Durair, O Jogador de Botão.
Dias atrás entrei em uma grande loja de brinquedos do Shopping Barigui para comprar um presentinho de dia das crianças para meu netinho, e me deparei com mil e uma novidades.
Tinha de tudo, ou melhor, quase tudo. Sim, porque movido pela curiosidade resolvi voltar aos verdes anos de minha vida e procurar, mas não encontrei um único “jogo de botão”. Lembra? Dos dez botões coloridos tendo no meio deles uma parte côncava com o símbolo de um time de futebol, coberto por uma capa de celuloide, um “goleiro” de plástico, retangular com uma haste comprida para ser movimentada com os dedos e uma trave, também de plástico, que vinha dentro de uma caixinha de papelão? Era um time de futebol completo, com duas “bolas” achatadas, de plástico, para serem “chutadas” pelos jogadores.
E completava o conjunto uma ficha redonda, que servia de “atiradeira” para impulsionar os jogadores. Sem contar, que nas caixas maiores, vinham dois times e um campo de futebol, com as cores do gramado e com as marcas regulamentares desenhadas no papel. Este era sempre colocado de lado, pois atrapalhava o bom andamento dos jogos. E bem mais caro era um campo de futebol de botão, em formato de uma pequena mesa, sustentado por quatro “pés”. Este sim, era o máximo do máximo!
E a “piazada” com seus respectivos times do coração disputavam campeonatos memoráveis, com torcida e tudo mais que a imaginação alcançava. Meu sobrinho e afilhado, Marcelo Vardânega Ribeiro, hoje conceituado advogado, quando menino não só jogava como também narrava às emoções do jogo. Na fase que antecedeu a advocacia foi repórter de campo e narrador de partidas oficiais de futebol e outros esportes profissionais. Trabalhou anos na TV como comentarista esportivo, inclusive com o Galvão Bueno que o convidou para trabalhar com ele.
Mas a advocacia falou mais alto. Lembro-me do Durair, meu amigo de adolescência que era um exímio jogador de botão, com dribles espetaculares e gols impossíveis. Sua técnica era inigualável, a turma o chamava de “Pelé”. E ele gostava.
Certa feita foi organizado um torneio, com nove disputantes, tipo “mata-mata” (quem perder é eliminado)e o Durair foi até a fase final, quando disputou com o Jairo, um sujeito gozador e irreverente que por pura sorte chegara à disputa da “taça”.
E ele sabia que nunca ganharia a partida jogando com o Durair. Ardiloso resolveu por à prova os nervos do adversário e passou a provocá-lo assintosamente. Inclusive falando mal da namoradinha de seu amigo. Começou o jogo e o Durair estava espumando de raiva e não conseguia fazer suas tradicionais jogadas.
E o tempo foi passando e o gol não saia para nenhum dos lados; de repente Durair perdeu a cabeça e partiu para a briga com o Jairo. Não houve vias de fato porque a torcida não deixou. A partida ficou inacabada. O árbitro deu a vitória para o malandro do Jairo, porque o Durair foi eliminado por falta de esportividade.
Foi à última partida da turma, dali em diante a moda foi participar dos bailinhos nos sábados à tarde com as garotas do bairro, nas garagens da vizinhança. E o futebol de botão ficou apenas gravado na lembrança, nada mais. Acho que procurei achar um time de botão naquela loja, por pura nostalgia...
“Mudam os tempos e também os brinquedos. Só as pessoas são as mesmas, porém vivendo em uma sociedade diferente. Só as lembranças são imutáveis, porquê vivenciadas do passado.”
Edson Vidal Pinto