Atrasado não é fake
No Facebook não são poucas as postagens que tratam de fatos pretéritos como sendo atuais, cenas gravadas mas requentadas de semanas, meses e até de alguns anos atrás que lemos e muitas vezes encaminhamos para amigos e parentes. Ontem aconteceu comigo esta barrigada. Como sabido no final da última semana três conhecidos ministros do STF -Gilmar, Tofoli e Xandão- estiveram passeando em Londres às custas de empresa particular que lhes pagou (por quê será ?) todas as despesas, para participarem de um evento secreto (pois a imprensa não teve acesso) sobre o Brasil.
E alguém postou ontem uma filmagem dando conta do que aconteceu na saída da tal reunião, que a imprensa não noticiou, onde aparecem as referidas autoridades da república saindo para a rua a fim de entrarem num veículo van, sendo ofendidas com palavras de baixo calão. E os ministros respondiam com risadinhas de deboche. Uma total falta de decoro. Um amigo que recebeu minha postagem esclareceu que o filminho foi de outra reunião, em outro país, fato acontecido há muito tempo atrás. Fiquei charuto por ter remetido uma postagem verdadeira porém que não
correspondia a farra acontecida em Londres. Acho que não foi fake (prática condenável) porque o xingamento público ocorreu, embora em ocasião diversa. Valeu para assistir o tímido constrangimento dos ilustres togados.
-Negativo! - gritou o Tucides no meu ouvido. - O exercício cívico de xingar foi verdade; porém o texto ao referir que a cena foi da saída do encontro na Inglaterra, faz com que o conjunto da obra seja fake!
-?
-Sim senhor, não venha com lero-lero e nem com sofismas …
-Mas…
-Não adianta ficar embasbacado porque sua postagem foi fake, sim!
Achei melhor não polemizar com o meu amigo e admitir que não deveria ter repassado dita postagem, sem aferir a verdade, para não contribuir com notícias inverídicas. Não existe meia mentira, ou é mentira ou é verdade. Logo, cometi erro grosseiro e imperdoável. Quero me penitenciar com o amigo que felizmente me advertiu do erro. Claro que a mídia eletrônica pela velocidade das postagens muitas vezes nos induz em equívocos, sendo difícil uma regulamentação que proíba o fake culposo. Mas é dever daqueles que usam deste meio de comunicação tomar cuidado para não contribuir com inverdades que possam prejudicar terceiros. É por isto que mando poucas notícias que recebo na telinha do meu celular para pessoas que conheço e grupos que participo, preferindo escrever minhas crônicas baseadas em fatos concretos, as vezes com muita dose de ironia e sarcasmos, mas sem me afastar da verdade. Tenho amigos que temem pela minha liberdade e patrimônio face minha maneira clara e real de enfrentar e criticar certos acontecimentos, dando nome aos bois, mas respondo que não escrevo fake, nem ofendo quem não é publicamente ofendido, e me escoro no princípio constitucional do direito de opinião. E no final de cada escrito, assino meu nome. E escrever (muitas vezes para criticar) é a maneira que escolhi depois de me aposentar para preencher o tempo, desopilar o fígado e não enfartar…
“Sei que na atual quadra da vida pública brasileira produzir fake ou falar e escrever verdades, para os olhos do Xandão é a mesma coisa. Só que não é. Uma coisa é uma coisa ; e outra coisa é outra coisa. A verdade escrita ou falada nem sempre dói e machuca quem merece, mas não é crime, pois não passa de direito de opinião garantido na Carta Magna.”