Ignácio, bem longe, o mais longe possível …
“Tá tudo dominado; tá tudo dominado; tá tudo dominado. Em vinte anos deu tempo para dominar tudo. Só falta o desfecho final. Acorda eleitor!!”
Édson Vidal Pinto