Ali Chain, o repórter das arábias.
Hoje não se faz mais repórter policial como antigamente, quando o indivíduo acompanhava de perto as notícias para um furo de reportagem. E cada um com seu estilo, jeito e palavreado diferente; um mais agressivo, outro engraçado, tinha o milongueiro que provocava o entrevistado para obter a melhor reportagem; e também aquele que fazia suspense para dar a informação. Destaco alguns deles que fizeram história na radiofonia paranaense: Artur de Souza, José Domingos, Algacir Túlio, Cadeia, Ratinho e Ali Chain. E ontem morreu o Ali - o Califa 33 - uma figura ímpar da Rádio Educativa do Paraná, que apesar de falar com muita gíria e pouca clareza em razão de sua voz rouca era um personagem inesquecível.
Um carrapato no jargão dos repórteres policiais porque era incansável, jocoso, alegre, irreverente, mas um homem sério e honrado. Exemplar chefe de família e cidadão respeitoso. Primeiro conheci seu irmão Aramis Chain, o livreiro, que foi meu colega no Grupo Escolar “Alba Guimarães Plaisant” anexo ao Instituto de Educação do Paraná. Lembro que no segundo ano primário fui à festa de aniversário do Aramis, seu pai morava na frente de um terreno onde hoje está construída a Rodoferroviaria, e tinha ao lado da residência uma outra casa de madeira que servia de estufa de banana. A família comercializava banana.
Na hora de cantar os parabéns apareceu o Ali, foi quando eu o vi pela primeira vez. Anos mais tarde, quando fui diretor-geral da Secretaria de Segurança Pública mantive um contato mais próximo com o Ali pois ele era o Assessor de Imprensa da Pasta. E dali em diante, de quando em quando ele sempre me procurava para dar entrevista, em razão dos vários cargos que exerci na vida pública. Ele privava da minha amizade. Tanto que na apuração das eleições majoritárias de 2.014, quando fui Presidente do Tribunal Regional Eleitoral, ele acompanhou todo o placar dos votos computados oficialmente de dentro do meu gabinete e junto com todos os demais Juízes da Corte, o Procurador Eleitoral e a cúpula da Secretaria de Segurança Pública.
E no final dos trabalhos como de praxe o candidato reeleito ao Governo do Estado, Carlos Alberto Richa, esteve em meu gabinete para cumprimentar todos os membros e servidores do Tribunal, pela lisura e eficiência das eleições. Na ocasião o Chain entrevistou em primeira mão o governador eleito. Ele sempre aparecia onde eu estivesse e fui inúmeras vezes entrevistado na Rádio Educativa e também através do seu inseparável gravador.
- Oh, Capa Preta, poderíamos marcar uma entrevista ao vivo na Rádio Educativa?
- Ok, Chain. Quando e qual horário?
- Amanhã, chefia: às oito da manhã!
E assim ficava marcada a entrevista e ele nunca dizia qual seria o tema da conversa. Quando eu chegava na rádio ele estava na porta de entrada do prédio esperando e me conduzia ao estúdio.
- Quer café?
- Não, obrigado.
- Quer falar sobre o quê?
- Eu? Sobre o que você quiser ...
- Tá!
Prim, Prim, Prim. Toca a companhia do estúdio e acende o painel vermelho: “No Ar”.
- Nesta manhã meu entrevistado é Desembargador Edson Vidal, do Tribunal de Justiça.
Desembargador como o senhor encara a questão da pena de morte? Ela é viável no país?
- Bem ...
Pego de surpresa com a pergunta eu começava a falar e ele saia do estúdio e sumia do local por um cinco minuto e depois voltava. Este era o estilo do meu amigo Chain nas entrevistas que fazia. Fosse quem fosse o entrevistado. Ele nunca mudava e eu sempre atendia seus convites, mesmo sabendo que as perguntas eram de improviso e feitas ao talante da sua imaginação. E o entrevistado que se “virasse” para responder. Algumas vezes em que ele queria perguntar sobre um assunto específico do qual não dominava muito, então antes de começar o programa ele dizia:
- Faça as perguntas no papel para eu ler e depois você responder!
Esse era o impagável jornalista e homem de rádio Ali Chain. Fiquei triste com seu falecimento, porque perdi um amigo muito especial. Mas sempre vou lembrar do “Califa 33” pois vou sentir muita falta de seus convites para lhe conceder entrevistas ...
“Quem analisava só pela aparência o Ali Chain e seu jeito de falar, não era capaz de dizer quão honesto e boa praça que ele era. Simples, observador, respeitoso e gozador foi um homem alegre e ótimo chefe de família. Vou sentir saudades das gírias que dizia e da sinceridade com que retratava os acontecimentos. Viveu ao redor da malandragem sem nunca se deixar corromper!”
Edson Vidal Pinto
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