Aposentadoria: o Pior de Todos os Males
Há muitos anos atrás quando eu percorria as estradas de chão batido do norte do Paraná e morava no interior do estado com esposa e filhos, lembro que passei por inúmeros povoados de beira de estrada e num destes tinha um cemitério onde estava escrito um cartaz em letras garrafais: “Já fui o que tu és e tu serás o que eu sou.”
Sem duvida nenhuma uma frase que serve para profunda meditação. Pois ninguém é imortal. Hoje não percorro muitas estradas interioranas pois o tempo e a vida tem selecionado onde, quando e de que maneira posso me deslocar de minha cidade para outra, porque meu corpo e a minha disposição não são mais os mesmos por mais que eu tente vencer a inércia imposta pela idade.
Ademais estou aposentado compulsoriamente e deixei de fazer na vida pública aquilo que para mim foi sempre prazeiroso : trabalhar e servir. Aliás a bem verdade nunca trabalhei porque sempre fiz aquilo que gostava e por isto nem senti o tempo passar. De repente num piscar de olhos fui aposentado odiosamente por idade e no início me senti um verdadeiro porta-aviões atracado num cais e sem utilidade. Eu tinha deixado a presidência do Tribunal Regional Eleitoral para me tornar mais um aposentado. Claro que reagi e passei a participar como voluntário de vários projetos úteis à sociedade e como derivativo comecei a escrever estas minhas despretensiosas crônicas. Uma por dia num desafio para comigo mesmo.
Só que empobreci financeiramente e não porque me tornei pródigo ou inconsequente mas, sim, porque os meus proventos de aposentadoria que consegui depois de prestar por mais de cinquenta e oito anos de serviço exclusivamente ao Paraná ficaram muito aquém do que recebem os meus colegas em atividade. Uma discriminação criminosa pois a maioria deles ainda estão dando os primeiros passos na vida pública e carecem da indispensável experiência de vida. E o pior : contribuí para a Previdência quase uma vida toda para me aposentar com dignidade e continuo ainda, absurdamente, contribuindo para ela quando deveria estar isento desse ônus.
Exerci cargos públicos relevantes e minha única aposentadoria tem o valor que corresponde o básico de desembargador sem qualquer acréscimo, mas com os descontos vorazes da Previdência e do Imposto de Renda. Ganho o que ganha um executivo de empresa de pequeno porte. Não tenho renda extra porque me dediquei à atividade pública de corpo e alma, não fiz mestrado, doutorado e nem pós-doutorado porque os tempos eram outros e as carreiras que abracei exigiam dedicação exclusiva e obrigatoriedade de residir na Comarca. Não sirvo nem para dar aula em faculdade de direito embora dê palestras e conferências sem ônus quando sou convidado.
E não advogo por princípio ético. Hoje sou apenas um desembargador aposentado e literato. E o que está acontecendo comigo e alguns de meus colegas está também acontecendo em outras categorias de funcionários públicos onde o aposentado é apenas apêndice e restolho das carreiras. Regra sem exceção. E aqueles que são jovens e estão na ativa nem querem saber da angústia de seus colegas aposentados porque, com certeza, nunca tiveram de sujar suas roupas pelas estradas barrentas do interior do estado, nunca viveram tempos difíceis com suas famílias nas cidades sem estruturas e com certeza nunca leram a tabuleta de um certo cemitério …
“Nem dirigentes, nem entidades de classe e muito menos os colegas que estão na Ativa se importam com a sorte dos seus aposentados. Para compensar as perdas infelizmente o aposentado tem que ser portador de doença grave para obter as isenções do Imposto de Renda e da Previdência. Reflexo Irônico da própria desgraça.”
Édson Vidal Pinto