Eles não criam jeito
O Poder enebria se o ocupante de cargo público não tiver os pés no chão e formação moral vinda do berço. A família é a escola do indivíduo porque nela são transmitidos exemplos e valores, não precisa ser rico pois o ensino da ética e da moral também é base de uma família pobre. Claro, nem sempre os frutos de uma boa cepa saem saborosos, alguns são azedos e outros mal formados porque sofrem influencias externas de terceiros. A propósito lembrei de uma conversa amiga que tive com o saudoso des. Guilherme de Albuquerque Maranhão, quando ele no cargo de Procurador-geral de Justiça
me chamou em seu gabinete, quase no final do expediente, e depois de tratar assuntos de serviço falou:
-Sabe, Vidal, aqui no Ministério Público nós somos uma elite, pois conjugamos o mesmo verbo “trabalhar” e nos conhecemos muito bem desde o nosso concurso público. E sabemos muito bem quem é quem dentro de nossa Instituição.
Confesso que na época não assimilei muito bem a manifestação de regozijo daquele homem com profunda experiência na vida pública, mas hoje sei muito bem o que ele quis dizer. Li na mídia eletrônica que três inquilinos do STF - Gilmar, Tofoli e Xandão - viajaram até a Inglaterra num final de semana para participarem de um “seminário” sobre a democracia brasileira, juntamente com outras autoridades brasileiras, tudo patrocinado por uma empresa privada. Óbvio que estavam inclusas as passagens aéreas e estadias. Um encontro de “notáveis” mas vedado para a Imprensa. Tudo muito estranho. Daí eu me pergunto: “dá onde será que vieram estes homens? Que berço tiveram? Onde estão os seus valores morais? Como um juiz usufrui benesses de uma empresa privada? É lamentável que nos últimos anos as pessoas sejam nomeadas para um dos cargos mais relevantes da República e fiquem embriagas pelo Poder, viajando quase todos os finais de semana dentro e fora do país, num preparo físico e mental de dar inveja a qualquer mortal. Quando no exercício da judicatura confesso que não tinha tempo nem para me coçar e muito menos para dar aula e viajar. Fiz da Magistratura um apostolado e meus colegas tanto no Tribunal de Alçada como no Tribunal de Justiça tinham igual dedicação exclusiva. Mas basta a pessoa ser nomeada para o STF que logo adquire um fôlego nunca visto para viajar, viajar e viajar. Tudo bem se cada um pagasse as suas próprias despesas, mas, sabidamente, estas saem das diárias da viúva e da receita de alguma empresa patrocinadora que tem alguma culpa em cartório. Um escândalo! E tudo fica pelo dito e não dito, pois são indivíduos acima da lei. E os senadores bolas murchas fingem que não sabem de nada, são outros que vivem inebriados pelo Poder…
“A vida pública brasileira se transformou numa grande zona, quem pode pode, quem não pode se sacode.
Os ignorantes mandam e os inteligentes obedecem. O berço dessa gente era latrina mal cheirosa, por isto, nunca vão criar jeito.”