Dor de Cabeça por ser Honesto!
Ontem, 15 de outubro de 2.017, domingo.
Não é de hoje que o nosso país sofre mergulhado na corrupção. Os políticos sempre deram os piores exemplos, o caciquismo de uns poucos enfeixava o Poder e reinava quase absoluto. Em nosso estado tivemos um que enredava os três poderes sob seu manto e tinha uma legião de fiéis seguidores. Sempre se elegeu sem sair de casa.
E o pior: continua vivo na memória de muitos! É claro que o desmando refletia tenuemente na sociedade pelas influências que transbordavam da banheira política. E não foram poucos os respingos que caiam em algumas repartições públicas para “acomodar” situações e proteger os “amigos”. Lembro de fato acontecido com meu saudoso tio, irmão de minha mãe, que imbuído do melhor e mais puro propósito, quase caiu em desgraça.
Ele era a bondade em pessoa, homem de família, trabalhador, prestativo e gozava da estima de todos aqueles com quem se relacionava. Era Testemunha de Jeová, há bem da verdade um dos seus líderes e ótimo orador. Época em que a Igreja católica detinha quase a totalidade dos fiéis no país. Meu tio era uma das poucas exceções. Certo dia, de manhã, quando de carro se dirigia ao seu escritório, foi surpreendido por um ciclista que inadvertidamente bateu com a roda dianteira, na roda traseira de seu veículo, e caiu na pista. Meu tio parou e foi atender o ciclista.
Este envergonhado disse que não tinha sido nada, apenas a roda da bicicleta ficara um pouco torta, mas que ainda poderia rodar. O acidente atraiu vários curiosos. Meu tio disse que iria chamar o Trânsito. O ciclista disse que não tinha necessidade. Insistiram, os transeuntes tentaram lhe demover da ideia, mas ele não aceitou. Minutos depois chegou uma viatura do Trânsito. E como não existia bafômetro foi coletado o sangue do motorista e do ciclista para posterior exame de laboratório.
Preenchido o boletim de ocorrência o caso foi momentaneamente encerrado. Dez dias depois, meu tio foi intimado para comparecer na Delegacia de Transito porque fora indiciado em inquérito policial, por dirigir alcoolizado. A notícia caiu como uma bomba na comunidade religiosa de Jeová, pois entre os seus membros era um sacrilégio beber bebida alcoólica ou fumar. Meu tio ficou transtornado, pois era incapaz de colocar uma só gota de álcool em sua boca. Ele quase foi execrado de sua irmandade e teve que conviver longos meses com a desconfiança de ser um pecador. Graças a um amigo influente a verdade veio à tona.
No mesmo dia do acidente houve um outro, envolvendo dois veículos com a morte de um de seus ocupantes, sendo que o motorista sobrevivente era uma figura da alta sociedade e que na ocasião estava dirigindo embriagado. Também foram coletadas amostras de sangue. Só que para “encobrir” a embriaguez do culpado simplesmente foram trocados os resultados do exame de sangue deste condutor, com o do meu tio.
Felizmente tudo ficou esclarecido. Mas e como ficam aqueles outros acidentes que são encobertos pelo manto protetor dos detentores do poder? Onde a verdade permanece oculta? Pois este é o preço que ainda paga o cidadão honesto por viver numa sociedade cada vez mais egoísta, menos solidária e com autoridades desonestas. É triste ter que acreditar no próximo, sempre desconfiando. A decência, o valor da palavra e a seriedade do Poder Público parece que estão se esvaindo pelos ralos...
“Honestidade passou a ser predicado e não obrigação. Pelo andar da carruagem daqui alguns anos será incorporada no currículo de vida das pessoas!”
Edson Vidal Pinto