Alceu, O Bicheiro.
Domingo, 15 de janeiro, domingo.
Sol em Guaratuba! Ontem à tarde fui tomar sorvete na Praça da Igreja Matriz e por acaso encontrei meu amigo Alceu, apelidado de "O Bicheiro" pelos seus alunos da faculdade de biologia da Universidade Federal do Paraná. Ele gosta tanto de seres vivos, é um estudioso da matéria, que escreveu três livros sobre tão envolvente tema.
E como não poderia perder a oportunidade do encontro ele só não me convidou como me convenceu à acompanhá-lo no dia seguinte, para "caçar " corruptos. Sem perder tempo ele esclareceu que corrupto é um "bichinho" do mar que mora em pequenas tocas junto a areia da praia, que se alimenta de micro organismos e é excelente isca para a pesca marítima. Pensei com minha ignorância conhecida: corrupto deve ser gênero dos quais são espécies "Renanrex", "Lulasfritus", "Cerverósmiupes" e mil e uma sub-espécies que proliferam em Brasília !
Mas preferi ficar calado. Como eu prometi para o Alceu que eu iria acompanhá-lo, levantei bem cedo, em pleno domingo, e fui encontrá-lo do outro lado do Morro do Cristo, na Praia dos Paraguaios ( antigos Balneários Eliane e Coroados).
Quando cheguei ele já estava me esperando com dois canos de PVC, para fazer vácuo e impedir que o corrupto entrasse na toca, e um balde para colocar os "capturados". E esperançosos nos pusemos a andar em direção ao Estado de Santa Catarina. O sol estava de rachar o craneo de qualquer mortal! Como dois paladinos do bem não esmoreceram nem um só segundo, a gana era tanto para caçar corruptos que nem nos importamos com a adversidade da temperatura.
Chegamos a atravessar o Rio Saí Mirim, que faz divisa entre os dois estados, e não tínhamos pegado nem um só corrupto. Eles tinham desaparecido. Por certo a notícia da nossa caçada tinha "vazado" e chegado aos ouvidos dos bichinhos. Lá pelas tantas nos deparamos com o meu colega de Toga, o Sergio Moro, que vinha em sentido contrário ao nosso, carregando um balde "lotado" de corruptos.
Tentei dizer alguma coisa, mas ele sabendo o que era, disse de pronto:
- Não se amofine tudo isso que peguei deve-se ao meu treino diário nos processos!
Permaneci calado, pois tinha falado a voz da experiência! Eu e o Alceu chegamos quase em São Francisco do Sul, mas corrupto que era bom: nada ! Demos meia volta e retornamos para o Paraná.
O calor fazia suar embaixo da língua. Chegamos de volta no Morro do Cristo como dois soldados da Legião Estrangeira, estávamos nos arrastando na areia, sem saliva e com muita febre. Estou escrevendo esta crônica deitado no leito hospitalar, com soro sendo injetado no meu braço. O Alceu está no quarto ao lado. Não pegamos nenhum corrupto, mas quase morremos de insolação!
Eu aprendi uma lição muito útil para a minha vida, há de que é muito, mas muito difícil mesmo caçar corruptos no Brasil. Estes "bichinhos" são muito espertos e dissimulados, principalmente quando estão de terno e gravata. Aqui mesmo em Guaratuba eu juro que vi um deles desfilando tranquilamente na avenida principal da cidade. Não sei o seu nome, acho que estou com amnésia.
Só sei que ele é chegadinho com o Rei Momo! Mentirinha, acho que a febre voltou e eu estou delirando...
Mas, que vi, vi!