Avião Velho
Dia de lazer. Tempo escuro e sem sol, próprio para ler uma boa leitura. Sente-se na poltrona preferida, esqueça-se do mundo real e dê asas à imaginação. Feche os olhos, porque eu estou com um livro e vou contar a história para você. Pedro Almeida mora em Curitiba e formou-se engenheiro florestal na Universidade Federal do Paraná. Estudioso, foi contratado pelo governo de Uganda, África, para elaborar um projeto de reflorestamento no interior daquele país. Eufórico com a oportunidade profissional, viveu todas as expectativas que antecedem a viagem. No dia do embarque, a família e a noiva estiveram presentes no aeroporto e desejaram pleno êxito e felicidades no trabalho. Não faltaram lágrimas, porque a ausência perduraria por três longos e intermináveis meses.
Quando Pedro chegou a Uganda foi recepcionado por um funcionário do Departamento de Estado e logo foi conduzido ao melhor hotel da capital. No dia seguinte, reuniu-se com engenheiros do país e tomou conhecimento da região interiorana que seria alvo do seu trabalho de recuperação da floresta. Disseram-lhe que um colega ugandês lhe acompanharia na empreitada. A viagem seria aérea até o lugar indicado, pois existia uma companhia de aviação comercial que fazia o trajeto até aquela localidade. No dia seguinte, Pedro e seu acompanhante de nome Wantuba, um negro forte, alto, cabelo acarapinhado, muito bem trajado de calça jeans, camisa escura e tênis, estavam no saguão do aeroporto aguardando o momento do embarque. O aeroporto era simples, sem luxo e nem pompa, os aviões paravam no pátio e os passageiros tinham que andar pela pista para embarcar. De repente, o alto falante anunciou o embarque e uma multidão de pessoas, em fila, dirigiram-se em direção a mesma aeronave. Pedro pensou, sorrindo com os próprios botões, que com certeza muitos passageiros teriam que ir de pé. Pois o avião era antigo, de três rodas, modelo DC2, ano de 1952, que parado ficava com a traseira quase arrastando no chão. Olhou melhor os passageiros e viu que muitos deles não tinham mala, carregavam nas costas sacos de estopa, com pertences dentro. E por incrível que possa parecer todos foram acomodados nos respectivos assentos! E sem delongas o avião levantou voo.
O tempo estava ensolarado e sem nuvens. Agradeceu a Deus, porque a viagem com certeza seria tranquila. E foi até chegar ao aeroporto do destino. O comandante anunciou que colocassem o cinto e não fumassem porque logo iriam aterrissar. Pedro olhou pela janela e apreciou ao longe o relevo da região, a mata, uma cidadezinha diminuta, e respirou aliviado. Os minutos foram passando e nada do avião aterrissar. Olhou pela janela e viu passar pelos seus olhos o mesmo relevo da região, a mesma mata e a mesma cidadezinha diminuta, logo deduziu: estamos dando voltas! Por quê? Seu coração acelerou. Viu que a porta do comando da aeronave se abriu e de seu interior saiu o copiloto, sorrindo e andando vagarosamente até o meio do corredor do avião, quando se agachou. Afastou o carpete do assoalho, destravou uma portinhola, e através dela pegou uma maçaneta na tentativa de conseguir baixar o trem de aterrissagem. As rodas não tinham descido! Pedro começou a respirar fundo e rezar. O homem fez força e nada. A aeromoça foi ajudar, mas nada aconteceu. O copiloto foi chamar o comandante. Este deixou o avião no piloto automático, saiu da cabine, e foi ajudar a fazer força. Os passageiros se agitavam e falavam alto. Então, a manivela funcionou e as duas rodas principais abaixaram. Todos aplaudiram! Enfim estavam todos salvos! Mas quando o comandante e seu auxiliar voltavam à cabine depararam que a porta de aço estava trancada por dentro, por um dispositivo de segurança. Ela fechou e travou sozinha! Como entrar? Nova onda de preocupação tomou conta dos passageiros. Pedro estava derretendo de suor. Foi quando o comandante disse que só um machado é que poderia derrubar aquela porta. Quando terminou de falar a maioria dos passageiros abriu os sacos, que estavam no bagageiro de mãos, e retiraram de seu interior machados de todos os tipos e tamanhos. E assim a porta foi arrombada e Pedro pode contar esta história. Ela é verdadeira. Juro que ela é verdadeira!
E assim terminei de ler a história para você. Psiu, você escutou bem? Ou dormiu? Quer que eu repita? É uma aventura e tanto! E foi verdade, ou não foi?