Cidade Triste
Quem um dia correu atrás de balão feito com esmero e perfeição pelo “seo” Alberto Gottardi, o mais atleticano de todos os atleticanos, e de sua querida família sabe muito bem quando olha para o alto e vê a lua e as estrelas, que as noites juninas não são mais as mesmas.
Faltam centenas de tipos de balões que coloriam o céu de Curitiba; apagaram as fogueiras das esquinas dos bairros onde a vizinhança reunida comemorava festivamente as datas de Santo Antônio, São João e São Pedro/São Paulo.
Não faltavam os fogos de artifícios estourando aos milhares por toda a cidade, as quadrilhas caipiras e as guloseimas regadas com gostoso quentão.
- Olha o balão, Zé! Acho que vai cair ...
- Vamos correr atrás, não podemos perder pois ele está em nossas mãos!!
E num piscar de olhos surgiam de todos os lados dezenas de piás correndo como um enxame de gafanhotos para pegar o mesmo balão, que ao final era “buchado”. Não sobrava meio metro de papel de seda porque tudo virava picadinho.
E hoje? Nem as crianças e nem adultos de quase cinquenta anos de idade sabe ou lembra de ter participado de uma destas festas, salvo quando das representações em festas escolares. A modernidade baniu os balões com medo do fogo de suas tochas, as esquinas e ruas ficaram perigosas e a mercê de marginais, os foguetes além de caro também caíram de moda e as guloseimas são agora vendidas em pequenos espaços públicos.
Ninguém mais lembra nem dos nomes dos Santos festivos do mês. A tradição cedeu lugar à televisão e ao medo. Ontem saí de carro como Uber de minha mulher depois de longo tempo sem arredar os pés de casa e encarei a realidade de nossa nova Curitiba, - vi que a cidade não é mais a mesma porque seu aspecto é desolador, o povo com máscara no rosto caminha com tristeza nos olhos, o comércio minguou.
Tantas e tantas portas de casas comerciais estão fechadas, os pequenos e médios empresários que fazem circular o dinheiro estão aos poucos desaparecendo.
A crise do vírus está começando a deixar um rastro profundo de miséria e desesperança. É tanto medo que a população está ficando amorfa, sorrindo pouco e no rosto exteriorizando com o cenho fechado toda a sua preocupação. Depois de certa hora da tarde quando começa a escurecer a cidade fica vazia, poucas pessoas se atrevem a andar pelas calçadas numa demonstração visível de que não somos mais os mesmos. A guerra psicológica travada pelos políticos ao redor do vírus está matando a vontade de sorrir:
- Filhinho. - diz a vovó no telefone para o seu netinho que está ouvindo do outro lado da linha - Venha, venha na casa da vovó, estou com muitas saudades!
- Não posso vovó, o vírus não deixa ...
- Mas aqui na casa da vovó tem um muro invisível que não deixa passar o vírus!
- Mesmo assim vovó eu não vou, quem garante que um vírus não possa entrar escondido?
É só a inocência de uma criança que nestes momentos de incerteza consegue amenizar um pouco o clima de desalento que estamos passando. E até onde vamos com tudo isso que está acontecendo?
O amanhã não será nada fácil para ninguém, mas com certeza haveremos de achar uma saída para dar a volta por cima. Não será fácil, repito, mas também nada impossível para quem acredita num Grande Arquiteto dos Mundos, Aquele que um dia já se sacrificou para salvar seus filhos ...
“2.020 está sendo um ano perdido, porque o mundo, os sonhos, os ideais de vida e as esperanças tiveram que parar na frente de um vírus.
Mas nada dura para sempre. E quem acredita num Criador Incriado sabe que depois da tempestade, sempre vem a bonança!”
Edson Vidal Pinto
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