Amemos Nossos Animais Mas Com Juizo.
Hoje em dia os animais domésticos como cães e gatos adquiriram um status de realeza nunca antes imaginada por gerações passadas, pois além de comida especial e bons tratos em cabeleireiros e atendimento psicológico vip em clínicas veterinárias de conceituada categoria, muitos têm ainda plano funeral com direito a pompas e ritualísticas.
Sem esquecer que muitos comemoram a festa de aniversário na companhia de seus iguais em casas especializadas. E pensar que quando criança tive um cachorro vira-latas de nome Rex que comia de tudo, morava numa casinha de madeira na parte dos fundos e afora a cozinha nunca pisou em nenhuma outra dependência dentro de casa. Meu pai dizia que lugar de cachorro é no jardim ou no quintal para “anunciar” quem estava chegando. Lembro que o Rex não podia ver nenhum gato por perto porque saia atrás como um tresloucando para morder, tamanho ódio que alimentava por felinos.
Hoje os cachorros e os gatos convivem num mesmo ambiente como ótimos amigos, dormem e comem juntos num mesmo prato. Dia destes vi um gato brincando com um rato desmistificando de vez a rivalizada fúria que os antagonizava e como retratavam os desenhos do Tom e Jerry, criação do notável Fred Kimby. Mudaram os tempos ou mudaram os seres humanos ? E por incrível que pareça no programa eleitoral gratuito do TRE vi uma candidata à deputada federal dizer que na sua plataforma de campanha quer tornar os delitos de maus tratos contra animais como crime inafiançável.
Parece o fim da picada. Não esquecendo que hoje em dia nos shoppings já é comum encontrar casais ou famílias inteiras com seus pets andando no meio das pessoas e disputando espaços em corredores e lojas. Ah, nos aviões também é possível viajar com o animalzinho do coração dentro de uma gaiola, desde que pague pelo transporte aéreo. Em Curitiba o Presidente do TCE, meu amigo Fábio Camargo que não larga de seu cachorro por nada deste mundo resolveu levá-lo no seu habitat de trabalho, gozando de toda a mordomia possível.
E se a moda pega imagine entrar numa repartição pública qualquer para tratar de um assunto importante e ter que sair correndo de um ou mais cachorros com caras de poucos amigos, todos pertencentes aos funcionários lotados no local.
A propósito o Congresso Nacional da Colômbia votou recentemente uma lei permitindo a presença de animais nas repartições públicas do país a pretexto de humanizar mais os ambientes de trabalho e mostrar respeito aos animais. E como não poderia deixar de ser um deputado federal, que deve ter votado contra o Projeto de Lei, foi trabalhar levando consigo o seu cavalo de estimação. É verdade e não invenção de minha fértil imaginação.
Não esquecendo de que há tempos atrás pessoas ricas e famosas deixavam suas fortunas através de testamento para seus amados animais, designando um responsável para dar cumprimento com fidelidade nas disposições de última vontade.
Particularmente nada tenho contra os animais domésticos pois até convivo com um querido compadre que tem no apartamento dois pets, um zoiúdo pequeno e um grandão com cara de poucos amigos, que teimam em disputar comigo o mesmo espaço no sofá quando sou convidado pelo anfitrião para sentar.
E com insistência eu sempre venço e quando sento um fica deitado no encosto do imóvel bafejando na minha nuca. Paciência de Jó porque o mundo é deles e nós somos apenas estranhos em nosso próprio planeta. Não sei porque mas lembrei das historinhas da revista do “Recruta Zero” quando o Otto, o cachorro do sargento Tainha, é sempre tratado como um rei por todos os subalternos do quartel.
É assim o mundo deste novo século onde a fome impera, as populações se multiplicam, as guerras não acabam, a luta pelo sobrevivência está cada vez mais difícil e os pets e bichanos (quando filhos de bastados) usufruem o que de melhor a vida pode oferecer.
Mas como tudo é cíclico vai chegar o dia que os seres humanos possam ser tratados com dignidade e respeito; e os animais apenas como animais irracionais que tornam nossos momentos mais felizes …
“Nenhum animal racional ou irracional pode ser feliz sem o outro. Contudo deve sempre imperar o bom senso. O e exagero deixa transparecer soberba. E para quem passa fome soberba é sinônimo de humilhação. E os animais não podem simbolizar o que não são.”
Édson Vidal Pinto