Dilema Assaz Cruel!
A indecisão é o purgante da vida. Quando chega o momento de definir se é melhor dizer, ouvir, calar, der as costas, enfrentar, perder as estribeiras ou para onde viajar, surge uma incógnita na cabeça, antes da própria dor de cabeça.
Eu sempre tive birra quando me deparava com o crime de “ameaça” (art. 147 do antigo Código Penal) que se caracteriza quando alguém ameaça outrem por palavra, gesto ou escrito, com promessa de causar mau futuro, injusto e grave, inculcando na vítima o receio de ver a intenção concretizada. Esta é a definição daquele tipo penal que ainda guardo na memória.
E quando me deparava com um inquérito policial instaurado em razão desse crime (ameaça) eu pensava com meus botões: a pessoa que ameaçou é o suprassumo da indecisão. Ou o indivíduo age na hora do entrevero e no calor da discussão, ou fala da boca para fora com nítida intenção de bazófia. Pois quem quer causar mal ao outro realiza seu intento na hora e não depois, quando dá tempo de pensar e serenar o ímpeto.
A exceção fica por conta dos psicopatas ou mágoas inconsoláveis. Daí a música que diz: “O homem que diz sou, não é; porque quem é mesmo, não diz. O homem que diz vai, não vai; porque quem vai mesmo, não diz”. Portanto, a “indecisão” é o pior momento do ser humano; quem quer decide na hora e não deixa para a semana seguinte.
Pois, é estou indeciso, sou um fiasco e me sinto um trapo humano. Sabe por quê? Não sei para onde vou viajar para passar a virada do ano. Faz dois meses que estou para decidir e sempre surge um fato novo que não me permite definir o lugar para onde ir.
Estava pensando em Paris, mas os “coletes amarelos” estão bagunçando a cidade; pensei na Cecilia, Itália, porém o Etna está querendo aprontar; a Indonésia foi sacudida por um tsunami; Nova York está gelada e eu não gosto de frio; olho no calendário e está faltando apenas quatro dias para o Novo Ano chegar. Ser ou não ser; duvida cruel!
Lembrei-me daquela outra música que diz: “Não sei se vou ou se fico; não sei se fico ou se vou. Se vou eu sei que não fico; se fico eu sei que não vou.”
Minha cabeça está doendo porque um turbilhão de lugares e continentes invadiu meu pensamento, vejo também os reais, dólares, euros e libras orbitando ao redor desse emaranhado de lugares e eu não consigo me definir.
E pior, nesse momento minha mulher está arrumando as malas, sem mesmo saber para onde vamos viajar. Talvez para a China (me ocorreu agora), mas não sei uma só palavra de mandarim. Venezuela, Cuba, Bolívia é Afeganistão nem pensar.
- Meu bem, já decidiu? Vamos para onde? - foi minha mulher que perguntou.
- Guaratuba! - foi minha resposta na ponta da língua, sem nenhum resquício de duvida.
- Ótimo. Vou tirar das malas as roupas de inverno... - falou minha amada, feliz da vida.
Ufa! Que decisão difícil.
Ainda bem que resolvi o impasse que me atormentava. Eu agora posso ficar tranquilo e ler meus livros até o dia de viajar. Dia? Putz, quando é que vou para Guaratuba? Amanhã ou depois, na véspera ou no dia trinta e um de dezembro? Quando é que vou viajar? Oh, duvida cruel! Estou começando a sentir uma nova dorzinha de cabeça...
“Decidir é sempre difícil.
Principalmente quando o tempo está escoando.
Diz o ditado: “quem tem pressa, come cru”. Nem sempre é claro, mas é uma boa justificativa para o indivíduo indeciso!”
Edson Vidal Pinto