Chutar a mesmice
É uma tortura estar penando uma reclusão forçada e ter que ficar em casa olhando a rua apenas através da janela. E o pior é quando alguém telefona para conversar:
- Alô?
- Oi, amigo tudo bem?
- Tudo e você?
- Na mesma de sempre, sabe que este vírus está enchendo a paciência, você não acha?
E o assunto passa a ser as últimas notícias do Covid-19, o número de mortes, o Bonner, o caos econômico e assim por diante. Você procura esquecer da pandemia mas não tem por onde. Ou então toca o telefone e você atende:
- Alô?
- Oi, amigo tudo bem?
- Tudo e você?
- Na mesma de sempre, sabe essa crise política do país está enchendo a paciência, você não acha?
E o assunto passa a ser a imprensa, o STF e falar bem ou mal do Presidente da República. Parece que o mundo parou, pois, estes dois assuntos fazem parte
do nosso cotidiano. Ninguém mais lembra da criminalidade, do Papa, da dengue, do Lula, da Marielle, da Maria louca e nem do futebol. Vira e mexe a conversa sempre é a mesma; se você defender o governo você é um golpista e se meter o pau você se torna um petista de carteirinha. Não tem meio termo.
E ai se você insinuar que o Exército tem que intervir para colocar a Casa em ordem, pois você passa a ser um facista. É assim ou não é? Ninguém tem o direito de ter opinião própria e nem propor a solução que entenda viável, pois sempre tem aqueles que são do contra e querem que prevaleçam as suas opiniões sobre há dos outros. E estes se rotulam de democratas, legalistas e protetores da Constituição Cidadã. E alguns chegam ao exagero de não permitir que ninguém critique o STF sob pena de ficarem de mau, fazerem grosserias e virarem a cara com quem falou.
Parece que entramos na idade das trevas onde opinar é crime, salvo que seja de acordo com o que o outro pensa. Como assim? Depende com quem você esteja falando pois se for com alguém contra o Bolsonaro você, para manter a amizade, deve xingar o homem até a quinta geração. Mas se ele estiver alinhado então você deve se enrolar na Bandeira Nacional e recitar uma ladainha todinha contra “os do contra”. E caso você queira dançar música diferente você estará na rua da amargura, sem pai e nem mãe, jogado aos leões. Puxa, quanta hipocrisia e falta de bom senso.
É claro que a ideologia só serve para dividir opiniões e censurar àqueles que não pensam da mesma maneira, mas se dizer democrata e não permitir divergência é desmentir o que professa. Nem tanto o céu e nem tanto a terra. Inaceitável é mentir, fazer ilações e alterar a verdade dos fatos para satisfazer interesses mesquinhos; não o direito de poder externar livremente opinião e defender ponto de vista.
Porém chegamos num estágio de convivência que ninguém aceita ser contrariado e muito menos admitir um erro. A intolerância é a tônica do atual momento porque os nervos estão na flor da pele e as preocupações financeiras estão chegando no limite máximo. Todos querem ter razão e ninguém quer ficar mudo por um minuto contando os dez segundos para não retrucar e falar o que não deve. Com certas pessoas é sempre bom falar de amenidades ao invés de coisas sérias para não ficar chateado ou aguentar as consequências.
O melhor é deixar a mesmice de lado quando possível, para falar de viagens, cinema, música, “causos”, anedotas, da vida alheia mas nunca falar em política e nem do vírus. Estes dois temas são buchas de canhão pois só servem como motivos para perder o respeito e as amizades. Eis aí um bom e prudente conselho, não é mesmo? Pois bem: façam o que eu digo e não façam o que eu faço ...
“Se conselho fosse bom ninguém dava -, pois o egoísmo não permitiria.
Deixar a mesmice de lado é chutar o balde cheio de assuntos rançosos. Para mudar a música é necessário mudar o disco. Pois o uso do cachimbo sempre deixa a boca torta.”
Edson Vidal Pinto
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