Balas & Lembranças.
Sábado, 28 de janeiro.
E como é sábado, nada melhor do que subir no sótão do tempo, abrir o baú, e remexer em velhas recordações. Saída das aulas do Grupo Escolar Alba Guimarães Plaisant, anexo do Instituto de Educação do Paraná, prédio histórico da Rua Emiliano Perneta, hoje em estado de total abandono pelo Governo estadual.
Na calçada do portão principal dois senhores, cada qual de jaleco branco, portando pequenas mesas de estrutura de vidro sobre cavaletes de madeiras, vendiam às vezes "canja americana" e "quebra queixo" (doce de coco) que eram cortados em pedaços com espátulas de metal e acondicionados em papel manteiga, e em outras, balas e outros doces que faziam a alegria dos estudantes e transeuntes que por ali passavam. Imperdível era a bala de "gasosa" que ao ser colocado na boca parecia "ferver" até acabar.
Neste exato momento quando escrevo esta crônica sentada em minha poltrona favorita, parece que sinto o sabor dessa bala, da canja americana cortada em pedaços quadrados e o gosto inesquecível daquele doce de coco, higienicamente guardado dentro do tabuleiro.
Não era apenas os alunos do curso primário que compunham a clientela dos baleiros, as meninas moças do Curso Normal ( que formava futuras professoras ), também. Guloseimas que ficaram no passado! E assim como jogar pião, empinar raia, praticar bilboquê, brincar de "cela", ping-pong, ioiô e construir carrinho de rolimã era cíclico, ou seja, tinha seu tempo certo, colecionar
"Balas Zequinha" era um dos momentos mais esperados. Parece que os fabricantes dessas balas colocavam as mesmas no mercado uma ou duas vezes ao ano, não sei bem ao certo. Era a coqueluche das pessoas de qualquer idade.
À bala em si era sofrível, o mais importante era a figurinha que servia de invólucro. O personagem sempre era o "Zequinha", um sujeito baixinho, atarracado, que era desenhado com trajes diferentes em cada figurinha. Dava para colecionar e tinha um álbum (que não era importante) para colar as figuras. Eram 100 figurinhas do "Zequinha”: alfaiate, Papai Nobel, professor, caçador, chinês, jogador de futebol, cantor, cozinheiro, aviador, bombeiro, assaltante etc, etc.
Bom mesmo era não colar a figurinha no álbum, para poder trocar, jogar "tíquete”, jogar "bafo" e guardar em carteira de papelão, feita com tiras de fitas estreitas, ardilosamente coladas onde as figurinhas ficavam presas de um só lado e conforme o movimento que era feito, deixava livre o outro lado para tirar o "Zequinha".
A "Bala Zequinha" também sumiu no rodamoinho do tempo. Tinha ainda bala mais sofisticada: a de alcaçuz. Esta era encontrada na "Copenhagen" da antiga loja da Rua XV de Novembro.
Sumiu das prateleiras. Nas sessões de cinema era quase um ritual litúrgico levar o dropes "Salva-Vidas”, "Dulcora" e a bala de goma, dura, de hortelã comprada na fila de espera ou na bomboniere que era mais caro.
E dessas reminiscências encerro escrevendo sobre a tradicional "Bala de Ovos” de sabor inigualável. Quem aproveitou, aproveitou! Dias atrás no shopping, comprei certa quantidade de balas de goma, todas diferentes umas das outras, coloridas, mas com um só gosto. O sabor das balas era igual, a única diferente era a de pura anelina que de tão azeda enrijecia a mandíbula bem perto dos ouvidos.
Meu Deus exagerei nos doces ao escrever sobre uma época que vive somente na lembrança de poucos. Fiquei com vontade de sentir o gostinho "daquela" bala de canela redondinha que ainda é encontrável nas prateleiras de supermercados, hermeticamente colocadas em pote de vidro.
É a única bala que ainda sobrevive à revolução socio-cultural contemporânea. Paro por aqui. Pela primeira vez na vida me deu vontade de fazer compras no mercado, em pleno final de sábado! Balinhas de canela, lá vou eu!!