Aposentadoria do ofício público
Quem no exercício de atividade publica ocupa cargo de relevância e não tem bom senso para pensar que um dia vai deixar o mesmo para se aposentar, com certeza perdeu o juízo ou vai perder o rumo de casa. Sim, porque o cargo publico por mais relevante que seja é efêmero, pois ele tem começo, meio e fim. E para quem sai não fica nem a sombra, pois ninguém é imprescindível, vez que no Ofício Público rege a máxima “Rei morto, Rei posto”. E quem vem ocupar o cargo vago é muito melhor do que aquele que saiu, dizem em coro os subalternos e os bajuladores.
Quando me aposentei estava viajando e quando retornei para retirar meus pertences o meu gabinete tinha uma nova inquilina, que na minha ausência ascendeu tanto incenso e charuto para afastar os maus espíritos, que todos eles devem ter morrido sufocados. Tanto assim que hoje não tenho nenhum “preto velho” do meu lado. Fiquei mudo e calado porque sabia que o fim seria melancólico, como foi. Meus pertences pessoais foram entregues em minha residência pois um ciclo se fechou. Como na vida pública exerci cargos relevantes e nunca me apeguei em nenhum deles -, embora tenha procurado dignificar e honrar todos eles-, em poucos dias dei a volta por cima e continuei feliz da vida. Não deixei para trás nada do que pudesse me arrepender, nem processos em atraso para o meu sucessor e nem motivos para me envergonhar. Cumpri meu dever, respeitei para ser respeitado, zelei por tudo que fiz e nunca magoei ninguém que trabalhou comigo por onde passei; fui independente e ético sem nenhuma soberba.
E aposentado continuo sendo o que sempre fui.
É claro que não sou nenhuma espécie rara pois meus ex-colegas e muitos amigos que conheci na minha jornada pública, também tiveram igual (ou melhor) desempenho no exercício de seus cargos, e se aposentaram com toda dignidade. A tristeza, a única, é sentir a dor da indiferença que os dirigentes e colegas têm com os aposentados que no final da vida amargam perda salarial com aqueles que continuam na ativa, em igual cargo ou função, face a injustificável quebra de isonomia salarial por subterfúgios criados para beneficiar apenas os que estão no pleno exercício do cargo. Um engodo para aquinhoar os que trabalham através de duvidosos penduricalhos, em detrimento dos aposentados que nada recebem. O Poder Público tem legitimado tais diferenças sob a justificativa de proteger o Erário, criando, contudo, uma injustiça social. Mas como a aposentadoria chegará para todos, cedo ou tarde, aqueles que estão em atividade e no esplendor da vida devem desde já abrir os olhos, porquê como diz um placa pendurada não entrada do cemitério de Jaguapitã: “Já fui o que tu és, e tu serás o que eu sou!” É nesta hora que penso na Rosa Weber, que deixou a Presidência do STF dizendo que iria para casa gozar a aposentadoria e cuidar dos netos, e deve estar surpresa ao receber seu holerite de pagamento e constatar que está ganhando metade do que ganhava na ativa; e o pior, menos do que um Juiz Substituto…
“É descabido e vergonhoso a quebra de isonomia de vencimentos entre o pessoal da ativa do Serviço Publico com os aposentados, com iguais cargos e funções. Uma injustiça social com subterfúgios duvidosos. Urge restabelecer a paridade entre vencimentos e proventos, por respeito a Constituição Federal.”
Édson Vidal Pinto