Balas? Sim, balas!
Sei que não é próprio num mundo de tanta violência falar em balas, mas elas sempre lembram o mais doce sabor da vida. É verdade. Não me refiro às balas de revólveres ou de qualquer outra arma que sirva de ataque ou de defesa, mas das balas açucaradas que habitam o nosso imaginário.
É pena que os quarentões de hoje não tenham vivido no tempo em que as balas eram compradas pela piazada as duras penas, nos botecos, armazéns e bares porque os pais não tinham dinheiro para serem desperdiçados com guloseimas que faziam mal aos dentes de seus rebentos.
Era na virada de cada ano que as crianças tinham oportunidade de ganhar moedas de cruzeiros, quando deixavam de lado a timidez para abordar os adultos que passavam na rua, na frente de casa:
- Moço, boas entradas de Ano Novo!
- Para você também! - respondia o transeunte para em seguida tirar do bolso uma moeda de dinheiro e presentear quem lhe havia saudado.
Tradição que deixou de existir desde que os filhos deixaram de pedir “bênçãos” para o pai e para a mãe antes de dormirem; ou quando deixaram de usar o tratamento respeitoso de “Senhor “ e de “Senhora “quando seus genitores chamavam.
Foi uma época da Curitiba toda nossa, de aspecto provinciano, de garoa fina e cerração que não permitia enxergar os campos úmidos que existiam nos espaços vazios entre casas e pequenos prédios construídos na cidade. Tempo das galochas, da calça “farwest”, da “Alpargatas Roda”, da “Fumeta” para espantar os mosquitos, do Banco Comercial do Paraná, das Farmácias Minerva, da Casa Sloper, da Casa Glaser e do Cine Arlequim.
Mas e as balas? Ah, sim, as balas de sabores inesquecíveis que vale a pena lembrar-se de algumas delas que foram coqueluche de algumas gerações e que só de pensar chega a dar água na boca. Quem esqueceu do gosto da “Bala de Ovos”? Eram redondas e amarelinhas que quebrava entre os dentes em pequenas lâminas de açúcar até se dissolverem.
E as “Balas de Gasosa”? Elas tinham forma amendoada e sabor refrescante. E a “Bala de Açúcar” vendida na Copenhagen, sem forma definida, cristalina que machucava um pouco a bochecha mas que ninguém ligava nenhum pouco. E a”Bala de Mel”? Enrolada em papel com o desenho estampado de uma abelha, com a seiva do mel que vertia do seu núcleo central.
E as “Balas” de “Amendoim” e a de “Hortelã” que eram vendidas por dois senhores ambulantes, vestidos de jaleco branco, acondicionadas dentro de um tabuleiro de vidro que ficava suspenso sobre um triplé de madeira colocado na calçada da frente do Instituto de Educação do Paraná.
Eram maravilhosas. Eles também vendiam a “canja americana” que eram cortadas com estiletes, em pedaços pequenos e acondicionadas em um tubo feito de papel manteiga. Era um verdadeiro néctar dos deuses! E alguém já esqueceu as famosas e tradicionais “Balas Zequinhas”? Putz, o sabor era horroroso, doce demais, mas o que valia mesmo era colecionar as figurinhas do “Zequinha”, um mesmo personagem que se vestia a caráter para cobrir a galeria de cem tipos de profissões diferentes.
E as figurinhas serviam de acordo com a utilidade pretendida pela gurizada: para colecionar; jogar “bafo”; servia como moeda de pagamento no jogo de burico, tíquete, troca de figurinhas e tudo mais que a imaginação da petizada pudesse alcançar. E quem não se lembra da “Bala de Goma Dura”, também da Copenhagen? Era colocar na boca e ela não tinha fim, porque de tão dura não era mastigável e levava muito tempo para dissolver totalmente.
Também tinham os dropes: o “Dulcora” que eram quadradinhos multicoloridos colocados uns sobre os outros e cada um enrolado em papel celofane; e o “Salva-Vidas”, acondicionado de igual maneira, mas eram redondos com a parte central furada, com anilina que chegava a sair água dos olhos. Puxa, estava quase se esquecendo da “Bala Azedinha”, de cor vermelha, enrolada em papel celofane transparente, que colocada na boca chegava a “arder” até os gorgomilos.
E tinha uma variante: dissolver uma ou duas balas azedinhas em um copo de água bem gelada, para “parecer” um refrigerante e tomar até o último gole. Com o perdão da palavra: as balas vendidas hoje nos shopping glamourosamente americanizadas de “Candy” são bonitas de ver, porém todas elas têm o mesmo sabor e são enjoativas. São boas para que não tivesse oportunidade de saborear as balas que não existem mais.
E pasmem: até os pirulitos modelos “chupeta”, “ursinho” e “chupetão” estão difíceis de encontrar. E por último lembrei aqueles pirulitos de formato de “sombrinha” fechada, vendidos nos tabuleiros dos parques de diversões, filas de cinema e principalmente nos circos que se instalavam na cidade.
É tanto açúcar envolto em sonhos que acho melhor parar de escrever, pois só de pensar nas balas de “ontem”, acho que minha barriga já dilatou mais um centímetro de diâmetro...
“Viver a vida sem desfrutar do prazer de um bom doce, seja ele qual for, é menosprezar a alegria de estar vivo. Uma bala açucarada que é colocada na boca faz qualquer pessoa esquecer das amarguras do cotidiano-, o gosto adocicado e prazeroso desperta o bom humor e abre a porta da felicidade!”
Edson Vidal Pinto