Charada Cultural
Com tantas besteiras soltas no ar como reflexo das diversas campanhas políticas eclodindo como erupções vulcânicas e com as universidades cada dia mais politizadas e menos educativas, está difícil para o brasileiro deixar a mesmice de lado e alcançar o Nirvana.
Pudera uma Nação que tem na vida pública indivíduos como o Luiz Ignácio, o Toffoli, o Requião, Gleisi, Luiz Edison, Haddad , Dilma, França, Freixo, Benedita, Maria do Rosário e Ciro não pode esperar muito do futuro e muito menos ser bafejada por um só sopro de cultura. Ah, cultura , o Machado de Assis deve ter se virado na tumba quando soube que até o Gil vestiu o fardão da Academia para se tornar imortal, um estranho muito esquisito no vetusto ninho de Astrogesilo de Ataíde.
Até na música a Anitta e o bichona do Pablo Vittar conseguiram um lugar na clave de sol o que dá um dó danado para quem um dia ouviu Elizete Cardoso e Cauby Peixoto. E na poesia então ? Quem leu Olavo Bilac, Vinicius de Morais, Guilherme de Figueiredo e suportou Ferreira Gullar e Murilo Mendes com certeza sentiu uma enorme diferença quando rimar era tudo e sem rimar a poesia é uma meleca.
Quem um dia teve na economia um Roberto Campos não pode nunca se contentar em aprender com Guido Mantega como administrar as finanças públicas de um país que pretende ser sério. E na comédia então ? Quem num só espetáculo se deliciou com Oscarito, Golias, Mazzaropi e Chico Anisio e hoje assiste incrédulo um tal de Marcelo Adnet, Fábio Porchat e Tatá Verneck
com certeza nunca riu na vida ou nuca soube o que é rir com a graça alheia.
E se compararmos o ontem com o hoje é forçoso reconhecer que o povo brasileiro está precisando mesmo é da volta do Mobral como única maneira de ensinar a ler livros didáticos do tipo ABC, aprender aritmética e escrever em caderno de caligrafia para não ter letra de médico.
O Brasil precisa de uma luz de inteligência que ilumine a população e afaste do caminho os encardidos, ignorantes e pseudos profetas.
- Eis o homem ! - bradou no meu ouvido o meu amigo Tucides, apontando para uma pessoa de cabelos brancos, túnica branca e sandália de couro que estava ao seu lado. Olhei surpreso e permaneci calado.
- Apresento-lhe Pictus, o filósofo grego ! - disse com ar de imponência e respeito ao mesmo tempo. E prosseguiu :
- Pictus foi discípulo de Aristoteles e está viajando pelo Brasil para saber como está sobrevivendo a democracia criada na Cidade Estado de Atenas. Eu casualmente o encontrei tomando um cafezinho na Boca Maldita e daí nos tornamos bons amigos.- concluiu Tucides.
- Muito prazer, Pictus. E o que está achando da nossa democracia ?
- Uma zorra. - respondeu o filósofo de maneira curta e grossa.
- E tem salvação ? - quis saber.
- Sim, mas só se o Luiz Ignácio vencer as eleições …
- Mas logo ele ?!
- É claro. Pois ele é honesto, ético, culto e Corinthiano !!! -
Não entendi nada do que o filósofo falou e olhei de soslaio para o Tucides que virou o rosto para o outro lado.
- Com todo o respeito Pictus, não estou entendendo nada do que está dizendo : pois o Luiz Ignácio é antidemocrático …
- Engano seu, meu caro. Ele é um homem de invulgar sapiência, um administrador como poucos, um Midas e um homem santo.
- Não, não mesmo ! - retruquei com deselegância. - É claro que não estamos falando do mesmo Luiz Ignácio. O seu Luiz Ignácio deve ser outro e não o que o brasileiro conhece muito bem.
- Nada disso , estamos falando da mesma pessoa - reafirmou o grego.
- Mas o cara não tem um pingo de cultura ?!
- Cultura ele tem prá dar e vender - insistiu Pictus.
- Prove, então ! - provoquei.
- O Luiz Ignácio anda nas ruas ? Não, não é mesmo ? E lidera as pesquisas …
Tive que concordar.
- Ele roubou tudo que viu e que pode e nunca foi condenado …
Tive que concordar.
- Ele ficou milionário sem trabalhar …
Tive que concordar.
- Ele enganou meio mundo e nunca perdeu nenhum eleitor …
Tive que concordar.
- Ele é doutor “Honoris Causa” pela universidade americana de Columbia …
Tive que concordar.
- Logo : ele é culto ou ignorante ? - perguntou o filósofo.
Tive dificuldades para responder e enquanto eu pensava o Tucides se afastou levando o Pictus para longe. Levei algum tempo ruminando sobre a pergunta que me embasbacou. Nem reparei que o Tucides voltou desacompanhado e apenas para me dar um recado de Pictus :
- Amigo, o filósofo mandou lhe dizer que você tem toda a razão, o Luiz Ignácio é inculto mas não é burro; porém acéfalos são todos os seus eleitores…
“Cultura é jogo de palavras, frases bem concatenadas, conhecimento geral, harmonia musical e rimas bem feitas. Não é burro quem usufrui da ignorância alheia. Porém acéfalo é quem vota em ladrão.”
Édson Vidal Pinto