É Mentira que Vou Morar em Anchorage!
Antes de mais nada esclareço que Anchorage é uma cidade do Alaska, a última fronteira inóspita do Estado americano, que só se chega de avião e é um lugar gelado, tremendamente gelado. Eu quando leio ou ouço as barbaridades que acontecem na vida pública brasileira ao invés de imitar o Jô Soares no seu programa “Casseta e Planeta”, quando o personagem entubado tentava sair do coma e as pessoas ao lado da cama diziam o valor do dólar ou as asneiras dos políticos ele agitado gritava: “tira o tubo!” - mas eu não, só clamo aos céus: “quando vou morar em Anchorage?” Mas é claro que só falo isto para minha mulher que recusa veementemente meu convite pois jamais moraria no frio, apesar de suportar com restrições o inverno curitibano.
É só começar o ventinho geladinho do outono e ver as folhas desvestindo os galhos das árvores que me sinto arrepiado e com vontade de tossir. Só não me atrevo no momento atual dar “aquele” espirro alérgico pela mudança de temperatura para não ser conduzido há uma cama hospitalar e em seguida entubado com o diagnóstico de Covid. Meu espirro está retido até acabar a pandemia chinesa. Espero que esta última frase não implique no rompimento diplomático entre Brasil e China e que eu seja obrigado pelo STF a me retratar na “Voz do Brasil”. Mas voltando ao frio, eu deveria ter nascido num resort de palafitas em Bali, dentro do mar, com o sol sempre a pino e o céu azul de brigadeiro.
Embora nascido numa capital dos sonhos como Curitiba não gosto do inverno e nem da geada porque por mais que me agasalhe e meu apartamento tenha aquecimento eu sempre quero dar uma “tossidinha” típica da estação. Mas como desgraça pouca é bobagem além de enfrentar o frio ainda tenho que frequentar a academia de ginástica no Hospital do Coração. Exercício obrigatório que enfrento mais contrariado quando vejo ou ouço o Luiz Ignácio -, tenho até vontade de gritar impropérios. Pois também não gosto de fazer exercícios físicos porque faz mal há minha saúde mental.
É verdade. Não sei como tem pessoas que fazem curso de Educação Física só para depois serem fitness e judiar dos idosos como eu, quando poderiam ter escolhido profissão menos odiosa como por exemplo tornar-se astronauta! Mas como exercitar faz parte de todo receituário médico para quem é cardiopata não tenho outra opção e tento com sofrimento da própria alma cumprir dita recomendação. Já mudei de cardiologista umas vinte vezes mas todos eles impõem esta mesma ordem de comando, sem nenhuma trégua.
Eu vou para a academia do coração mas sempre sob protesto. E com o inverno gelado se aproximando o exercício físico é absolutamente incompatível, pois o certo seria ficar deitado ou até mesmo sentado na poltrona preferida, tomando café e comendo “aquele” pinhão preparado com esmero. Claro que na frente da janela vendo o frio espargir do lado de fora. Mas não; sou guindado para ir há academia com preguiça e sentindo frio no pensamento. É uma tortura para quem não gosta de frio e exercício físico -, se você gosta é problema seu e eu respeito. E frio por frio, exercício físico por exercício físico, acho que vou mesmo me mudar para Anchorage...
“Curitiba é uma cidade europeia por excelência porque tem dividida as quatro estações do ano. Seria ótimo se estas quatro estações não “caíssem” no mesmo dia. Eu não gosto do frio porque faz congelar minha própria alma”
Edson Vidal Pinto
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