Dia dos Pais
Hoje o pai tem o seu dia e é festejado ou lembrado com saudades, porque é uma figura ímpar em todos os sentidos por ser único, com mais ou menos defeitos. E nem um pai que é pai amoroso e dedicado espera ser julgado pelas suas imperfeições , pois tem certeza de que deu ou está dando o melhor de si para os filhos , sem medir sacrifícios e sem se faltar um dia com suas obrigações paterna.
Pois para o pai os filhos são a própria razão de viver. Eu sempre procurei medir minha importância paterna voltando às vistas para o meu saudoso pai, embora ele pela vida que teve foi um homem que superou barreiras e adversidades mas pela sua própria grandeza de espírito conseguiu formar sua própria família, porque viveu até chegar à fase adulta sem experimentar minimamente o calor humano de qualquer parente consanguíneo.
Eu por estes motivos o considero um pai herói. Não, não quero dizer que tenha sido diferente em importância com qualquer outro pai, longe disto, pois não é possível comparar o próprio pai com qualquer outro, pois a diferença entre eles está na maneira com que cada filho enxerga seu genitor.
Eu considero meu pai um herói e explico porquê. Quando ele nasceu minha avó morreu no parto, assim nunca chegou a sentir o amor e o carinho de uma mãe, filho único meu avô que era da Marinha Mercante entregou o filho para que um estranho criar e no desespero tentou esquecer suas frustrações voltando para o mar. Sem muitos freios e praticamente sozinho, morando em outro estado, cresceu na trincheira onde a vida lhe ensinou a arte de lutar por um lugar ao sol.
Seu pai de criação e padrinho era um homem humilde, casado e com outros filhos, um artesão que fazia barril de madeira para o transporte da erva mate; e claro por importante deu um teto, comida e atenção para o menino que não era do seu sangue. Mas nesta convivência com certeza meu pai aprendeu o que era uma família. E o reencontro do meu pai com o seu pai, o meu avô, só ocorreu quando ele estava com a idade de servir o Exército quando, logo depois, casou com minha mãe.
Com pouco estudo mas um autodidata incrível ele superou todos os obstáculos e conseguiu ingressar no Oficio Público como funcionário da Secretaria de Saúde Publica, onde alcançou o último nível da sua carreira. Foi um marido atencioso e pai de um casal de filhos, minha irmã mais velha e eu, sem nunca ter faltado com suas obrigações de provedor e cidadão exemplar.
Para ele minha irmã e eu éramos tudo que ele mais queria, e junto com minha mãe era a família que com certeza sonhava em ter. Sem conhecer qualquer outro parente do lado paterno e nem materno, ele abraçou os familiares de minha mãe como sendo seus próprios parentes não apenas por afinidade, mas como se fossem de seu próprio sangue.
Meu pai foi um herói porque praticamente sozinho no mundo, sem nunca ter sentido na infância, adolescência e até o início da fase adulta o calor de uma família de verdade, superou todos os momentos difíceis que passou sem sucumbir e nem se deixar cair ao lado de uma sarjeta. Claro que não desvalorizo o valor da família que o acolheu na sua meninice e que com certeza o acarinhou, mas ele teve tudo na vida para não dar certo. Superou as dificuldades e foi um pai que é sempre lembrado pela sua alegria, humildade e temperamento dócil.
E pelos netos mais velhos sempre é festejado pelas músicas que cantarolava, pelas frases jocosas que inventava e pela atenção que lhes dedicava. Morreu cedo e deixou um vazio em minh’alma. Porque nunca pude retribuir tudo aquilo que ele com muito esforço me deu e ensinou.
Lembro do cinema que ele fazia usando uma caixa de sapato, onde recortava com a tesoura uma tela, por onde “rodava” um filme feito com tiras de gibi que estava com apenas um dos lados presa numa manivela de arame; e eu olhando de frente me sentia como se estivesse sentado na poltrona de couro, da cor vermelha, do cine Avenida. Sem esquecer da sua habilidade em manusear pedaços de papel onde fazia pássaros, barcos, aviões e balões de vários modelos.
E tudo ficou para trás, pai, com cenas guardadas na memória e muitas saudades no coração. E hoje é o teu dia, sei que é o meu também, só espero que meus filhos um dia lembrem um pouco do que sou hoje, como eu lembro tanto de você…
“Abrace, beije, acarinhe seu pai como se hoje fosse o último dia -, um dia sem fim. Porque pai é um só, perfeito ou não, carinhoso ou não, ele é do jeito que é e nada vai mudá-lo. Só que um dia ele não estará mais perto de você, abrace-o enquanto pode. Não deixe o tempo afasta-lo”.
Édson Vidal Pinto