É Um Vírus de Morte!
O brasileiro não se segura e nem teme nada e ninguém quando chega um bom feriado. Não importa o custo de vida e nem mesmo os cuidados para preservar a própria vida, em razão do vírus da Covid-19, pois são poucos os que se importam com o que poderá vir acontecer nos próximos dias. As estradas lotadas, as praias repletas de banhistas, os lugares públicos com gente de todos lados como se o feriado fosse o último dia antes do apocalipse final. E não adianta a Guarda Municipal advertir ou pedir mais comedimento pois as pessoas acham que podem tudo e estão imunes ao vírus, a ordem é aproveitar cada minuto para se divertir.
E pensar que teve autoridade no Rio de Janeiro dizendo que não haverá réveillon na praia de Copacabana e muito menos carnaval na Marquês de Sapucaí para evitar aglomerações, - está bem vamos fazer de conta que vamos acreditar. Está na cara que ninguém vai deixar de festejar absolutamente nada por causa de um vírus mortal. Salvo no dia que a vítima for um parente próximo. É sempre assim: as pessoas não pensam que a dor que sufoca a família do vizinho pode muito bem bater na porta de sua casa; pois a desgraça não manda aviso, não previne e nem protege ninguém. Mesmo assim a notícia de um feriado modifica o comportamento dos humanos que fazem de tudo para usufruí-lo, sem pensar nas consequências.
A propósito por simples acaso acabei ficando amigo do Ching, um coronavírus que foi infectado por um mosquito da dengue e acabou caindo doente no chão da varanda, sendo salvo pelo coração bondoso da empregada aqui de casa que ama “animais”. Depois de dois dias em que passou muito mal de saúde, o vírus se recuperou e ficou amigo da família:
- Ching. - perguntei - tudo bem com você?
- Shim, agola vô embola ...
- Sem se despedir daquela que salvou sua vida? Hoje é feriado e ela está de folga.
- Azar dela, vô pala plaia contaminar o povo ...
Daí pensei: é o Ching é um vírus indomável mesmo, ele não tem jeito. Só uma vacina para combatê-lo com eficiência. Enquanto fazia minhas elocubrações mentais, o Ching vestia sua roupa ao mesmo tempo que aprontava a mala. Quanta doença ele ainda vai espargir pelo caminho, com certeza vai deixar um rastro de morte.
Foi neste momento que vi num rápido relance com os olhos o “chinezinho” tentar passar pelo vão aberto da porta de vidro, que separa a varanda do apartamento, e sem dó fechei rapidamente a porta. Plá! Esmaguei o Ching sem dó e nem piedade, sentindo um alívio na minha alma. Afinal ajudei um pouco a humanidade. Muitos humanos que foram para a praia sem as precauções devidas com certeza foram salvos pelo meu gesto de fraternidade.
Olhei em direção ao caixilho da porta e afastei a mesma um pouco quando pude ver os restos mortais do vírus letal. Tinha pedaços milimétricos dele por todos os lados, inclusive, com sangue aparente. Foi daí que tive um sobressalto: Xi, e agora o que eu vou dizer para a nossa empregada? Amanhã quando ela chegar e for limpar a porta de vidro com certeza vai ver as migalhas ensanguentadas do Ching e vai ficar de luto e sem trabalhar por uma semana inteira.
Mais do que depressa fui à área de serviço apanhar um pedaço de pano molhado e com ele limpei os vestígios de meu “crime”. Olhei atentamente para a cena da tragédia e não deparei com nada que indicasse que tivesse havido violência. Fiz uma expressão de pura inocência. Claro que vou dizer para a serviçal que o Ching teve que viajar às pressas para o litoral a fim de infectar os incautos, mas que deixou um beijo e um abraço para ela. Sabe como é no atual momento de pandemia não está nada fácil arranjar uma empregada doméstica que já foi infectada e está imune de recaída ...
“Sei que é difícil a olho nu enxergar o vírus da Covid-19, mas não impossível. Principalmente se ele estiver doente e cair no chão da sua varanda. Não tente ajudá-lo, pois ele não é domesticável. Haja rápido e pise nele com a sola do sapato. Os que não se cuidam e nem se importam ainda vão lhe agradecer!”
Edson Vidal Pinto
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