Ah, Se Eu Pudesse…
São poucas as ocasiões que sou tomado pelo desespero mas quando estou confesso que tenho vontade de ter superpoder de algum herói de gibi, para poder usar e abusar a fim de dar evasão aos meus instintos de guerreiro. Um guerreiro acomodado que só reage quando o perigo é iminente.
Como é o caso de hoje. Vasculhei a vida e os poderes desses personagens infantis que fizeram um dia partes de nosso imaginário : Batman, Super-Homem, Homem-Aranha, He-Man, Hulck e tantos outros e não consegui extrair de nenhum deles um poder do qual eu pudesse me valer para colocar em prática contra o invasor em questão. Foi então que me ocorreu não mais fazer uso desses poderes miraculosos porque o inimigo não é assim tão poderoso a ponto de exigir uma resistência acima do normal. Basta impedir seu avanço sobre Curitiba e isto seria possível tendo apenas “voz de comando”. Foi daí que me lembrei do general Dureza (da revista em quadrinhos “Recruta Zero”) para ordenar um cinturão de defesa e colocar a polícia e os cidadãos de bem nas trincheiras ao redor de nossa cidade.
E só de pensar nessa possibilidade minha imaginação juvenil me transportou para o mundo do faz de conta, contudo, nem assim, consegui a tão desejada “ordem de comando”. Mesmo assim fiquei imaginando “se tivesse” a autoridade do general e pudesse mandar e que todos obedecessem ; e assim me deixei levar pelos pensamentos.
Ah, se eu pudesse … mandaria o Ministro da Defesa colocar os blindados do exército em todas as vias de acesso à cidade. Ah, se eu pudesse … mandaria a Polícia Militar do Paraná exercer policiamento preventivo em todas as ruas. Ah, se eu pudesse … determinaria ao Superintendente da Polícia Federal que preparasse uma sala do terceiro piso do prédio para hospedar um preso tinhoso. Ah, se eu pudesse … mandaria o governador Ratinho exonerar o Secretário de Segurança para não atrapalhar o planejamento em curso.
Ah, se eu pudesse … mandaria o Greca asfaltar as trincheiras do campo de batalha (só de birra). Ah, se eu pudesse … investiria o delegado Francisquini de autoridade para comandar a linha de defesa pela sua experiência adquirida quando salvou os deputados da ira dos professores.
Ah, se eu pudesse …colocaria ratoeiras em todas as esquinas. Ah, se eu pudesse … cobriria Curitiba com uma redoma de acrílico para impedir o trânsito de aeronaves no nosso espaço aéreo.
Ah, se eu pudesse … colocaria o Putin (pelado) no posto de observação mais avançado para ele perscrutar no horizonte se o indesejável inimigo está ou não se aproximando dos limites do nosso município. Ah, se eu pudesse …
- Não, você não pode. Não adianta delirar.
- Quem disse isto ?- eu quis saber.
- Eu, o seu amigo Hermenegildo, que está ao seu lado ouvindo você falar em voz alta.
Foi quando cai na real e voltei a realidade. Acho que entrei em transe depois de tantas elucubrações.
- Desculpe-me, Hermenegildo, acho que “saí” da casinha …
- Por quê tanta preocupação ? Pelo visto você estava querendo impedir que um perigoso inimigo pudesse entrar em Curitiba …
- Acertou.
- Quem ? - perguntou meu amigo.
- Hoje não é sexta-feira ?
- Não vá me dizer que você está com medo do lobisomem ??
- Pior : medo do Luiz Ignácio !!!
- ?
- Ele chegará logo mais a tarde para filiar o Requião no PT, você não sabia ?
- É mesmo. -respondeu trêmulo o Hermenegildo.
- Pois é, por isso que eu quero impedir que ele entre na cidade …
- Tem razão.
- Claro que tenho, quero proteger os cidadãos de bem, os monumentos públicos, o maquinário das repartições, os acervos dos nossos museus e as bicicletinhas de nossas crianças …
- E você faz muito bem!
- Obrigado. Afinal um ladrão como ele que rouba, rouba e não é preso é como praga daninha. Depois que chegar e estiver entre nós ninguém sabe a hora exata que ele vai subtrair os bens públicos e de terceiros.?Assim é melhor previnir do que chorar depois …
“Lembro quando o Craveiro Lopes chegou em Curitiba , o Getúlio Vargas, o Juscelino Kubitscheck, o Gel. Mourão, o Pelé e até o Roberto Carlos para inaugurar o Shopping Estação. Nenhum deles causou preocupação para o bolso de ninguém. Mas a chegada do ladrão do Luiz Ignácio é necessário um alerta máximo. Afinal todo o cuidado é pouco.”
Édson Vidal Pinto