Cartas na Mesa.
A vida prega surpresa que a gente nem imagina. Tenho um amigo, amigo mesmo, amigo daqueles que a gente agradece a Deus por tê-lo encontrado; só que ele é meio temperamental e de duvidoso gosto culinário.
Amizade nascida nos bancos universitários, cinco anos dividindo as mesmas obrigações, alegrias e sobressaltos. Nem parece que já completamos jubileu de ouro do nosso Curso de Direito, pois o tempo passou depressa demais, mas apesar disto sempre nos encontramos pelo menos uma vez por mês.
Para festejar. Sim, é verdade, um reduzido grupo da antiga sala de aulas têm se encontrado para matar as saudades daqueles bons tempos, contando com as companhias de alguns agregados que vieram somar a nossa “irmandade”. Meu amigo Clodoaldo faz questão que a reunião seja sempre em sua residência, próxima do Parque Barigui, onde podemos ouvir o canto das saracuras e o som das pinhas caindo do grande pinheiro, sobre o telhado da residência.
É o momento especial em que nem as telhas resistem. Nas noites de reunião, Clodoaldo sempre serve um lauto jantar, com bom vinho e sobremesas para ninguém colocar defeito. As despesas são irmãmente divididas. Pena que a escolha do cardápio, às vezes, deixa muito a desejar.
Tem temporadas que lhe falta bom gosto. No mês passado fez “rabada”, certo? Errado. Nem todos os convivas gostam desse prato, houve protesto coletivo igual àquele que os caminhoneiros fizeram e ele teve que “se virar nos trinta” para substituir na hora “agá” à comida. E conseguiu, mas retribuiu com refinados impropérios para desopilar seu fígado germânico.
Fruto do seu controvertido temperamento. E sabe por que ele é tão irreverente?
- Pela osmose! - sugeriu o Bobson, nosso amigo comum que é escritor de livros.
- Osmose? - Perguntei por não saber o motivo.
- Claro Clodoaldo é parente a fim do Requião!
Daí caiu à ficha e acabei concordando. Para ele com qualquer “pé de galinha” faz uma “canja”; gosta de falar alto e discutir por discutir. Dias atrás conseguiu encrencar e ficar brabo consegue mesmo, tudo por que se esquecera do motivo pelo qual ele não gostava do seu famoso parente.
Aliás, falar no nome deste parente é como declarar guerra armada: ele vira um bicho! Mas não falta quem provoque só para medir a intensidade da reação. De outro viés, diga-se a bem da verdade que na “confraria” tem até médicos, permitindo, assim, alguns excessos nos condimentos usados pelo nominado mestre-cuca na comida que prepara.
O assunto principal dos jantares nem sempre é política, mas o Lula não é esquecido por ninguém. Estou escrevendo sobre o Clodoaldo porque hoje é dia do nosso jantar. Como é sábado, o encontro é bem próprio para jogar conversa fora e rir, pelo infortúnio de vivermos num país desgovernado. Só que o anfitrião para abusar de seus confrades resolveu antecipar a provocação e revidar, pelo sufoco que passou no mês passado, anunciando no WhatsApp da turma o cardápio, para logo mais à noite:
“APERITIVO
Iscas de miolo de boi à milanesa;
PROMO POSTO
Risoto de testículos e rim.
Fígado a Parmegiana
SOBREMESA
Gelatina de mocotó “.
Mas a maior surpresa será dele e não nossa pela exibição antecipada do seu “receituário” de pratos “exóticos”. Eu convidei seu parente e desafeto para comparecer no jantar, a fim de uma reconciliação em família. E como é véspera de eleições ele aceitou.
E como dizia o saudoso Chico Anízio, quando fazia o seu famoso personagem “O Vampiro Brasileiro”:
- Me aguardem, porque esta noite será “Maligna”!
“Quando turma de faculdade se reúne é pretexto para voltar à adolescência. Parece que o tempo passou e ninguém chegou à quarta idade. Ufa, ainda bem, pô!”
Edson Vidal Pinto