Aguardando na Sala de Exames.
E na rotina do semestre aqui estou eu aguardando no salão do Hospital Costantini, para mais um exame do coração. Enfrento novamente o burburinho de pessoas que aguardam a vez de serem chamadas.
É mais divertido do que a sala de espera de consultório médico. Além de ter mais gente, tem televisão e inúmeras atendentes nos seus respectivos guichês, falando alto e prestando atendimento preliminar.
Eu não perco a oportunidade para comentar o que acontece e ouço no ambiente.
- Senha 81! - gritou uma das atendentes.
Uma senhora de idade, acompanhada provavelmente de uma filha, se aproxima do guichê:
- Bom dia.
- Bom dia, a senhora tem seu documento de identidade e a carteirinha da Unimed?
A senhora abre a bolsa e fica procurando os documentos e quando acha, abre um belo sorriso de satisfação.
De outro viés, ouço uma conversa entre marido e mulher, sentados na fileira de poltronas que estão atrás de mim:
- Tua mãe é que é encrenqueira...
- Mas você teima em provocar a velha!
- Eu tinha falado pra ela que o Nelson estava chifrando a Helena, mas ela não se conteve e teve que falar pra sua irmã!
- Pois é agora o “bode” está feito, como vai terminar isto?
Não pude ouvir mais nada porque a enfermeira chamou a mulher para fazer exame. Minha história ficou sem fim.
De repente passou como se estivesse desfilando na passarela, de avental branco, uma jovem médica, imponente e sem dar a mínima para a plateia de mortais. Deixou um rastro de perfume francês, que logo imaginei que foi para homenagear a Seleção da França, campeã mundial de futebol.
Desviei os olhos e arrisquei uma olhadela na TV, lá estava a ex-mulher do Bonner entrevistando meio mundo de ilustres desconhecidos. Programa insosso para um período matinal. Logo voltei minha atenção para o zumbido das conversas, foi quando olhei em direção a uma senhora, que estavam sentadas algumas fileiras na minha frente, e me deu a nítida impressão que era a Dilma de costas. Será? Pensei com meus botões; logo caí na real, claro que não.
Se fosse acho que ela não estaria tão despreocupada aguardando o momento de ser atendida, pois com certeza haveria xingamentos e tumulto.
- “Seu” Edson!
Fui premiado, chegou a minha vez e lá fui eu em direção ao vestiário vestir aquele traje que não tem pé e nem cabeça. Quando vesti, logo me senti um trapo humano, incapaz de raciocinar e reagir a qualquer afronta. Quando vi o médico na minha frente parecia um faraó egípcio, cheio de distintivos bordados na manga do avental e com milhares de diplomas com seu nome em relevo, pendurados na parede.
E de trapo humano me senti um pequeno inseto. Só respondi o que ele me perguntava, com medo de ser censurado. Terminei o exame e com o contraste misturado no meu sangue saí do hospital sem olhar para trás. Ufa, me senti liberto!
Sentado no meu carro, de volta para casa, fiquei imaginando a crônica que escrevi ao talante de minha imaginação e dei risada. Aproveito para pedir perdão aos meus amigos médicos quando teço críticas de mentirinha a respeito de suas nobilitante atividades, pois sei de suas importâncias no trato da saúde em geral.
Faço este gesto de arrego para evitar o que me aconteceu dias atrás, quando meu dentista sorridente e pacientemente me deixou sentar na cadeira de tortura do seu consultório, e quando abri a boca, ele sem nenhuma cerimônia pegou a “maldita” broca, mirou a mesma em direção ao meu dente da frente, franziu o cenho, e disse:
- Muito bem, meu amigo. Quer me explicar antes de tudo, sobre aquela crônica “engraçada” que você escreveu quando eu prestava o meu atendimento profissional?
Tremi de medo e suei, antes dele dar uma gostosa gargalhada! É isto que quero evitar que aconteça, quando algum esculápio me atender futuramente. Prometo que qualquer dia escreverá alguma coisa parecida falando também dos Juízes...
“Gosto de brincar com meus amigos médicos, nossos heróis de cada dia.
Principalmente das mangas de seus jalecos com bordados sobre suas especialidades e a sisudez de seus atendimentos. Mas é tudo brincadeirinha, está bem?”
Edson Vidal Pinto