Cristal Lascado.
Sábado, O5 de agosto de 2017.
Como é difícil entender o gênero humano. Para muitos parece que a felicidade de uns é sinônimo de inveja para outros. No mundo em que vivemos tem pessoas que não se satisfazem com o que têm porque sempre dizem frases recheadas de maledicência que servem de aríete para cutucar e empanar a alegria alheia. Isto sem contar os defeitos que são apontados, as intrigas urdidas e o propósito escuso de aparentar um agrado enganoso e hipócrita.
É paradoxal que necessitando o ser humano viver em coletividade, participando, pois da vida em sociedade, carregue dentro de si o descaso pela felicidade de outrem. Foge desta regra apenas o instinto protetor da prole, dos ascendentes, de bem poucos familiares e amigos verdadeiramente eleitos. Nestes últimos do elenco, assim mesmo, não falta o desejo de machucar com ofensa quando existe uma lasca de competição e disputa.
Neste panorama pintado com tintas fortes não se pode olvidar do amor egoísta, o sentimento egocêntrico que exige irrestrita atenção que a pessoa impõe à outra para suporta-la no seu diminuto círculo de amizade e afago. E quando a satisfação do carinho e respeito mútuo está imperando, a simples aproximação de um terceiro faz mudar o semblante do mais egoísta do grupo, traduzido pela mudez que incomoda. E ao deixar propositadamente de participar da conversa cria para os demais protagonistas um clima de retração e esmorecimento. Porque o egoísta prefere estragar o encontro fortuito para continuar monopolizando a atenção e a amizade do amigo mais amigo, com exclusividade.
Este é o gênero humano! Existe uma espécie de amor exigente quando a pessoa amada se torna escrava de um sentimento de quem ama, esta sufoca e agride a outra quando não se sentir retribuída ou recompensada. Nasce o sofrimento e a discórdia pelo egoísmo exagerado de amar. É por isto que a felicidade é efêmera, ela oscila como ondas do mar, tudo porque necessitamos da convivência com outras pessoas e somos surpreendidos pelo egoísmo de nossas próprias paixões.
Ninguém está imune a isto, pois afinal todos somos espécies de um mesmo gênero: o gênero humano! Ah! Mas se pudéssemos lapidar a pedra bruta do nosso ego, freando e policiando nossas palavras e gestos, com certeza não teríamos sobressaltos na alegria de viver e nem precisaríamos forrar com algodão as taças de cristais que contém as gotículas de fraternidade misturada com amizade.
Daí, então, ao tomar na taça e sorver a alegria de viver e sentir a felicidade alheia, ninguém ficaria machucado porque nas bordas que vão tocar os lábios não existiria sequer uma mínima lasca de imperfeição...
"O sucesso e a felicidade alheia parece perturbar e entristecer quem assiste. É o egoísmo que vive nas entranhas do gênero humano, que se manifesta sem perdão. No cálice de cristal onde repousa a solidariedade fraterna não comporta mínima lasca, para não machucar os lábios e nem despertar a inveja que destrói!"
Edson Vidal Pinto