Aconteceu no Velho Oeste
Dia de descanso portanto momento de jogar conversa fora e esquecer um pouco dos acontecimentos de nosso conturbado cotidiano, para recarregar as baterias a fim de aguentar o peso da semana que inicia. Com o avanço da pandemia do Covid e o arroxo imposto pelas autoridades públicas para evitar aglomerações e expansão de novos contágios, tudo previsto no figurino esperado após o encerramento das campanhas políticas, é difícil deixar de falar em doença por ser a palavra da moda.
Daí pensei: você alguma vez ficou doente quando estava viajando para fora do nosso país? A pergunta serve de tema para esta minha crônica porque se presta como leitura sem compromisso e própria para o dia de ócio. Eu fui o paciente. Há anos atrás eu e mais cinco colegas Magistrados fomos convidados pelo governo americano para visitar aquele país, dialogar com Juízes sobre a estrutura do Judiciário e conhecer de perto a complexidade processual e o elevado custo dos processos em trâmite. Como sabido as custas cobradas pela Justiça Americana é muito cara e por isto elitizada, sendo muito mais vantajoso os litigantes solucionarem seus conflitos em mesas de arbitragens, mediações e conciliações.
Nossa comitiva era composta de Desembargadores e Juízes Federais, todos de estados diferentes da federação. Nossa primeira parada foi em Washington onde ficamos uma semana percorrendo a Suprema Corte, tribunais, escritórios de advocacias e a Universidade local onde fomos questionados por professores e alunos. A temperatura do verão chegava há mais de trinta graus na Capital. Dali tomamos o avião para Sacramento, a Capital da Califórnia, no pleno oeste dos Estados Unidos.
Foi no trajeto antes do desembarque em virtude do ar-condicionado do avião estar ligado com baixa temperatura e a viagem levado quase cinco horas, que comecei sentir desconforto nos meus olhos, logo eles ficaram vermelhos e irritados. Pouco depois, no hotel da cidade, senti a necessidade de atendimento médico. Sempre que viajo faço o seguro de saúde para a devida cobertura dos gastos de médico e hospital, mas como tínhamos entrado no país como convidados, recebemos o Cartão de Assistência Social do governo e fomos previamente cadastrados no Sistema de Saúde.
Viajava dentre meus colegas a Juíza Marga do TRF 4, de Porto Alegre, que é casada com um médico e se ofereceu para me acompanhar no hospital porque tinha interesse também de saber como era a assistência médica oficial prestada ao povo em geral. Usei então o Cartão de Assistência Social para conferir a qualidade da prestação de serviços. O hospital era enorme e quando entramos no salão de triagem dos pacientes tinha mais ou menos umas cem pessoas aguardando consulta. Cada uma tinha uma ficha com um número.
Tirei a minha ficha de uma máquina e nos sentamos para esperar chamar o meu número. E foi rápido. Em quinze minutos uma atendente me chamou, mostrei o meu Cartão Social, ela conferiu a validade da inscrição e me mandou aguardar. Cinco minutos depois veio uma enfermeira que me entregou um desenho do corpo humano para que eu descrevesse os sintomas do meu mal estar. Fiz uma flecha em ambos os olhos e devolvi o folheto. Em dez minutos eu estava na presença de um oftalmologista que examinou os meus olhos e prescreveu a receita de remédio manipulado.
Agradeci e fomos até uma farmácia que vendia de tudo: de roupas, parafusos, tintas, pneus e até remédios! Entreguei a receita num guichê e me foi pedido para aguardar um pouco. Eu e a Marga ficamos envoltos com as novidades e ofertas dos produtos expostos à venda. O alto falante do estabelecimento falou meu nome e me dirigi ao guichê.
Quando recebi o remédio perguntei onde deveria pagar e o laboratorista disse que era grátis por que incluído no Plano de Assistência Social. Ficamos estupefatos. Dois dias depois eu estava com meus olhos curados e sem nenhum resquício de inflação. No período que permanecemos em Sacramento também estivemos em São Francisco e na semana seguinte voamos para Dallas, Texas. Calma, pois isto já é uma outra história. Mas você sabia que o nosso Sistema de Saúde é tão bom quanto ao atendimento que me foi prestado nos Estados Unidos? Talvez sem ter um número tão grande de médicos para atendimentos mais céleres e nem oferte a medicação após consulta, contudo, o atendimento hospitalar é exemplar.
Temos que valorizar o que é nosso e reconhecer o trabalho disponibilizado indistintamente à toda população. Espero que a narrativa tenha servido para distrair num domingo tranquilo; deixo de contar o duelo que tive numa rua do Texas para ocasião mais trepidante ...
“Adoecer fora de casa é um incômodo sem tamanho se a pessoa não for previdente e não tiver Seguro Saúde. Lá fora os preços das consultas de médicos e dentistas são caríssimas; e o atendimento cirúrgico custa o olho da cara. Só em Cuba o custo de saúde é mínimo, mas nenhum socialista brasileiro procura seus serviços; quando necessita de atendimento médico ou hospitalar prefere os hospitais de São Paulo. Bobos eles não são!”
Edson Vidal Pinto
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