Drama de Consciência.
Hoje, 23 de maio de 2.017, terça feira.
Corrupto tem consciência? Acho que não, pois desde que aceitou envolver-se com o crime nada mais tem há perder. Impossível imaginar que sua conduta reprovável não venha a ser descoberta um dia, pois é voz do povo que dia ou menos dia todo o crime será descoberto. Pode até demorar a acontecer, mas nunca falha!
E por que o indivíduo quando preso tenta esconder o rosto? Ora de vergonha é que não é, pois se tivesse vergonha jamais arriscaria se expuser à execração pública e muito menos causar constrangimento àqueles que lhe são mais caros. Todo escândalo tem gosto amargo de fel que permanece no paladar do inconsequente.
Esconder o rosto é gesto instintivo de um pudor que deixou de existir a muito tempo. Nada mais. Ótimo exemplo de drama de consciência ou consciência pesada contava Ivon Curi, cantor do velho "tempo da Rádio Nacional do Rio de Janeiro”, no seu show pelo país afora. Tentarei dedilhar meu celular e lembrar-se da história. O personagem central era um homem exemplar, casado, excepcional chefe de família, que programara passar dez dias em Campos do Jordão com a mulher e três filhos menores.
A viagem tinha sido paga com antecedência. A família residia no Rio. Na véspera da viagem houve um "imprevisto" no trabalho e ele se obrigou a permanecer na cidade. A mulher se propôs ficar com os filhos, mas o bom marido recusou terminantemente. Ele ficou e a família viajou para Campos do Jordão. Passaram-se os quinze dias. A mulher retornou e encontrou o marido, de nome Ozório, magro e abatido.
A desculpa foi o excesso de trabalho e a falta da comida caseira. Uma semana depois a esposa vai a uma cabeleireira e encontra uma amiga que mora na Zona Sul. Conversa vai e conversa vem de repente à esposa conta para a vizinha que estava com a consciência pesada por ter viajado com os filhos e deixado o marido trabalhando.
A vizinha com certo ar de malícia, então perguntou:
- Pena do Ozório?
- Sim...
- Bobagem, ele deve ter aproveitado muito sua ausência!
- Por quê? - perguntou curiosa.
- Você sabe que eu moro na frente da Boate Le Bateau, pois todas as noites eu vi do meu apartamento o Ozório chegar de táxi e entrar na boate. Foram quinze noites seguidas!
A esposa ficou pasma! Foi para casa e esperou o marido, vestida com sua melhor roupa. Quando ele chegou à esposa lhe disse:
- Ozório, meu bem. Hoje é um dia especial, você lembra?
- Claro! Dia de aniversário do nosso casamento...
- Pois é, quero jantar fora!
- estou cansado, mas é muito justo o que você está me pedindo. Vou mudar de roupa e logo sairemos.
Quinze minutos depois.
- Onde você quer jantar, meu amor? - Perguntou o Ozório.
- Na Boate Le Bateau! - respondeu a mulher.
- Não!
- Você conhece?
- Não, claro que não, uns colegas de serviço foram com as mulheres e não gostaram...
- É? Mas acho que eu vou gostar!
E após alguns senões o casal apanhou um táxi e foram para o lugar em que a mulher escolheu. Mulher quando quer é ponto final! Quando o carro estava se aproximando da boate o Ozório sentiu frio na espinha.
O táxi parou na frente da boate e veio o funcionário todo paramentado que abriu a porta dos passageiros, a mulher desceu, e quando viu o homem disse-lhe:
- Boa noite "seo" Ozório!
A mulher ouviu e ferveu por dentro. Entraram e logo apareceu o maître:
- Boa noite, senhor Ozório! O senhor quer a mesa de sempre?
A mulher estava tinindo de raiva. Logo veio o garçom:
- A madame deseja o que?
- Lagosta! - respondeu com ódio.
- E o senhor, o mesmo de sempre? - e deu uma piscada marota para o Ozório.
- Quero dançar! - pediu a mulher.
Sem jeito e não tendo onde enfiar a cara, Ozório tentou resistir:
- Dançar, não!
Mas lá foi o "pobre" Ozório para o salão. De repente alguém lhe bateu nas costas e perguntou:
- Viva Ozório! Carne nova?
Foi o pingo d'água que faltava! A mulher reagiu de pronto:
- Ozório seu ingrato! Sem-vergonha, marido ingrato, pai desnaturado...
Todos os presentes ficaram horrorizados com a cena.
- Vamos embora, Ozório!
Este dá graças a Deus que a "tortura" iria terminar! “Na “saída, no entanto, o mesmo ritual que aconteceu na entrada: “boa noite,” seo” Ozório” foi repetido pelos garçons, pelo maître, pelo porteiro da boate. Já na calçada o porteiro chamou um táxi.
Pronto, pensou o Ozório, o pesadelo chegou ao fim! O táxi parou na frente da boate, o casal entrou apressadamente e mal o marido sentou, ouviu o motorista:
- Que sorte! Boa noite "seo" Ozório, o motel de sempre?
A mulher então voltou a explodir:
- Ozorio, seu &@!?;):/-$;(?!'s&$&@ ...
O motorista ouviu tudo aquilo e não entendia a passividade do "amigo", foi então que parou o carro, virou-se para trás e disse aos berros:
- "Seo" Ozório quer que eu resolva? Se quiser deixo esta vadia no meio da rua e lhe dou uma surra, para ela aprender a respeita-lo!
Dá para imaginar o que deve ter acontecido depois do casal chegar em casa? Pois é, tudo pode acontecer para quem tem a consciência pesada, não é mesmo? Será que a turma de políticos e empresários corruptos que estão sugando o país passam pelo mesmo constrangimento?
Ou será que o dinheiro facilmente ganho faz com que a família absorva o impacto da canalhice explícita? Quem pode responder? Calma gente, calma! Não comecem a dar cotoveladas uns nos outros na ânsia de querer ser o primeiro a responder a pergunta! Pombas, com tanta gente "mamando" e usufruindo do dinheiro fácil que é melhor fazer um sorteio para escolher uma pessoa e assim evitar tumulto de graves proporções.
(Pano rápido)
"Consciência? Ah! Consciência! Para uns nada vale; para outros um tesouro de valor incalculável! É como homem com agá maiúsculo e homem com agá minúsculo. Um vive para servir e o outro vive para ser servido! A linha tênue se equilibra entre a consciência do justo e a inconsequência do otário"!
Edson Vidal Pinto