A Volta dos Que Não Foram
Tenho feito do YouTube a minha diversão favorita porque posso enxergar os acontecimentos do mundo todo e receber as últimas notícias num mesmo canal de TV; além é claro de poder viajar sem nenhum custo e nem precisar sair de minha poltrona favorita, para saber onde piso e para que lado vou.
Fico admirado com as pessoas que viajam para serem cicerones dos telespectadores mostrando paisagens, curiosidades, custo de vida e as ruas das cidades com construções que refletem suas imagens histórias.
Dias atrás embarquei num transatlântico novíssimo que me levou numa paradisíaca viagem de uma semana saindo de Roma para as ilhas gregas,custo por pessoa de R$ 13.500,00 com direito a uma cabine com varanda, bebidas não alcoólicas, cinco refeições e um mar azul anil. Uma hora depois eu participei de uma outra viagem, desta vez de trem que me levou até o solo sagrado de Machu Picchu no Peru, com o sol a pino, uma vista indescritível das montanhas porém não foi fácil percorrer a pé as ruínas que resistem às intempéries do tempo.
Na permanência de um único dia pude me transportar para uma época em que os incas percorriam aquelas paragens e habitavam o local deixando vestígios de sua cultura e crença. Num piscar de olhos estava assistindo atônito o terremoto que abalou o México com cenas inusitadas que só a natureza proporciona, ruas sendo rasgadas como cicatrizes que se rompem e pessoas gritando assustadas sem ter para onde ir. E no mesmo dia lá no Japão uma chuva torrencial nunca vista inundando cidades e provocando deslizamentos de terras.
Espetáculo triste. Enquanto isto no Caribe o furacão Fiona com ventos acima de 160 kms por hora percorre por toda a costa do Atlântico levando pânico, destruição e prejuízos para diversos países. Com um pequeno clic no controle remoto vejo-me na expedição indo em direção ao cume do Everest, cujo objetivo é levar um montanhista que tem uma prótese metálica em uma das pernas, com intuito de que o mesmo seja o primeiro brasileiro a alcançar essa façanha.
Ouço a sua entrevista onde diz da dificuldade que está encontrando e principalmente do esforço que está fazendo. É o começo da jornada e pelos lugares que passou merece ser reconhecido como um ser dotado de tenacidade e destemor.
A montanha é um desafio para poucos. Só de ver, meu fôlego ficou curto. Apertei mais uma vez o controle remoto e assisti a biografia do ator americano Errol Flynn que encarnou o Robin Wood nas telas, também Ivanhoé, Capitão Blood e Don Juan. Morreu com 52 anos de idade de infarto fulminante quando filmava uma cena de um filme de capa e espada. Num outro clic no controle, eu estava dentro do Porta-aviões “Ronald Reagan” o mais novo e o mais caro navio da esquadra americana que é uma cidade dentro de uma couraça de aço e ferro. Com um grande número de aeronaves de vários tipos e tamanhos e milhares de militares a bordo é uma verdadeira máquina de guerra.
Ele estava rumando para o golfo pérsico onde ficaria percorrendo a área pelos próximos cinco meses. Fiquei imaginando o custo de manutenção das Forças Armadas com tantas mobilizações militares realizadas anualmente pelos Estados Unidos. Só mesmo um país economicamente poderoso. Num outro clic lá estava eu na Ucrânia no exato momento em que um um avião acabava de lançar um míssel contra um blindado soviético levando-o para os ares.
Cena triste de uma guerra absurda. Cliquei de pronto o controle remoto e me vi sentado no auditório do programa Silvio Santos quando este entrevistava o inesquecível Ronald Golias, foi meia hora de muita gargalhada. Ele contou trechos de sua vida e uma passagem que vale a pena registrar quando viajou de automóvel dirigido por um motorista que não conhecia, para fazer um show numa cidade do interior de São Paulo nas companhias de Manoel da Nóbrega e o Canarinho, sendo que o Manoel detestava ouvir piadas de quem quer que fosse. Lá pelas tantas o motorista perguntou se poderia contar uma piada. O Canarinho sabendo que o chefe Manoel detestava foi o primeiro que respondeu “sim”.
E na viagem toda o motorista desfiou inúmeras anedotas conhecidas e sem graça. De repente o “seo” Manoel que estava no banco ao lado do motorista virou-se para trás e disse com rispidez para o Canarinho:
- Você gosta da “ Praça da Alegria” não gosta ?
E não quer perder o emprego ou quer ?
Neste momento o Golias e o Canarinho não seguraram mais o riso e foram dando risada até o final da viagem. E o velho Manoel permaneceu mudo e calado. Foi só então que olhei para o relógio e estava ficando tarde demais pois chegara a hora de dormir. Cliquei o controle remoto e desliguei a televisão. Depois pensei comigo mesmo : puxa, voltei de viagens, conheci muitas coisas, testemunhei tantos outros acontecimentos como se estivesse presente nesses momentos e lugares, porém ser nunca ter ido em nenhum deles. Tive a sanção de que voltei de onde nunca fui …
“A magia da eletrônica no mundo moderno com sua tecnologia em efervescência parece uma máquina do tempo porque transporta os indivíduos para lugares nunca imaginados, sem precisar sair de casa. O planeta está ficando pequeno demais para a inteligência humana.”
Édson Vidal Pinto