Cadê? Cadê? Cadê?
É parece mentira mas não é , pois o fato que vou narrar com certeza vai despertar curiosidade e muitos não vão acreditar. Mas eu insisto : vou escrever a verdade e nada mais do que a verdade porque fui informado por uma fonte fidedigna, que não identificarei por pura questão ética o nome do informante que levarei comigo para a sepultura. Espero ao menos que àqueles que conhecem minha biografia de cidadão honrado não duvidem jamais do que minha verve de literato vai registrar para a história. É a minha contribuição para Herodoto. Começou assim toda a verdade.
Meu informante disse que como jornalista foi fazer uma reportagem na Cracolândia em São Paulo e procurou entrevistar os tipos fisicamente mais curiosos, também os bem vestidos e os esfarrapados. Foi justamente quando estava no meio destes últimos que lhe chamou a atenção um velho, meio cínico, que olhava interessado para todos os lados, por isto aproximou-se dele e perguntou:
- Qual é o seu nome ?
- Diógenes …
- E por quê está olhando para todos os lados ? Está querendo achar alguém ?
- Um homem ! - respondeu altivo.
- E achou ?
- Desde que sai da Grécia e percorri muitos países não achei nenhum …
- Já foi para Brasília ? - perguntou o jornalista.
- Sim, andei por lá …
- Esteve no STF ?
- Ora, você está querendo me sacanear ? Estou procurando um homem, não se esqueça !
- E no Congresso Nacional ?
- Pura perda de tempo …
Me disseram que eu acharia um homem em São Paulo e vim para cá. Fui no Palácio Bandeirante falar com o governador, mas que decepção!!! Resolvi procurar na Cracolândia mas até agora não achei ninguém. Enquanto o jornalista conversava com Diógenes surgiu de repente uma moça loira, bonita, bem trajada, tida como “chefa” do tráfico do local e que fora presa em flagrante mas foi solta graças a um habeas corpus concedido pelo Gilmar, ela ouviu a conversa e falou para o velhote:
- Se você quer achar mesmo um homem fique nas imediações do Sindicato dos Metalúrgicos em São José dos Campos e você achará quem está procurando.
- Obrigado boa e recatada moça. - agradeceu o ancião.
E como o informante, digo , o jornalista meu amigo ficou interessado no epílogo da história resolveu levar Diógenes de carro até o onde a moça havia indicado. Chegando nas imediações do sindicado ambos desceram e começaram a percorrer as ruas próximas, onde poucos pedestres passavam. E assim passaram as horas. Ficaram no ponto de desistirem porque enquanto Diógenes gritava : “Quero um homem !” as pessoas fingiam que não ouviam ou respondiam com gestos obscenos. Mas aconteceu o inusitado quando o portão do sindicato abriu saiu para a rua um baixinho, barbudo, com nove dedos e meio nas mãos, com cara de borracho mal dormido, pálpebras caídas que ao ouvir os gritos do velho grego, respondeu :
- Companheiro, você quer um homem para quê mesmo ?
- Para poder acreditar na humanidade pois desde Atenas estou buscando um único homem e ainda não encontrei .
- Companheiro, pois fique sabendo que você está na frente de um.
Diógenes tirou da cinta uma lanterna de pilha e ligou, direcionando o facho de luz nos olhos do “homem”.
- Ops, companheiro, a luz está atrapalhando minha visão.
Diógenes desligou a lanterna. Olhou fixamente para o baixinho e perguntou :
- Você é o homem que eu quero achar ?
- Sou, já disse.
- Prove. - sentenciou o grego.
- Nenhuma cadeia me prende …
- Eu quero um homem e não um herói do STF - respondeu Diógenes.
- Eu transformo dinheiro em estádios de futebol, pago Copa do Mundo de Futebol, Olimpíadas e Pan..
- Eu já disse que quero um homem e não um ilusionista.
- Camarada Diógenes, pois fique sabendo que eu sou muito homem : eu roubo e deixo roubar;
sou amigo dos amigos e financio nos seus países obras do primeiro mundo.
- Meu caro eu quero um homem na acepção do termo e não um pródigo que dilapida o dinheiro da pátria. - respondeu cinicamente o filósofo grego.
- Companheiro, não estou gostando nadinha das suas respostas pois fique sabendo que eu sou o filho do Brasil ! - disse aborrecido o Luiz Ignácio.
- Ora, ora, meu filho por quê não disse no início de nossa conversa que você é o filho do Brasil. - ponderou Diógenes.
- E isto de ser filho do Brasil, camarada, dá alguma certeza de que serei escolhido como o homem que você procura ?
- Longe disso. - respondeu o filósofo. Pois se eu soubesse disto nem perderia tempo com sua conversa mole.
- Mas como ? Por quê ?
- Ora, país que elege pinguço e analfabeto para Presidente da República só pode ter mesmo é filho mentiroso. - Arrematou Diógenes. - Eu quero um homem de verdade, autêntico, com bons propósitos, honesto e inteligente.
O Luiz Ignácio ouviu, engoliu seco e foi saindo de fininho como quem não sabe de nada.
- Eu quero um homem !-continuou gritando Diógenes com a lanterna ligada em sua mão. Bem distante surgiu um vulto atraído pela voz do ancião que foi se aproximando cada vez mais e quando chegou perto do velhote falou :
- Eu sou o homem que tu procuras , grande Diógenes !
Diógenes que não sabia quem era fez uma pergunta diferente :
- O que você faz na vida para dizer que é o homem que procuro?
- Bueno, tchê. Yo sou governador do Rio Grande do Sul, para servi-lo!
E a história parou neste ponto porque o texto está ficando longo demais e porque Diógenes encontrou o homem que tanto procurava, o grande amor de sua vida …
“Um filósofo grego que sai com uma lanterna na mão procurando um homem, dá para desconfiar. Esta crônica conta uma história, desvenda um segredo e traz a verdade nua e crua de uma busca que começou em Atenas e terminou no ABC paulista.”
Edson Vidal Pinto
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