Acredite Se Quiser
Apesar da garoa e do frio de ontem à tarde resolvi romper a minha quarentena para comprar na banca localizada no início da rua Pe. Anchieta, as minhas revistas de Palavras Cruzadas. Estacionei meu carro nas imediações e a senhora que é a dona do pequeno estabelecimento prontamente me atendeu.
Estava absorto vendo as capas das revistas quando chegou uma figura folclórica de nossa cidade. Ele parou a bicicleta, estava só de sunga vermelha e tênis, todo untado de óleo pelo corpo e perguntou:
- A senhora por acaso tem uma bomba de encher pneu ?
Olhei em direção ao homem e dei de cara com o “Oil Man” -, o herói dos que não tem herói!
A senhora com serenidade respondeu:
- Eu tenho aqui na banca só não sei onde o meu filho guardou.
Achei inusitado o fato do excêntrico ciclista ter procurado uma bomba de encher pneu numa banca de revistas; e mais ainda quando a mulher respondeu que tinha. Ela disse para o Oil Man que seu filho estava para chegar e que se quisesse poderia aguardar. Ele então encostou a bike num poste e ficou esperando. Eu nunca tinha conversado com aquele homem besuntado e não perdi a oportunidade:
- Você não está com frio?
- Não, já estou acostumado com o clima curitibano ...
- É que você é um super-herói.- Provoquei.
Ele olhou para mim e sorriu:
- Que nada o único herói que conheço é a Maria Louca.
- Por quê? - Perguntei curioso.
- Ele sempre foi um sujeito controvertido, cheio de lero-lero, nunca foi de nada mas viveu sempre da política e hoje está muito bem aposentado; ele sim é um herói, não eu?!
Achei interessante a resposta, mas continuei:
- E você acha que ele ressuscita para a política?
- Se o Covid-19 deixar ...
- Pois eu acho que ele vai tirar de letra essa pandemia.
Lembre-se que ele come o antídoto do vírus sem fazer cara feia ...
- Não entendi.- retrucou o Oil Men.
- Ora, ele deve estar comendo mamona adoidado! - conclui.
Vi que o nosso super-herói esboçou um sorriso maroto.
Mas não dei trégua:
- E o governador? Você gosta dele?
- Nem um pouco, mas assisto todos os programas do pai dele na TV.
- E não gosta do filho dele por quê?
- Porque não tem graça e nunca está em lugar nenhum ...
Neste momento chegou o filho da dona da banca e não pude mais conversar com o “peladão” urbano. A mãe explicou que o Oil Man precisava da bomba de encher pneu de bicicleta e o jovem recém chegado prontamente pegou a mesma que estava sob uns jornais velhos. Eu me despedi de todos e retornei para o carro com minhas Palavras Cruzadas. Confesso que gostei do Oil Man porque mantive com ele uma conversa divertida.
Voltei feliz para casa pois até esqueci do Covid por alguns minutos. Contei do encontro que tive para minha mulher e ela não acreditou muito. E você? Acreditou? Ora, vamos, acredite se quiser ...
“Nossa Curitiba sempre teve heróis folclóricos em todos os tempos: A Maria do Cavaquinho; o Esmaga; a Gilda; a Condessa; o Chupeta; mas em durabilidade ninguém ainda conseguiu bater a Maria Louca. Todos eles a seus modos escreveram a história da Vila da Nossa Senhora da Luz dos Pinhais.”
Edson Vidal Pinto
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