Aventura de ser eleito
Fico imaginando a vida legislativa de um político com assento na Câmara Federal, tendo por missão precípua elaborar, aprovar, debater, aperfeiçoar e emendar projetos que vão se tornar leis, cujas eficácias têm reflexos diretos no contexto social, e com obediência imposta a todos os cidadãos do país. Daí a máxima de que “todos são iguais perante a lei”, como, também, “ninguém está acima da lei”. É claro que a função do legislador é de suma relevância e exige do parlamentar alto conhecimento técnico e discernimento suficiente para criar bases sólidas para a confecção de uma nova lei, atendendo, sempre, o interresse social. Trocando em miúdos: é óbvio que um neófito ou de limitada alfabetização não dispõe de recursos técnicos e nem compreensão para poder legislar ou aprovar projeto de lei proposto por terceiro, na prática participando na Casa das Leis como simples “Maria que vai com os outros”. Dois ótimos exemplos são o deputado federal Tiririca e o Senador pelo Rio de Janeiro o ex-jogador de futebol Romário. Dois campeões de votos e diplomas vivos de burrice aos seus eleitores. Este o quadro geral do eleitorado brasileiro. Tudo por permitir a legislação que gente de pouca escolaridade, índios, presos e beneficiários de “bolsas” do governo federal possam votar, desequilibrando as eleições em benefício de candidatos à reeleição, os desqualificados e os considerados populares (como artistas, milionários, jogadores de futebol e apresentadores de rádio e de televisão). Gente que tem votos garantidos ou condições de comprar muitos votos através de cabos eleitorais. E depois de eleito o sujeito chega em Brasília - a Terra do Nunca que tem Peter Pan e Sininho para fazer a vontade de cada eleito- um mundo de ilusões e luxurias onde tudo acontece, dizem até que tem lá tem Justiça. O novo parlamentar recebe um apartamento funcional (grátis) para morar ou se preferir (como era o caso do ex-senador Álvaro Dias) poderá ser hóspede de um hotel cinco estrelas por conta “da viúva”. Terá direito a usufruir de um gabinete de trabalho no prédio do Parlamento com assessoria e carro de representação. Um desbunde. Aberta a sessão o sujeito cai na real e começa a pensar o que está fazendo naquele local, pois não sabe de nada, não entende nada do que estão dizendo, e aperta o botão para votar quando o Presidente da Casa autorizar e o líder do Partido der o “sim” ou o “não” com a cabeça. O tempo passa e a mesmice continua. Um dia, com vergonha, mas tendo que mostrar serviço para justificar o voto de seus eleitores, o cara resolve elaborar um projeto de lei. Mas qual, como, do quê, para quê?
Passa o tempo e nada de uma boa idéia. Um dia, porém, viu pelo vidro da janela de seu apartamento funcional (340 m2) um cachorro, vira-lata, de cor meio amarelada e teve uma ideia genial: lutar pelos cães excluídos. E foi assim que o digno Deputado Federal Felipe Becari (União Brasil - São Paulo) propôs o reconhecimento do “vira-lata caramelo” como manifestação cultural imaterial, em trâmite na Câmara Federal, com fundamentos de que são cães “bonitos”, “inteligentes” e “leais”, com “olhos marcantes e simpáticos; considerados um símbolo do país”. Putz, não é inacreditável ? Foi o jornal “O Estado de São Paulo” da última sexta-feira que noticiou, trazendo dois comentários de leitores que são dignos de registro: “Deveria estar estampado em uma nota, como o Mico-Leao-Dourado”; e o outro “Mas serão protegidos? Cadê os hospitais veterinários gratuitos?” E pensar que o Brasil está indo a pique, com gente lutando para comer o pão de cada dia, com os impostos subindo e os políticos (a grande maioria) brincando de legislar …
“A política nada mais é do que o reflexo de seus eleitores; todo povo tem o governo que merece. Sem cultura, educação e Justiça, um país não passa de um bando de gente vivendo dentro de um mesmo território. Uma republiqueta sul-americana!”