Enfim, na praia!
Hoje, 18 de janeiro, quarta feira.
Num rompante de ousadia resolvi me dirigir à praia de Guaratuba, palco que não frequento há muitos e muitos anos. É verdade. Quando estou no balneário não passo das imediações de casa e das ruas onde meu carro alcança. É porque gosto do sossego e não me preocupar com coisa alguma. Depois de mil idas e vindas consegui estacionar meu carro há algumas quadras da orla, pois a falta de espaço é cada vez mais grave e disputada com destemor.
Autorizado pela “flanelinha" que estava mais bêbado do que o ex-presidente, dai abri o porta malas, peguei cadeiras para a família, o guarda-sol, sacolas com produtos de bronzeamento e com meus olhos de radar fiquei olhando em que lugar eu poderia ocupar. Naquele momento eu era um ensandecido membro do MST pronto para dar o bote! Olhei e com precisão cirúrgica deparei no meio daquela compacta lata de sardinhas uma estrábica de luz e como um velho e calejado pirata deduzi que se tratava de um lugar vago.
Rezei para que mais ninguém tivesse visto , apressei o passo e mesmo atrapalhado pela bagagem que carregava, consegui me assenhorear daquela diminuta faixa litorânea. Vibrei porque tinha alcançado um objetivo reservado apenas para os eleitos, meu peito estava ofegante quando literalmente plantei o pau do guarda-sol na areia e vi brotar o mais cobiçado sombreiro.
Coloquei minha cadeira à sombra para usufruir da natureza, com meus olhos fixos no horizonte presenciei extasiadas as ondas do mar estourar bem lá no fundo, muito além, onde só a imaginação alcança.
Fiquei absorto! Foi uma pequena pelota de borracha dura que bateu com força no meu pé e doeu que me fez voltar à realidade. A mocinha que estava jogando frescobol com seu namorado, deu uma risadinha sem graça, apanhou o "projétil" e continuou jogando. Sem um pedido mínimo de desculpa! Tudo bem pensei comigo mesmo, ainda bem que a praia é um lugar público e democrático.
Enquanto fazia minhas reflexões senti que alguém tinha jogado um punhado de areia nas minhas costas, virei e deparei com um menininho de mais ou menos cinco ou seis anos, me olhando com cara de safado. Ele estava segurando uma pá de plástico da cor azul e um balde da mesma cor.
Evidência a toda prova que foi ele que me jogara a areia. A mãe do pimpolho conversava animadamente com algumas amigas, no guarda-sol ao lado do meu, e apenas esboçou um sorriso cínico como se estivesse apoiando a agressão daquele futuro delinquente. Só me restou sacudir a "poeira" e continuar contemplando o infinito. Outra interrupção brusca. Um baita marmanjo criado a pão-de-ló em alguma academia de musculação chutou com tanta violência uma bola de futebol que levou meu guarda-sol para o espaço!
Foi à gota que estava faltando. Furioso, levantei ostensivamente da cadeira, peguei do chão o que restava do "sombreiro", as sacolas, as toalhas, juntei toda minha impaciência e voltei para o carro. Eu estava com a cabeça fervendo. Com má vontade paguei a “flanelinha” que "cuidou" do meu automóvel e voltei desacorçoado da praia!
Cheguei à varanda de casa e fiquei pensando no perigo que corri e no desespero que passei. Juro que tive vontade de reclamar para algum defensor dos Direitos Humanos ou peticionar para a Assembleia Geral ONU a fim de propugnar pelo meu direito de poder frequentar a praia sem nenhum chato para perturbar. Conclui que o melhor mesmo era ficar na minha. Deixei os maus momentos para trás e fui para os fundos de casa onde mergulhei na piscina.
Serviu para esfriar e minha cabeça. E quando voltei a sorrir, como por encanto um sobrinho-neto apareceu do nada e mergulhou, jogando água nos meus olhos, outro bateu com o pé no meu cotovelo e minhas outras duas sobrinhas-netas resolveram jogar vôlei na piscina. Eu nem me importei. Sai de fininho da água, entrei no meu quarto, escrevi estas singelas linhas, e chorei!