Abuso de poder religioso?
Quem um dia conviveu com o saudoso advogado criminalista dr. Elio Narezi, com certeza conheceu de perto o que é ser um profissional combativo sem perder o senso de Justiça. Com o dr. Elio fiz júri em Curitiba e nos tornamos amigos respeitosos e nunca ultrapassamos os limites impostos pela barreira ética que deve sempre prevalecer nas relações forenses entre advogados, promotores e juízes. Mas nunca deixamos de querer tirar vantagens nos debates que travamos porque isto faz parte da têmpera daqueles que atuam no campo criminal do direito, para sobrepor à inteligência do seu oponente.
No ringue dos debates orais e nas batalhas dos processos não pode nunca faltar a perspicácia e agilidade mental dos protagonistas do júri. E o dr. Elio foi uma figura ímpar quando defendia seus constituintes. Lembro que eu era respeitado pelo dote de ironia com que me valia para desestruturar a defesa dos réus. E as vezes tais atitudes transcendiam o ambiente forense. Lembro de um destes episódios acontecidos há muitos anos atrás quando eu ainda era Promotor de Justiça da Capital, num seminário que reuniu advogados criminalistas do estado no salão nobre do então Colégio Santa Maria, na vizinhança do Teatro Guaíra.
E o dr. Elio foi o palestrante da noite. Eu estava presente representando o Ministério Público. No meio de sua peroração o dr. Hélio defendia que os gabinetes dos Promotores não deveriam estar localizados dentro dos fóruns para não criar vínculo muito íntimo de amizade com os Juízes de Direito, e nem deveriam sentar na poltrona do lado direito dos Juízes nas sessões do Tribunal do Júri.
Ouvi e não me contive:
- Dr. Narezi me perdoe por interromper sua bela explanação para me dirigir diretamente a seleta plateia.
Ele interrompeu e ficou silente. Eu prossegui:
- Senhores advogados: eu estou na mesa diretiva dos trabalhos deste seminário porque represento o MP.
Mas como minha instituição foi citada pelo palestrante eu não posso me calar. Aliás, sempre que o dr. Elio faz uso da palavra eu fico com um pé na frente e outro atrás.
A plateia ficou apreensiva com o que eu iria falar. Eu com um pequeno sorriso nos lábios complementei:
- Viram o que ele está propondo para nós Promotores? Além de querer tirar nossos gabinetes do fórum para trabalharmos na calçada, ele também quer tirar nossa cadeira do Tribunal do Júri para nos sentarmos no chão!!
Foi uma gargalhada geral. Ele esperou a plateia se acalmar, olhou em minha direção e disse:
- Tudo bem; para não aborrecer o representante do MP eu retiro o que disse: eles que fiquem onde estão, mas lavro desde já o meu protesto!
E novamente a plateia foi ao delírio. Lembro com saudades e respeito a figura maravilhosa e inesquecível do dr. Elio Narezi, um criminalista como poucos. Eu recordei deste episódio porque o STF já tirou crucifixos e cruzes que ornamentavam as paredes dos fóruns e dos Tribunais. E agora o Tribunal Superior Eleitoral através da figura singular de Luiz Edson Fachin quer tirar DEUS daqueles que se candidatarem à cargos eletivos.
Sabe por quê? Ele quer cassar as suas candidaturas por abuso do poder religioso. Pode? Para ele pode tudo; pois com certeza pensou nos candidatos que abusam do poder econômico para se eleger e teve a ideia obtusa de querer doravante cassar os que professam religião e são eleitos pelos seus confrades. É o fim da picada! Amanhã ele com certeza vai cassar também a candidatura de um médico para impedir que seus pares possam elegê-lo numa demonstração de abuso de poder profissional.
- o “seu” dotô, então não vou poder concorrer à eleição ...
- E porquê não Mendonça?
- Porque sou filho de Maria e ela também tem muitos seguidores ...
É não sei onde este imbróglio vai parar, mas uma coisa é certa, o Fachin foi um tiro que parecia certeiro para atingir o alvo do bom direito, mas que não passa de um projétil de segunda mão que só cai na água ...
“O que está acontecendo em nosso país? Nossa Bandeira Nacional é vilipendiada; estão tentando proibir que nossos filhos e netos cantem o Hino Nacional nas escolas; tiraram os crucifixos e as cruzes das paredes dos fóruns e Tribunais; e agora querem banir Deus das eleições. E a imprensa só politizando o Covid-19.
Até quando ? Acorda povo brasileiro!”
Edson Vidal Pinto
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