Encontro & Desencontro.
Hoje, 14 de março, terça feira.
Foi em uma das esquinas da vida que encontrei meu amigo Genivaldo, sujeito ótimo, agradável e cheio de otimismo. Conhecemos-nos na juventude e ele sempre foi o rei das festas, um pé de valsa na acepção do termo. Fazia muito, mas muitos anos que eu não encontrava meu amigo, não tinha noção do que vivia ou fazia e se era ou não casado.
Abraçamos-nos calorosamente. Não é sempre que temos a sorte de encontrar um velho companheiro que nos faz voltar ao passado. Olhei para o seu rosto e notei que ele estava envelhecido, corpo arcado para frente, bigode, sobrancelha e o pouco cabelo que restava na cabeça totalmente branco.
Pô pensei comigo mesmo, o tempo judiou muito do meu amigo. Logo despertei para a realidade, será que ele não está achando o mesmo de mim? Quando ele me olha será que não está comparando e pensando no quanto mudei? Ainda bem que a alegria do encontro dissipou aqueles pensamentos comparativos e logo começamos a conversar:
- E a vida? Foi ele que perguntou.
- Tudo bem! Respondi.
E logo nos inteiramos das nossas particularidades: esposas, filhos, netos e assim por diante, terminando com os respectivos endereços de nossas residências.
- E a situação nacional? A provocação foi minha.
- Uma lastima. Ele respondeu. Sabe que o Gilmar do STF foi almoçar com políticos envolvidos no Caixa Dois e sugeriu uma minirreforma política?
- Mesmo?
- É sim, está na bula, ou seja, na pequerrucha Gazeta do Povo de hoje!
- Mas não é possível, quer dizer que o Juiz foi trocar conversa com os bandidos?
- Pura verdade. E agora, como vamos acreditar na Justiça?
Neste momento fiquei com vergonha de dizer que dei minha vida toda para servir a Justiça. Passei a me sentir envergonhado, pensei na minha querida Toga pendurada no fundo do armário e senti que meus olhos arderam e ficaram avermelhados.
O Genivaldo notou a mudança do meu semblante, mas insistiu:
- Onde você trabalhou antes de se aposentar?
Senti um nó na garganta para responder, minha cabeça parece que estava com beribéri pois não parava no lugar, mas respondi :
- Fui domador de cavalos !
Meu amigo me encarou, espantado.
- Verdade? Ou você está me gozando?
Respondi com a maior cara de pau:
- Verdade! Trabalhei o para o Beto Carreiro antes de ele falecer...
A conversa dai murchou como pneu furado. Nos. Despedimos friamente. Senti que tinha perdido uma grande amizade. Fiquei duvidando da minha própria higidez mental.
O que tinha acontecido comigo? Fiquei envergonhado de dizer que fui Juiz? Eu que amo tudo o que fiz na vida , sempre buscando dar o melhor de mim para servir e honrar os Tribunais por onde passei? Foi daí que dei um forte suspiro e acordei! Meu coração estava a mil, meu pijama estava molhado, graças a Deus era apenas um pesadelo. Quando voltei a realidade senti que ainda estava perturbado.
Não saia de a minha cabeça pensar que pudesse acontecer que um presidente do Tribunal Superior Eleitoral tivesse se reunido com políticos envolvidos no Caixa Dois para encontrar uma saída para a crise brasileira.
É o fim da picada! Como acreditar na imparcialidade e independência dos julgamentos que os brasileiros tanto esperam? Sem duvida vivemos na Terra do Nunca onde os piratas prendem a Sininho e o Peter Pan almoçam com o Capitão Gancho para encontrar uma solução para o impasse. Acho que estou na beira de um colapso nervoso. Preciso urgentemente de um psiquiatra. Alguém, por favor, pode me indicar um? Antecipadamente, agradeço.