Domingo Sem a Net TV.
No final do dia de ontem choveu torrencialmente e a noite, pelo menos no Champagnat do Barigui, foi interrompido o serviço a cabo da Net TV. Sem vontade de reclamar a solução foi desligar a TV.
Olhei para o relógio que marcava 20:20 e sentei na minha poltrona preferida, no escritório do meu apartamento. Olhei para o ambiente calmamente e ouvi o som do silêncio: um zumbido no meu ouvido, uma sirene de ambulância que passou pela Rua Padre Agostinho, o barulho estranho de uma porta batendo como se estivesse tentado chamar a atenção de que não estava bem fechada e alguns ruídos de minha mulher fazendo ordem na cozinha.
E logo pensei: acho que vou começar a me sentir num passado distante quando não existia TV e quando o rádio era o único aparelho disponível para a distração. “E eu tenho um “Philco”“ em cima da minha escrivaninha, bem ao lado da máquina de datilografar da marca “Olivetti - Studio - 51”. E ambos funcionam apesar da idade -, e como não estou acostumado com tanto silêncio, liguei o rádio.
Com cuidado percorri o dial, de lado a lado, para conferir se valeria a pena: pastor falando; música caipira; pastor falando; CBN; pastor falando; futebol paulista na BandNews ; pastor falando; música pop; pastor falando; música sertaneja; padre falando; música do Pablo Vittar; pastor falando; música estrangeira; padre falando; pastor falando; pastor falando e desliguei o aparelho.
Encostei minha cabeça na poltrona e preferi ouvir o zumbido ecoando nos meus ouvidos. Mas não aguentei muito tempo. Para distrair resolvi estudar, peguei o livro do Francisco José Cahali, “Curso de Arbitragem”, Ed. Revista dos Tribunais, pois no início do próximo ano vou Coordenar a Câmara Arbitral da Associação Comercial do Paraná, e fiquei absorto no aprendizado.
E quando voltei os olhos para o relógio era 23:20 horas, fechei o livro e instintivamente liguei a televisão - sem imagem e nem som -, na tela apenas uma informação de “sinal não encontrado”. Desliguei o aparelho, recostei a cabeça na poltrona. O zumbido parecia vir de uma selva habitada por animais de várias espécies. Liguei o rádio na Bandnews, mania com certeza, e estava sendo veiculado um programa de debates sobre o alcoolismo e seus malefícios.
Confesso que não me interessou nem um pouco, não que o tema não mereça atenção, mas, francamente ouvir técnicos discorrendo sobre o tema na noite de domingo, é terrível. E tudo por que a Net estava fora do ar. Daí caiu em mim: a televisão vicia tanto quanto qualquer droga, aliás, ela não deixa de ser também uma droga perigosa como tantas outras, porque ela invade a nossa casa, diz o que não deve, mostra o indesejável e contamina a vida familiar.
E o pior: seus jornalistas formam a opinião de todos nós, quase sempre censuráveis. Mas ela (a TV) faz parte da vida moderna, como o telefone celular, a internet e a mídia social, e quando ficamos privados de seus programas nos sentimos capengas, sem noção e nem nexo, perdidos no tempo e sofrendo com os ruídos do nosso próprio silêncio...
“A noite que Curitiba parou. A Net TV saiu do ar por causa da chuva torrencial do final da tarde de domingo. Silêncio mórbido.
Ligar rádio nem pensar. Programação terrível. A solução foi ficar absorto nos ruídos do próprio silêncio!”
Edson Vidal Pinto