Emprego dos Céus
Num momento de crise nacional em que o desafio de qualquer indivíduo é ter um bom emprego para poder viver com dignidade, honestidade e felicidade as chances no entanto estão rareando porque a disputa está acirrada. Tanto no Ofício Publico como na iniciativa privada estar empregado é mais que privilégio, qualificação e mérito pois também é sorte e em alguns casos é ter bom cacife político.
Sob este último ponto é que vou abordar com mais amiúde porque existe uma vaga de emprego reservada apenas para quem nasceu com o bumbum para lua. Quando eu era adolescente com meus 14 anos de idade fui nomeado pelo então governador Ney Braga para o cargo de Tarefeiro Nível “1” do Quadro de Funcionários Públicos do Estado, com vencimento de 1 salário mínimo e fui trabalhar catalogando roupas no almoxarifado do Hospital Victor do Amaral, núcleo da Secretaria de Estado da Saúde Pública.
Tarefa nada glamurosa para um jovem que também era incumbido de trocar botijões de oxigênio nas salas de cirurgias do referido hospital. Mas eu tinha de trabalhar e começar a ser útil, como queria minha saudosa mãe.
Desde aquela época o emprego cobiçado para os rapazes era passar no concurso ofertado pelo Banco do Brasil que garantia um futuro promissor e dai ser cobiçado pela família de qualquer moça como um ótimo “partido” para suas filhas casadoiras. Claro que também tinham os estudantes universitários das três principais faculdades - Medicina, Direito e Engenharia - que despertavam notórios desejos dos pais mais preocupados com o futuro de suas donzelas, só que o tempo atrapalhava um pouco porque era preciso esperar a formatura e o candidato eleito encontrar um lugar ao sol para construir o ninho do futuro casal.
Preocupação que hoje não existe mais porque os tempos são outros e os pais também. E as filhas escolhem seus companheiros e modo de viver sem se importar com nada e nem dar satisfação para ninguém.
O casa e o descasa faz parte da aldeia global. Mas e o tal emprego dos céus ? Um empregão incomparável a qualquer outro porque basta ficar na sombra aguardando a oportunidade de substituir o titular e quando isto acontecer, ficar um mês “trabalhando”, para fazer jus a uma invejável aposentadoria.
- E como eu consigo a vaga ? - perguntou meu amigo Tucides que sempre está de olho naquilo que estou escrevendo.
- Oi, amigo. Você novamente ?
- Claro pois sempre acompanho suas crônicas e desta vez despertou ainda mais minha curiosidade; pois sempre estou em busca de um emprego em que eu possa ganhar muito e trabalhar pouco …
- Então vou te dar a “dica” para esse emprego. - respondi.
- Explique logo, sem rodeios, por favor.
- Vou dar como exemplo o Sérgio Moro que se lançou como pré-candidato ao Senado da República.
- E daí ? - quis saber o Tucides.
- Você sabia que como candidato ele pode se eleger e ter dois suplentes para substituí-lo no caso de morte, férias ou afastamento eventual ?
- ?
- Pois então, ser suplente de senador é um negócio da China. Basta ser rico para financiar a campanha do titular ou ter com este uma relação de afetividade para ser escolhido -, quer emprego melhor ?
Parei para tomar fôlego e prossegui:
- Citei o Moro como exemplo porque se ele derrotar o Álvaro Dias terá um mandato de oito anos e se quiser daqui a quatro anos poderá concorrer ao cargo de governador do Paraná …
- E o suplente ? - perguntou meu amigo.
- O primeiro suplente assumirá o cargo de senador e poderá ficar quatro anos fazendo o pé-de-meia e outras coisas mais, caso o Moro ganhe a eleição para governador …
- E o segundo suplente, nada ?
- Bobagem, pois o segundo com certeza irá substituir o senador empossado e terá então o direito a aposentadoria dos deuses …
- Putz, que mamata!
- Ponha mamata nisso. Que tal não é um emprego de ouro dezoito quilates ? - perguntei.
- Brasiiiiiillllllllllll … - respondeu o Tucides que se afastou sem se despedir. Pois é, estas são as sangrias que existem na previdência pública e que ninguém quer enxergar porque não interessa aos legisladores, fiscais da lei e detentores do poder.
Melhor que ser funcionário do Banco do Brasil ou profissional liberal a melhor profissão sempre foi viver da política, pois até um vereador de Curitiba que criminosamente interrompeu um culto religioso ao invadir uma Igreja Católica para protestar contra o racismo, além de não ter ainda conseguido perder o mandato, também foi perdoado pelo próprio arcebispo…
“Ser político num país como o Brasil é viver do bom e do melhor, usufruir do poder e dar banana ao povo. E ser suplente de senador é uma glória e o desejo oculto de quem não quer fazer nada , além de desejar que o titular morra, fique doente, caia em desgraça ou tire um mês de férias para ter direito a aposentadoria”
Édson Vidal Pinto