As Cores da Morte
Claro que o país está dividido há longo tempo por um muro ideológico cada dia mais perigoso, onde o antagonismo e a intolerância tornam o cotidiano um verdadeiro barril de pólvoras.
E começou lá atrás com o assassinato de Celso Daniel por discórdia entre um mesmo grupo petista e depois com a tentativa de morte engendrado nos bastidores, por mentes perversas quando tentaram afastar por interesse político da corrida eleitoral o então candidato Jair Bolsonaro, naquele momento em franco crescimento popular e com possibilidades de se tornar Presidente da República.
Ambos os fatos com conotações assentadas na política. Diferente do escandaloso “caso” Marielle no Rio de Janeiro quando a mesma, por ser política do Psol e implicada no submundo do crime, acabou sendo morta numa disputa de força e espaço com seus inimigos. Este episódio, no entanto, ensejou transformar o fato em um complô político com intuito de envolver o próprio Presidente Bolsonaro.
A versão fática muito bem explorada por conveniência pela Rede Globo teve repercussão internacional, inclusive da desacreditada ONU através do seu Conselho de Direitos Humanos, que exigiu do governo brasileiro a mais transparente investigação para apurar a autoria (ou autorias) e o seu responsável ( ou responsáveis).
No entanto com o término das investigações policiais o tiro saiu pela culatra porque a motivação do crime não teve qualquer objetivo político. Foi mera guerra entre bandidos. Quando ocorre um homicídio - seja ele qual for - é precipitado tentar explicar a motivação que deu ensejo ao fato, pois sem uma investigação amparada em indícios, circunstâncias e provas é leviano apontar a possível causa do ocorrido.
É claro que só mata por matar o insano mental porque todo o autor de crime tem sua motivação e causa para querer a morte de outrem. Como Promotor de Justiça com atuação por três décadas na área Criminal, a tarefa mais importante era buscar extrair do autor do homicídio o porquê desse gesto extremo, para daí, então, ter uma noção da sua periculosidade.
Pois quem no calor de numa discussão mata seu oponente, as vezes até por motivo fútil, quase sempre não é perigoso pois sempre se arrepende tardiamente do que fez. A provocação da vítima motiva atitude tresloucada de quem se sente melindrado; o homicídio é uma explosão emocional e o freio tardio. Indivíduos embriagados e drogados tem plena consciência do que estão fazendo e quando matam apenas mostram suas índoles perversas.
Tanto têm consciência do que estão fazendo que quando conseguem ter dinheiro nas mãos nunca rasgam, queimam ou destroem. Aquele que recebe recompensa para matar é o mais perigoso de todos os homicidas e está na mesma categoria dos latrocidas, aqueles que matam a vítima para roubar; ou dentre os chamados crimes hediondos em que o autor mata para esconder um outro crime.
O espaço não permite alongar as hipóteses de homicidas perigosos. Mas acho que a dissertação feita até aqui dá uma tênue noção de que, em regra, não existe homicídio sem motivação. Pois bem. Neste último final de semana na cidade de Fóz do Iguaçu - Paraná -, um Guarda Municipal e aniversariante do dia em plena festa, após se desentender com um Agente Penal Federal, foi morto a tiros por este na presença de diversas pessoas presentes no local. E porque o funcionário municipal era secretário do PT de pronto foi veiculado pela imprensa que o crime teria conotação política e cujo autor foi um “bolsonarista”.
A intenção é provocar uma escalada de violência. Pois foi o mesmo que jogar álcool em uma fogueira. A cortina para um espetáculo de insinuações e achismos foram escancaradas para serem exploradas pelo país afora tentando enredar como motivação o “nós “ e “eles”. Um novo “caso” para especulações de jornalistas e políticos que querem o “quanto pior melhor”. A intenção é atribuir ao Presidente a exclusiva culpa pelo crime em comento, em virtude de suas posições antidemocráticas e desumanas.
Com certeza a vítima será glorificada, terá busto em praça pública ou nome de rua na cidade. E a ONU voltará às atenções para exigir Justiça no país. Até pode ser mesmo que entre os protagonistas do tiroteio (pois houve troca de tiros) possa ter existido discórdia política como traço obtuso de suas próprias intolerâncias, nada mais do que isto.
Mas longe de uma motivação política que extrapola muito mais que um desentendimento pessoal, eleitoreiro por ou cores partidárias, pois nenhuma destas hipóteses ganham importância por serem atitudes de inconsequentes…
“No momento de intolerância política-partidária-ideológica dentre os que estão próximos da política e de seus partidos, manda o bom senso que haja o máximo de cautela. E não confundir divergência política para matar; com propósito eleitoreiro de cunho antidemocrático para matar adversário ou seus militantes a fim de colocar em risco a Segurança do Estado. Nesta última hipótese a verdadeira conotação do chamado “crime politico.”
Edson Vidal Pinto