Aconteceu no Rio Araguaia!
Ontem, 20 de agosto de 2.017, domingo.
E como hoje é dia de descansar e de jogar conversa fora, vale a pena ignorar um pouco os problemas diários e mergulhar no imaginário. Sinfrônio é o nome do personagem de uma história real com contornos de pura fantasia. Porém, antes de iniciar a narrativa cabe um introito, por ser pertinente. Gosto de quem gosta de pescar!
É verdade, só que não cultivo paciência suficiente para colocar a isca no anzol e ficar esperando pelo Peixe faminto. E olhe que nunca faltou convite e nem insistência para me compelir há tão enfadonha prática. Pois sempre resisti heroicamente. Mas admiro e invejo quem gosta e se sujeita às intempéries do tempo para realizar este sonho.
Encerro aqui a introdução pretendida. Tenho muitos e queridos amigos que amam pescar em grupo e fazem pescarias memoráveis no famoso Rio Araguaia; alugam barco-dormitório, contratam pessoal de apoio e percorrem dias há fio o remanso das suas águas, apreciando a beleza inóspita das suas margens e se encantam com a fauna e a flora da região. Pois é, foi num grupo destes que o Sinfrônio que nunca tinha pescado foi abduzido e acabou se enturmando.
Foi ele que me contou como tudo aconteceu.
- Sabe, a viagem de avião foi ótima, sem incidente. A jornada começou quando embarquei no barco, com camarotes, bem asseado, com funcionários alegres e atenciosos...
- E daí? - provoquei.
- E daí? A alegria terminou quando o barco iniciou sua jornada Rio acima, o calor era sufocante, por isso tirei a camisa. Foi uma loucura!
- Por quê?
- Pernilongos de todas as raças, tipos e tamanhos!
Coloquei a camisa e não adiantou nada...
-?
- Eles eram treinados: picavam por cima do tecido! Fiquei uma semana no rio vestido duplamente com meias, calça, camisa, pulôver, japona de nylon, chapéu Safari, besuntado de pomadas para afastar os malditos insetos e luvas. E eu suando em bicas!
Considerei-me um verdadeiro guerreiro do século XVI, pois era tanta roupa que parecia estar vestido de armadura!
Ouvi calado e não me atrevi esboçar nenhum sorriso, para não perder o amigo. E ele inconformado, prosseguiu:
- A embarcação tinha um largo convés, que no meu sentir servia apenas de decoração, pois era impossível permanecer no local: os mosquitos não davam tréguas!
Ele deu um longo e lamurioso suspiro e prosseguiu:
- O pior foi subir numa canoa motorizada, que estava amarrada na popa do barco, para pescar. A pequena embarcação com o piloteiro e mais cinco pescadores (dentre estes, eu) se afastou do barco principal por longas e horas até chegar a um trecho do rio considerado "pesqueiro"!
Tomou fôlego e novamente prosseguiu:
- Com a canoa parada no lugar tido como a mina de Peixes, segurei a vara de pesca, peguei o anzol e fiquei enojado de colocar os dedos na isca. O cheiro me embrulhou o estômago e vomitei no rio.
Naquele momento surgiram peixes de todos os tamanhos disputando aquela imundice. Meus amigos me olharam com cara feia porque dali em diante não pescou quase nada. Matei a fome dos bichinhos!
- Pombas, que aventura, não?
- Uma tragédia grega!
- Teve pior momento?
- Claro, na hora de fazer xixi no rio! Os pernilongos não davam sossego e acabei fazendo na calça!
Dai não aguentei, chorei de tanto rir e o coitado do Sinfrônio acabou me acompanhando.
- Pescar? Nunca mais!- sentenciou o pescador de uma pescaria só.•.
E dando risada nos despedimos e eu prossegui meu caminho. Sei que os meus amigos que sempre pescam no Araguaia vão contestar esta história dizendo que não é bem assim e que eu exagerei na narrativa. Tudo bem, quem não quiser acreditar não acredite. Mas se quiserem conferir a verdade, tenho quatro amigos pescadores que na semana que vem vão pela décima quarta vez pescar no Araguaia, se quiser uma carona basta falar comigo que terei prazer em apresentá-los. São todas ótimas pessoas e se acabar viajando com eles, só não se esqueça da camisinha quando você precisar fazer xixi no rio...
“Domingo tem tudo há ver com pescaria”. Quem gosta não perde a oportunidade. Quem nunca pescou não deve se atrever em acompanhar velhos pescadores. Porque a aventura pode ser catastrófica. O Sinfrônio, que o diga!
Edson Vidal Pinto