Cinema de Bairro.
De volta ao passado. Desde que me conheço por gente, tenho testemunhado a mudança ocorrida em Curitiba, berço onde nasci e vivo com minha família. As novas gerações com certeza não vivenciaram os tempos distantes onde tudo era difícil, mas prazeroso, pelos momentos inesquecíveis.
Época em que o núcleo familiar era o princípio, o meio e o fim; o pai era o chefe da família por ser o provedor, mas a mãe reinava e quase sempre tinha a última palavra. Quando os filhos casavam todo domingo o almoço era na casa dos pais, onde o encontro era um ritual, com conversas, atritos, a comida da mamãe ou da vovó, o tradicional jogo de buraco, as crianças brincando no quintal, um corte no joelho ou um “galo” na cabeça.
E no finalzinho da tarde a despedida com a promessa de retorno no domingo vindouro. As desavenças eram esquecidas. A vida era simples, poucos tinham dinheiro suficiente para ostentar; os carros importados quase sempre eram de segunda mão: Prefect, Opel, Ford, Chevrolet, Mercury, Austin, Citröen, De Soto e outros tantos. Não existia TV, a coqueluche eram os filmes americanos. E os cinemas lotavam. Meu saudoso tio Emílio Merlin, casado com a irmã mais velha de minha mãe, Juvelina, morava na Rua Santa Catarina, número 19, uma quadra da Av. República Argentina. Naquela época a família Merlin, imigrantes italianos, residiam uns próximos dos outros naquele mesmo bairro do Portão e adjacências.
Meu tio e seu irmão Ermelino, eram proprietários da “Serraria Merlin & Merlin”, localizada na mesma Av. República Argentina, próximo do então “Posto de Gasolina Rutz”. Em uma casa vizinha à residência do meu tio, morava um seu primo de nome Remi Merlin, comerciante, que para seu deleite comprou uma máquina de cinema. Foi quando meu tio teve a ideia de construir um barracão, com bancos de madeira, no quintal da serraria para servir de cinema para a família e moradores do bairro.
Foi um sucesso. Todo o sábado à noite as pessoas lotavam o barracão para as sessões de cinema. As fitas eram alugadas da MGM, Universal, Columbia e United Artist e por isto era cobrado ingresso, apenas para cobrir os custos da locação. Crianças não pagavam. Nunca faltou pipoca, pinhão e outras guloseimas que os frequentadores levavam e dividiam entre os presentes. Foi ali que convivi quase toda a minha infância, vibrando com os filmes de faroeste, os seriados do Super-Homen, Batman, Flash Gordon, e os impagáveis pastelões do Gordo e o Magro e Os Três Patetas.
O cinema perdurou por alguns anos até chegar à televisão. Foi bom enquanto durou. Foi um tempo em que os relacionamentos familiares eram estreitos, entre pais com os filhos, noras e genros, tios, sobrinhos e primos.
E hoje? Cada vez mais distanciados, parentes que só se encontram em casamentos ou enterros.
Os parentes mais velhos isolados e esquecidos, os adultos lutando para sobreviver e os mais jovens vivendo o mundo da eletrônica. A família se decompõe, a ideologia mata até a natureza humana, forçando o menino a ser menina, para que os gays se ufanem pelo que são. A moral e a ética estão sendo banidas da sociedade.
Esta é a triste constatação. Ah, que saudades daquele rústico cinema de bairro, onde aprendi a viver, conviver e respeitar as pessoas. Ao invés das odiosas cotas raciais para ingressar nas universidades, ensino de ideologia nas escolas e igualdade de gênero, as pessoas deste novo século deveriam se preocupar em olhar bem mais para o Alto, para Ele, do que para seus pequenos mundos...
“Valores. Preservar a família, os amigos do coração e respeitar o próximo, são os tesouros da vida. Nenhum aprendizado é maior do que este. Tudo o mais é fruto da intolerância, discórdia e inveja”.
Edson Vidal Pinto